Vivo com a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) há vários anos – a nível pessoal e social, enquanto membro da Respira — Associação Portuguesa de Pessoas com DPOC e Outras Doenças Respiratórias Crónicas. Mas, apesar desta convivência, há coisas que continuo a não compreender. Sobretudo o facto de uma patologia que afecta perto de 70% dos fumadores continuar a ser largamente desconhecida da população. E, pior ainda, sub-diagnosticada.

Estamos a falar de 14,2% dos indivíduos adultos com mais de 40 anos. As últimas estimativas falavam de 800 mil portugueses. E, no entanto, estima-se que mais de 86% não tenham o diagnóstico de DPOC. É certo que, pelo menos, em muitos, a sua doença respiratória crónica está disgnosticada – como uma bronquite, ou um efisema – mas apenas 9.3% dos doentes em Portugal que se considera terem DPOC foram diagnosticados com uma espirometria. Um exame de diagnóstico que poderia e deveria ser feito no âmbito dos Cuidados de Saúde Primários.

Os números, de casos e de subdiagnóstico, não seriam tão altos, acredito, se não houvesse já a nível internacional uma perfeita consciência do peso da DPOC. A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que a DPOC é atualmente terceira causa mais frequente de morte no mundo, algo que a própria OMS estimava que acontecesse apenas em 2030. Se nada for feito, dentro de 15 anos, esta deverá ser a principal causa de morte o mundo.

A nível nacional temos dados do Observatório das Doenças Respiratórias que são taxativos: os custos directos associados à DPOC em Portugal ascendem a 366 milhões de euros. Os custos totais a 715 milhões de euros. E é isto que é preciso ter em conta – além dos elevados custos para o Serviço Nacional de Saúde, em consultas, internamentos, tratamentos, a DPOC acarreta custos pessoais na mesma ordem de valores, em perda de qualidade de ida, produtividade, bsentismos, presentismo, reformas antecipadas… vida, anos de vida, anos de vida com qualidade.

Na minha história de vida com a DPOC vi e vejo também trabalho a ser feito na procura de soluções. Por isso acredito que a Investigação e Desenvolvimento, de terapêuticas e técnicas de tratamento está num caminho positivo interessante. Já hoje, conviver com a DPOC é algo que é possível — mas é fundamental que os doentes sejam identificados, para serem tratados.

Vice-Presidente da Respira

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