Poderia começar de modo menos sério repetindo o lema dos «golpes, tachos e cunhas» que marcaram a longa e abusiva tomada do poder pelo PS há oito anos, quando o político profissional António Costa tirou da manga o golpe da «geringonça» que ele havia congeminado antes de ser conhecida a vitória da Aliança Democrática (PSD-CDS). Com efeito, esse golpe só prevaleceu em 2015 pois a presidência de Cavaco Silva já entrara nos seis meses finais do seu mandato e não podia dissolver o parlamento nem convocar nova votação…

Em suma, aquilo que começou mal não podia deixar de correr pior e acabar pessimamente: ninguém o sabe melhor que o primeiro-ministro demissionário apesar das suas óptimas avaliações que poucos serão a apreciar… Peço então licença para remeter os leitores para um artigo que publiquei há pouco tempo acerca da democracia enquanto sistema político.

Não diz especificamente respeito a Portugal mas aplica-se totalmente à nossa actual crise política onde um regime democrático conquistado militarmente cedeu, após meio século, ao poder fáctico de que o PS se apoderou, ao mesmo tempo que deu o «golpe da geringonça» e açambarcou os «tachos» e as «cunhas»!

Com efeito, a crise palpável do funcionamento do presente regime político-partidário português corresponde cem por cento, ao cabo de cinquenta anos, às teses dominantes acerca das limitações do ideal democrático. E se já assim foi no tempo dos nefastos governos socialistas de José Sócrates (2005-2011), desta vez é pior: enquanto a pandemia continua, estão aí as guerras a contribuir maciçamente contra a normalidade económica.

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São milhares de milhões de dólares e de euros acompanhados pela perda de valor dos produtos oriundos dos países massificados, como a Índia e a China, e as guerras em curso, desencadeando assim a inflação e as especulações de toda a ordem, com as conhecidas crises da saúde, da escola, da habitação, etc.! Entretanto, a dívida externa portuguesa explodiu desde 50% no tempo do governo socialista da época (2000) até mais de 130% do PIB em 2011, quando o actual PS só disfarçou a dívida com a inflação actual.

Efectivamente, a crise política generalizada dos regimes liberais no início do século XX tinha levado, directa e indirectamente, às guerras mundiais e ao advento dos movimentos políticos ditatoriais, fossem eles de «esquerda» ou de «direita», como o comunismo, o fascismo e o nazismo… Essa crise volta a espelhar-se cem anos mais tarde, em Portugal e não só, sob a forma da crescente separação entre os partidos e o eleitorado e entre o governo e a gestão sócio-económica do país, sucumbindo ao novo idioma woke e trocando a saúde pública pelos mictórios multi-sexo…

Como o título sugere, uma crise como a que enfrentámos nos últimos oito anos, imediatamente após à superação da crise geral de 2008 ao mesmo tempo que outros países, não pode deixar de remeter para a inoperância governamental e para a emergência, cada vez mais evidente, do submundo partidário e dos «tachos» e «cunhas», encarnados pelo número crescente de membros do governo PS e por colaboradores próximos, exibidos às vezes pelos tribunais, como sucedeu há pouco tempo fazendo cair António Costa.

Tanto ou mais do que noutras organizações e empresas, o mergulho do actual regime político na especulação monetária multiplicou as falências sem suporte, desde os bancos às grandes empresas. Simultaneamente, a corrupção larvar, que nunca deixara de existir nas organizações partidárias e para-estatais, posteriores aos cinquenta anos de ditadura corporativista, revela-se actualmente em grande massa, obrigando à expulsão de membros activos dos governos socialistas, bem como da função pública e de profissões liberais.

Não é à toa, portanto, que tais organismos e respectivos disfuncionamentos de toda a ordem afectam a generalidade dos sectores sociais, desde a infância e as escolas ao ensino superior em crise de qualidade manifesta até ao vasto sector da saúde, que envolve desde os profissionais aos pacientes e, talvez mais relevante ainda, ao número sempre crescente de idosos sem residência e frequentemente sem família nem meios!

Mais recentemente, enquanto o governo socialista entrega a economia ao turismo estrangeiro, o qual cresce mais do que qualquer outro sector em detrimento de todos menos a restauração e o alojamento, trata-se cada vez mais do emprego de imigrantes mal pagos, sendo a produtividade dessa economia das mais baixas do país, se não a mais baixa, com o aprofundamento manifesto do fosso entre «ricos» e «pobres».

Foi assim que a actual crise levou ao inevitável advento de uma massa «populista» cada vez mais numerosa e activa, avaliada pela última sondagem em 15% de deputados da «direita populista», exactamente como em França, a eleger para o próximo parlamento daqui a pouco mais de dois meses! Ao mesmo tempo, aumenta a «invasão de imigrantes» que alimentam relações sociais tanto mais opostas quanto pobres.