A Inteligência Artificial (IA) é já uma buzzword dos tempos modernos, que gera tanta surpresa como receio.

O tema é polémico e atual, mas não é novo. Longe vão os dias em que o robô Sophia espelhava, por si só, o rosto da inteligência das máquinas.

Hoje, a evolução da Inteligência Artificial em áreas mais específicas debate-se nos mais diversos círculos do dia-a-dia, dividindo opiniões. Das mais recentes inovações, listam-se as aplicações lançadas pela OpenAI, como o Chat GPT ou o Codex, que se juntam a tantas outras, mais ou menos controversas.

As áreas de aplicação da Inteligência Artificial são, de facto, vastas, e vão desde a segurança, com o reconhecimento biométrico, às artes ou à saúde, com um forte impacto no diagnóstico médico. E quando o tema é saúde, enquanto nutricionista, não posso deixar de sentir o seu impacto.

Precisão e rapidez: Machine Learning ao serviço da saúde

A Machine Learning é uma das áreas que mais tem evoluído e que mais tem tido impacto no nosso dia-a-dia. Entre as vantagens do uso de Machine Learning na saúde estão os diagnósticos, cada vez mais rápidos e precisos. Não apenas nos exames, assistidos por computadores, mas também nos resultados, dando um forte apoio em momentos de tomadas de decisão médicas.

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Mas nem aqui há uma substituição total do papel humano. Com impacto positivo no diagnóstico precoce, por exemplo, de cancro, e com aplicação em várias áreas médicas – como oftalmologia, cardiologia, ginecologia, etc. – esta ajuda computacional já deu provas da sua utilidade, salvando vidas.

Health Techs: uma abordagem people-centric, baseada em tecnologia

Durante a pandemia, tivemos muitas provas do contributo da tecnologia. Durante este período, muitos pacientes foram obrigados a adiar ou renunciar a uma ampla variedade de serviços, incluindo tratamentos de emergência de condições agudas, check-ups de rotina e exames recomendados de prevenção do cancro.

E foi precisamente aqui que a tecnologia entrou em ação: ajudando a atenuar os efeitos de longo prazo relacionados com a falta de intervenção precoce, de gestão de doenças crónicas e de condições não diagnosticadas.

Em apenas dois anos, testemunhámos uma evolução sem precedentes da telemedicina e do acompanhamento de pacientes à distância. Assistimos a um crescimento exponencial das Health Techs – startups – com o objetivo de solucionar problemas do setor da saúde recorrendo à tecnologia. Estas têm atuado em diferentes frentes, desde a modernização e gestão de clínicas e hospitais aos avanços relacionados com exames e autocuidado, entre outros exemplos.

A startup Nutrium tem as suas raízes assentes precisamente neste princípio: unir profissionais de nutrição e pacientes, com recurso à tecnologia. Através de um software e de uma aplicação móvel, os profissionais de nutrição podem acompanhar os pacientes à distância, garantindo uma relação mais próxima e uma maior motivação ao longo de todo o processo. Diria que esta é a parte mais relevante da tecnologia na saúde: a forma como ajuda os humanos a terem mais tempo e ferramentas para se focarem na humanização dos serviços para pacientes.

A revolução tecnológica vem substituir os profissionais de saúde e nutrição? Duvido muito, já que o que nos faz humanos vai muito para além do que a inteligência artificial pode compreender.

Dificilmente será criado um robô capaz de perceber, por exemplo, que alguém não consegue atingir os seus objetivos de alimentação saudável porque tem uma pastelaria no caminho para casa. Só um humano sabe o quão difícil é resistir a uma montra colorida e ao cheiro de bolos acabados de fazer.

Acredito, sim, que os papéis podem transformar-se, que é como quem diz: evoluir para uma realidade em que nós, seres humanos, e as máquinas quebram fronteiras e se unem para melhorar vidas.

Manuela Abreu, Diretora de Nutrição na Nutrium.

Desde que me formei em nutrição sempre senti que faltava algo. As minhas competências eram várias, mas não eram suficientes para ter o impacto que queria na alimentação das pessoas. Foi esta vontade que me levou onde me encontro hoje: sou Diretora de Nutrição na Nutrium, a maior plataforma de nutrição da Europa, onde lidero uma equipa internacional de nutricionistas com o objetivo de implementar um programa inovador que dá acesso à alimentação saudável a milhares de pessoas. Adoro a natureza, mas, apesar de viver em frente à praia, tenho mais amor pelo campo. Sou escuteira desde os 6 anos e adoro animais, especialmente o Hortaliça, o meu coelho de estimação.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõem o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.