Estarão as escolas portuguesas a preparar os seus alunos para enfrentar os problemas ambientais? Nunca as questões ambientais estiveram tão presentes nas nossas vidas, tanto a nível pessoal como profissional, a nível individual ou comunitário. A escola pode ter um papel fundamental em nutrir esta relação entre a natureza e os jovens. O contacto com a natureza, a interação com a sociedade, a interdisciplinaridade dos conhecimentos e o papel da comunidade, nomeadamente dos encarregados de educação, são ingredientes essenciais no processo.

Devemos proporcionar que os alunos interajam mais com espaços verdes e parques. Os alunos estiveram, durante um longo período de isolamento, privados de socializar e agarrados a equipamentos e ecrãs. Urge tirá-los das salas de aula, onde têm estado todo o tempo de máscara, e levá-los a respirar! Aumenta o conhecimento da biodiversidade e exploram-se as problemáticas ambientais locais. Os alunos começam a pensar local para agir global, porque os alunos ficam sensibilizados para as questões ambientais quando em contacto direto com elas.

Duas vezes por ano, fazemos a monitorização do rio local, rio Coina, na Primavera e no Outono. Fazemos análises bioquímicas à água e observamos a biodiversidade local e espécies invasoras, onde encontramos sempre novidades — a biodiversidade é sempre diferente e até já avistámos um javali. Este conhecimento local mostra aos alunos como funciona a natureza e a importância de a preservar, por exemplo observando o papel das espécies invasoras.

A participação em projectos e o abrir “as portas” a entidades exteriores enriquecem muito as aprendizagens. Colaborando com Associações, Universidades e ONGs, proporciona-se, por exemplo, a visita de cientistas à Escola e os alunos ganham um melhor acesso ao conhecimento científico. O contacto direto com os cientistas abre os horizontes dos alunos levando-os, muitas vezes, a escolher carreiras ligadas ao Ambiente, pois entendem melhor a importância destas temáticas. Este apoio e parcerias foi uma mais-valia e, mesmo em pandemia, a colaboração manteve-se através de videoconferências.

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O envolvimento das famílias nos projetos é igualmente importante para a valorização dos alunos na sua formação. Estes são transmissores exponenciais de conhecimentos para os seus pares e familiares. O interesse e desenvolvimento da literacia ambiental e a compreensão das problemáticas que nos rodeiam, especialmente na adoção de boas práticas no desenvolvimento sustentável, contribui para a melhoria do saber “ser, estar e fazer”. Temos que formar cidadãos proativos nas questões ambientais, pois não há um Planeta B.

A literacia faz-se de pequenos gestos que podem fazer grandes diferenças. Quando os alunos ficam sensibilizados para as atitudes corretas, tendem a transmiti-las aos seus pares e familiares, e este conhecimento exponencial é muito importante. Os alunos referem que dizem aos seus pais para mudar hábitos de consumo e encorajam-nos a rejeitar os plásticos, pois têm muita consciência da grande problemática da contaminação dos oceanos, sobretudo com os microplásticos, que podem “vir ter à nossa mesa”. Por isso, anualmente, tento trazer os pais à escola para conhecerem os Projetos que os alunos fizeram durante o ano. Os alunos ficam muito motivados em apresentar o seu trabalho aos pais e estes, além do orgulho de verem que os seus filhos fizeram trabalhos enriquecedores, ficam também mais sensibilizados para as problemáticas ambientais e provavelmente irão ter mais atenção em prol do ambiente.

A inovação implica desafios constantes, em que o principal é conseguir a atenção e a motivação dos alunos em todos os ciclos, mas sobretudo no ensino básico. Cabe aos professores, de todas as áreas, investir em abordagens inovadoras, como Project-Based Learning, Nature Based Solutions e Outdoor Education. Hoje já existem mecanismos financeiros que investem com retorno financeiro e ambiental em nature-based solutions.

No entanto, a escola pode continuar a melhorar, nomeadamente apostar na formação de professores de qualidade nesta área e no trabalho colaborativo entre professores e escolas diferentes. O trabalho interdisciplinar é difícil de implementar. Exige muita motivação, criatividade por parte dos professores e alunos, e tempo que, por vezes, tem de ser canalizado para outras tarefas. Diminuir a burocracia inerente a uma aula num contexto exterior à Escola seria benéfico pois, além da responsabilidade docente, que implica a tomada desta decisão, há uma série de contactos a fazer, por vezes com orçamentos que a Escola e os alunos não conseguem comportar — apesar de estar previsto o apoio para uma visita de estudo anual, este apoio é insuficiente. Cabe ao professor gerir e resolver, o que por vezes acaba por inviabilizar a visita de estudo.

Um bem-haja ao esforço de todos os professores, família, todas as entidades e cientistas que prestam um apoio às escolas numa época tão difícil que estamos a viver.

Professora de Ciências Naturais no 3º Ciclo do Ensino Básico. Finalista do Global Teacher Prize Portugal 2021

Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.