Para garantir a renovação de gerações, actualmente, cada mulher deveria ter 2,1 filhos. Primeiramente, é impossível ter 2,1 filhos. Além disso, nem todas as mulheres podem ou desejam tê-los. Ou seja, este indicador, apesar de importante, não é tão linear quanto possa parecer numa primeira análise demográfica ou até mesmo sociológica.

Segundo o PORDATA, a idade média das mães à data do nascimento do primeiro filho no ano de 2022, foi de 30,8 anos. Recuemos até ao ano de 1990, em que foi de 25. Afinal, o que se passava há pouco mais de 30 anos e não se passa actualmente? Terá que ver com a diferença do papel da mulher na sociedade e a sua transformação ao longo destes anos?

O Índice de Envelhecimento Humano em Portugal tem vindo a aumentar: no ano de 2022, fixou-se nos 183,5%. Ou seja, existem 183,5 idosos por cada 100 jovens. E, se é certo que a esperança média de vida da população aumenta de ano para ano, também é claro que há cada vez menos nascimentos. Basta olhar para o Saldo Natural – diferença entre o número de nascimentos e o número de óbitos – que atingiu o primeiro valor negativo no ano de 2007 (-1). Em 2022, foi de -40,6 sendo que, no ano anterior, tinha sido de -45,3, o pior de sempre.

A natalidade é afectada, evidentemente, por vários factores como a educação, o emprego e a habitação, por exemplo. Se a geração mais qualificada de sempre não encontra em Portugal o nível de vida que corresponde às suas expectativas, por que e como há de ter filhos?

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Vivemos num dos países da Europa onde as crianças passam mais horas por dia nos estabelecimentos de ensino desde muito pequenas. Isto, claro, quando há vagas para as crianças nas creches – raro nos dias que correm. Terei tempo para educar e cuidar dos meus filhos sem prejudicar a minha vida laboral?

Também são inúmeros os casos em que, infelizmente, mulheres são prejudicadas na sua vida profissional devido à gravidez. Terei problemas no meu emprego se decidir ser mãe?

A nossa pirâmide etária está praticamente invertida, o que tem e terá cada vez mais repercussões na Segurança Social e na sua (in)sustentabilidade. Serão as novas gerações as mais prejudicadas: não só não conseguirão emancipar-se, como terão de sustentar a população inactiva que tende a aumentar de ano para ano.

Os subsídios e o abono existentes são ilusórios para as famílias com filhos. São precisos sistemas laborais e fiscais mais virados para as famílias.

Discutir medidas de apoio à Natalidade é urgente, resolver as crises na habitação, na educação e no emprego também. E na saúde!

Os dados são preocupantes e estão à vista. Aparentemente, são poucos os que conseguem ver. A demografia tem de voltar à mesa de discussão. 10 de Março é amanhã.