Facto 1: O meu filho anda numa escola pública no 10º ano. Como todos os alunos em Portugal passou grande parte do ano letivo em casa, teve 15 dias de férias extra mesmo coladinhas às férias de Natal e era suposto acabar as aulas mais tarde, no fim de junho, para compensar os acidentes de percurso deste ano atribulado.

Facto 2: Na turma do meu filho, a última semana de maio foi vivida num ambiente de fim de ano. Segunda-feira, dia 31, as aulas deveriam ter começado às 8:15 horas e terminado às 16:00 horas. Às 9:30 , o meu filho chegou a casa com a boa notícia – julga ele – de que as aulas estavam terminadas. Todos os professores que deveriam dar as aulas entre as 9:30 e as 16:00 avisaram que não iam aparecer. Alguns deles já avisaram mesmo que por este ano a coisa está feita. Não voltam mais à sala de aulas.

Facto 3: Na prática, em disciplinas nucleares, a turma do meu filho já acabou o ano letivo. Este ano, afinal, as aulas acabaram um mês mais cedo. Para eles, que têm 15 e 16 anos, é uma festa. Não estão a avaliar o facto de estarem no 10º ano, ano em que as notas finais contam para a média de entrada na universidade. Para eles está vedada a possibilidade de subirem a nota no teste de final de ano. Porque afinal esses testes não vão existir. Paciência.

O senhor ministro da Educação pode fazer a conversa que quiser sobre as maravilhas da escola pública e todos os que a defendem também. Podem inventar todas as justificações para os resultados dos rankings. Podem até vir com a conversa de que as escolas privadas têm melhores resultados porque selecionam alunos e inflacionam notas. Mas a verdade é que na escola pública o problema não são os alunos. Em vez de se procurar a excelência, procura-se antes satisfazer o sr. Mário Nogueira da Fenprof e assim temos o caos instalado na seleção de professores. Sim, temos um problema de seleção que explica muita coisa, mas não é de alunos, é de professores, esta é a seleção que faz a diferença nas escolas. Há um total desleixo do Estado na gestão das escolas e do seu corpo docente. Não há um esforço mínimo para que os alunos tenham bons resultados.

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Em nenhuma escola não pública acontece que, num dia inteiro de aulas, só um professor apareça para trabalhar. Nenhuma escola não pública dá férias aos alunos um mês antes das aulas terminarem, pelo contrário, esse é o tempo para um esforço final. Esta é que é mesmo a diferença entre escolas públicas e privadas.

Seguramente que todos os professores do meu filho têm as suas razões para faltar. Um deles até me parece que falta justificadamente. Mas alguém acredita em motivos sérios que justifiquem a ausência de tantos professores ao mesmo tempo, justamente no final do ano?

Eu mudei o meu filho de uma escola privada para a escola pública por opção. Achei, e ele também, que era a escola certa nesta fase da sua vida. Tenho muita pena de dizê-lo, mas se isto é a noção de igualdade e direitos que a nossa classe política tem, estamos conversados. A diferença entre uma escola e outra não é grande, é abissal. E a diferença não tem nada a ver com os alunos, tem a ver com a própria conceção de escola. A falta de autonomia transforma as escolas do Estado em depósitos de alunos, onde ninguém se sente responsável nem ninguém ensina a responsabilidade aos alunos. Dar explicações ou prestar contas é coisa que nem ocorre.

A triste realidade é que o Estado português é uma entidade pouco recomendável e os seus representantes políticos são o rosto da irresponsabilidade e da incompetência. A culpa é nossa, de todos nós que não nos indignamos e deixamos andar.

E assim este país continua e continuará a ser o país em que  as oportunidades só surgem para quem tem conhecimentos e dinheiro. Quem não tem fica eternamente dependente dos favores de um Estado que cultiva a mediocridade para sobreviver.