Quando começamos a trabalhar existe uma falsa sensação de liberdade financeira. Achamos que agora, que temos um salário no fim do mês, somos capazes de fazer o que quisermos. Entretanto, no meu caso, rapidamente essa ideia desapareceu ao fim do segundo mês de trabalho, quando me apercebi que teria de continuar a trabalhar até à reforma para pagar as minhas contas e que iria apenas programar a minha vida, isto é o meu lazer, para ser aproveitado aos fins de semana ou quando tirasse férias.

A verdade é que, a descrição do meu sentimento inicial de jovem trabalhadora sobre o futuro já está previamente estabelecido pela sociedade. Será o expectável e o designado “normal de acontecer”. E, quanto a isso, temos a certeza de que será assim, a não ser que façamos algo diferente na nossa carreira e com o nosso dinheiro.

A minha vida mudou quando descobri o conceito de liberdade ou independência financeira, sendo possível o mesmo sendo assalariada e através dos investimentos. Seguindo assim a filosofia do “Movimento F.I.R.E.”, que pretende através da poupança e do aumento dos nossos rendimentos, alcançar a reforma antecipada. Para conseguir isso, precisava de investir em ativos com boa rentabilidade o equivalente aos meus gastos anuais, multiplicando depois esse valor por 25.

Poderia depois despedir-me de empregos de que não gostava, escolher onde queria trabalhar, trabalhar apenas em part-time ou estar, simplesmente, a beber cocktails na praia (ideia que nunca me fez sentido mas que, se quisesse, podia então fazê-lo).

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Ao trabalhar para várias empresas em Portugal, apercebi-me da falta de flexibilidade das mesmas, pois a simples tarefa de ir a um banco ou aos correios era muito complicada e, mesmo que fosse possível fazer as minhas tarefas em outro horário, apenas tinha a minha hora de almoço para tratar desses assuntos. Escusado será dizer que os locais onde trabalhava ficavam sempre longe da minha residência e, por isso, nunca pude fazer essas tarefas pessoais.

Faltava-me a liberdade geográfica, onde poderia estar a trabalhar em outro local. Porém, a pandemia veio alterar as dinâmicas de trabalho e com o home-office e houve quem tivesse obtido essa sensação de liberdade geográfica, mas, com o regresso à normalidade, muitas pessoas tiveram que voltar para os escritórios ou pelos menos estarem num modelo híbrido, mesmo que não seja da vontade delas.

Começar a trabalhar online, tendo arriscado num negócio novo e tecnológico, permitiu-me obter o melhor dessas sensações, combinando assim, as possíveis liberdades: geográfica, financeira e, no fundo, de espírito.

Aconteça o que acontecer, está nas nossas mãos, procurar e fazer algo diferente do que deixarmo-nos caminhar para um futuro destinado apenas à normalidade. O mundo mudou, as profissões são diferentes, por isso procure conseguir obter o melhor das liberdades nesta evolução que vivemos.

Ariana Nunes – Educadora financeira. Especialista em finanças pessoais e crédito.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.