Temos lido com atenção as notícias e opiniões sobre a vida do Montepio Geral – Associação Mutualista (MG-AM), em particular as que se focam nas questões mais estruturantes ou decisivas para o seu porvir. Temos reflectido sobre as suas próximas eleições e os enormes desafios que se vão colocar nos anos vindouros.

Desde o princípio, mas sobretudo no actual contexto e na abordagem ao próximo acto eleitoral, defendemos um maior espírito de procura de união, entendida como congregação de esforços para a realização da missão e fins da instituição. Pode até achar-se que é uma utopia, tendo em atenção as sequelas da última década e as interrogações legítimas sobre processos eleitorais passados, em que participámos de forma activa. Acontece que, muitas vezes, o progresso institucional passa pela transformação de utopias do passado em realizações para assegurar o futuro. A própria fundação do Montepio reflecte isso mesmo. Devíamo-nos inspirar por exemplos e práticas como as de Álvaro Botelho que, em 1840, fundou, com o idealismo e arrojo necessários, esta Associação Mutualista.

Não foi, porém, esse o entendimento que terá resultado da apresentação de quatro listas ao próximo acto eleitoral.

É uma oportunidade perdida, se tivermos em conta questões tão soberanamente decisivas para os associados, como sejam, a avaliação justa e racional dos principais activos, as maiores exigências de supervisão prudencial, o cumprimento até 2030 de um Plano de Convergência  e das exigências quanto à posição accionista no banco Montepio, a (in)capacidade tendencial para se poder beneficiar de activos (não transaccionáveis) por impostos diferidos resultantes de prejuízos fiscais reportáveis, e a necessidade de rendibilizar e valorizar as participações nas áreas bancária e seguradora.

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Por tudo isto, atrevemo-nos a pensar numa perspectiva para assegurar um mínimo, mas significativo, compromisso de união na pluralidade. As candidaturas em confronto poderiam, ao menos, ser capazes de apresentar, conjuntamente, uma única lista para a Assembleia de Representantes (AR). Bem sabemos que a composição final da AR resulta do método de Hondt, reflectindo a proporcionalidade das listas escrutinadas. Mas, o que propomos seria uma via de, tentativamente, encontrar o equilíbrio para fortalecer este novo órgão estatutário, em que são discutidos e votados os documentos e os momentos fundamentais do MG-AM. Tal seria feito através da indicação e do convite a associados tecnicamente habilitados e eticamente idóneos, espelhando diferentes formações, experiências e gerações, através de uma escolha plural e consensual e verdadeiramente independente de condicionalismos prévios. Acreditamos que uma lista assim constituída para a AR e claramente sufragada pelos eleitores, garantiria a legítima diversidade do universo associativo do Montepio Geral e um mais estável e consistente primado da defesa intransigente dos seus stakeholders. Em momentos excepcionais, como o que o MG-AG ora enfrenta, torna-se imperativo procurar alcançar (ao menos, transitoriamente) soluções excepcionais e de profundo sentido mutualista. Com a gestão e fiscalização entregues à lista vencedora, o caminho, que aqui propomos, não tem em vista anular ou esbater as diferenças entre os membros da AR, antes procura contribuir para uma unidade (que não unicidade), que torne mais eficaz a corporização e entrosamento deste novo e decisivo órgão estatutário na vida do MG-AM e que reduza o risco de qualquer membro da AR ser rotulado de membro de facção, tantas vezes injustamente.

Aliás, os próprios Estatutos, que introduziram este órgão, reflectem essa possibilidade ao estipularem que “a candidatura a titulares da Assembleia de Representantes é feita em separado e não obriga à apresentação de lista aos restantes Órgãos, que deve ser conjunta”.

Em suma, as eleições numa instituição com a natureza e a missão fundacional do MG-AM não são um fim em si mesmo, não se podem esgotar na conquista de um poder transitório, nem devem cristalizar ou estimular divisões e sectarismos com que, seguramente, ninguém ganha. Um acto eleitoral no MG-AM é agora, mais do que nunca, uma oportunidade para restaurar a plena confiança dos seus associados, credibilizar o sistema mutualista e reganhar o respeito dos Portugueses. Seria, também, uma forma de reforçar um projecto colectivo consistente e duradouro de longo prazo e não ceder à tentação da superficial e volátil óptica de mero curto prazo. Por fim, o Montepio deve aprofundar a sua identidade radicada no código genético do mutualismo, assente na prevenção do futuro e na inovação da oferta face a novas necessidades dos associados. Seria, por fim, um sinal para robustecer o valor ético e institucional de orgulho de pertença, que a história do Montepio justifica e merece.