Por quanto tempo mais os responsáveis políticos acham que vão conseguir exigir aos jovens portugueses e aos que nos visitam de fora que vivam de acordo com a velha máxima “deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer”?
Se já há um ano a questão era premente, agora, com o processo de vacinação em velocidade de cruzeiro e depois de mais de um ano de pandemia, é obrigatório tomar uma decisão sobre as condições de reabertura dos locais de diversão noturna. Não faz qualquer sentido que os mais jovens sejam os grandes sacrificados no desconfinamento. Até porque, como a realidade começa a demonstrar, não estão mais disponíveis para acatar regras absurdas.
A questão é simples: ou as autoridades (Governo e DGS) deixam de lado a preguiça de nada decidir e encontram regras para a reabertura de bares e discotecas, ou as festas e ajuntamentos vão multiplicar-se um pouco por todo o país, sem regras e sem controlo.
E não vale a pena virem com apelos à solidariedade entre gerações ou ao bom senso. É que os jovens não são parvos e já perceberam que os avós e pais estão vacinados e que falta de senso é achar-se que eles devem ficar o resto da vida em casa, privados dos prazeres próprios da idade.
O que as autoridades estão a impor a toda uma geração é o absurdo de verem os pais sair com os amigos numa bela noite de verão para jantar fora, deixando-os sozinhos a tomar conta da casa e, na melhor das hipóteses, a ver um filme até que o sono apareça.
Há uma diferença entre responsabilidade e seguimento de regras estúpidas e os jovens sabem bem distinguir uma coisa da outra. Sabem que o que lhes está a ser pedido é absurdo. Sabem que é por indiferença que as autoridades mantêm fechados os locais de diversão noturna. E como sabem tudo isto vão reinventar os seus próprios locais de diversão. Não só não os critico como os compreendo. Não deixo, no entanto, de notar que a inação das autoridades a este respeito representa o maior perigo que enfrentamos neste momento. Não, não são os jovens que são irresponsáveis. Governo e DGS é que são preguiçosos e, neste caso, imprudentes.
À medida que o verão for avançando, o fenómeno das festas improvisadas vai aumentar. Não pensem que vão ter um polícia para dispersar cada grupo de jovens que, de Norte a Sul e ilhas, se vão juntar em festas e botellons. Não vai haver forças policiais suficientes para o fazer e ainda bem. Poupem os polícias e trabalhem num bom plano de desconfinamento para os espaços de diversão para os jovens.
Quando se indignarem com festas improvisadas, pensem que os jovens que lá estão o fazem a bem da sua sanidade mental. Quem não teve 18, 20 ou 25 anos que atire a primeira pedra. E, antes de arrumarem este tema na gaveta da irrelevância, fiquem com um número: 53% dos estudantes do ensino superior admitem indícios de problemas mentais graves. Este e outros dados foram divulgados pelas Associações e Federações Académicas e são alarmantes. Há uma segunda pandemia no ar, a atacar o nosso futuro, que se chama doença mental. São os mais novos as principais vítimas desta pandemia. É nossa obrigação devolver-lhes a juventude que lhes foi tirada há mais de um ano. Dá trabalho pensar em regras que funcionem? É o mínimo que temos que exigir a quem nos governa.