A competitividade da Europa cresce de forma promissora. As empresas europeias têm vindo a modernizar as suas infraestruturas e, no contexto de uma escassez mundial de talento tecnológico, a Europa segue à frente dos Estados Unidos na formação e capacitação dos seus profissionais. Ainda assim, esta continua a ser uma questão que desacelera o caminho do crescimento.

As perspetivas de crescimento das empresas europeias são prejudicadas pela adoção inadequada de tecnologia, conhecida como “défice tecnológico”. Esta situação faz com que fiquemos para trás comparativamente com outras geografias, especialmente comparados com empresas norte-americanas. A tecnologia tornou-se um elemento central da estratégia de crescimento das empresas e os líderes empresariais devem adaptar-se, e rápido. Vejamos tecnologias como a IA generativa: as empresas estão a explorar como a utilizar, mas se realmente quiserem extrair valor dela, os seus negócios terão necessidade de um forte core digital de infraestrutura em cloud, segura e com os dados disponíveis. Isto significa colocar a tecnologia numa posição de destaque na sua estratégia empresarial. Significa dar prioridade a tirar verdadeiro partido da tecnologia no desenvolvimento de novos produtos, serviços e modelos de negócio para impulsionar o crescimento sustentável.

De acordo com um novo estudo que realizámos, as empresas europeias poderiam gerar até 3,2 biliões de euros em receitas adicionais até 2024 se reduzissem o défice tecnológico em comparação com as suas congéneres norte-americanas. Durante demasiado tempo, a tecnologia foi encarada como uma alavanca para a otimização de custos, e não como um motor de crescimento. Atualmente, todas as estratégias conduzem, e são conduzidas pela tecnologia. Para começar a colmatar esta lacuna, as empresas europeias devem compreender e abordar a dinâmica que alimenta este défice tecnológico.

Temos estado a analisar a origem desta diferença fundamental que se revela, especialmente quando nos comparamos com o outro lado do Atlântico, enquanto conversamos com colegas e clientes sobre o que pode ser feito numa perspetiva empresarial europeia. Em última análise, como líderes empresariais, teremos de nos concentrar em três áreas principais:

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Liderar pelo exemplo. Dada a importância da tecnologia na estratégia empresarial, o conhecimento tecnológico nos conselhos de administração (CA) é fundamental. O papel de um CA é criar valor a longo prazo, estabelecer uma visão, definir a estratégia e supervisionar a sua execução. Neste contexto, os administradores devem tomar decisões informadas e orientar as suas organizações sobre como criar valor a partir da tecnologia. No entanto, a nossa análise mostra que 33% das empresas europeias inquiridas não têm quaisquer membros do CA com experiência em tecnologia, em comparação com apenas 19% das empresas norte-americanas. Liderar pelo exemplo significa integrar a tecnologia no ADN da empresa. Tornar obrigatória a formação em tecnologia para a equipa executiva e o conselho de administração, enviando uma mensagem clara ao resto da organização sobre a importância da aprendizagem contínua neste espaço. E, depois, acompanhar o talento nessa viagem, estabelecendo objetivos de aprendizagem mensuráveis ​e permanentes para todos os colaboradores.

Aproveitar a oportunidade. As empresas europeias atribuem uma menor percentagem dos seus rendimentos a investimentos em Investigação e Desenvolvimento (I&D), o que aumenta a disparidade. Em 2017, as empresas europeias ficaram 70 pontos-base atrás das suas congéneres norte-americanas em termos de investimentos em I&D medidos em percentagem das receitas. Em 2022, esta diferença duplicou, atingindo 140 pontos-base, representando 147 mil milhões de dólares. Isto poderia explicar por que razão apenas 17% das empresas europeias estão atualmente preparadas para escalar a IA Generativa e aproveitar os seus benefícios, em comparação com 30% das empresas dos EUA, de acordo com um inquérito realizado a mais de 2300 executivos.

Aproveitar a oportunidade é também compreender que a tecnologia pode desempenhar um papel fundamental na aceleração da I&D. Por exemplo, tecnologias como a cloud, a IA e a computação quântica podem ajudar a promover a descoberta de medicamentos e a criar materiais mais sustentáveis no setor químico, acelerando as agendas de sustentabilidade. O que importa não é tanto o montante absoluto investido em I&D, mas a parcela das receitas que lhe é atribuída e, mais importante, como é utilizada.

Usar os nossos pontos fortes. Devemos valorizar o excelente trabalho que a Europa está a realizar e como tirar partido dele para reduzir as diferenças. Existem aqui duas áreas principais que são a qualificação e a sustentabilidade. Os nossos estudos mostram que estamos a ultrapassar as suas homólogas norte-americanas em vários aspetos-chave das operações baseadas na tecnologia. Por exemplo, ultrapassam em 10% quando se trata de extensos programas de formação tecnológica. Vários relatórios destacaram a liderança da Europa relativamente à América do Norte em atividades ESG, incluindo a aplicação de medidas de sustentabilidade e de redução de CO₂. Outro exemplo é a ampliação da vantagem europeia em relação ao fabrico inteligente. Neste sentido, a Alemanha está na vanguarda da transformação ciberfísica no fabrico. A colaboração entre o governo alemão, o meio académico e as associações industriais levou a iniciativas — como a Industrial Twin Association – que fazem a ligação de produtos industriais físicos ao mundo digital.

A situação da Europa é única em muitos aspetos: diversidade extraordinária e um rico xadrez de culturas. Temos de tirar partido destes pontos fortes e potenciá-los a uma muito maior escala por via da incorporação e vivência dos pontos essenciais que referi atrás, gerando mais e novo crescimento sob pena de nos tornarmos “o museu do mundo”. Uma expressão de Paulo Portas que não resisto a usar.