1 O mundo não está para infantilidades. As notícias que diariamente nos chegam dos quatro cantos do globo mostram à evidência que algo de estranho se está a passar e que o mundo está a mudar a um ritmo muito acelerado. Na recusa em ler os factos e compreender de que forma é que eles têm impacto na nossa vida, fazemos como as crianças que tapam os olhos com o braço para não verem o que não lhes agrada, julgando que não vendo fica tudo na mesma.

O problema é que a reação infantil do Ocidente perante o cenário de guerra que enfrentamos pode sair-nos muito cara e ter consequências graves, alterando definitivamente o nosso modo de vida. Faz-me impressão a resistência dos políticos em falar verdade aos povos. Não, a inflação não é um epifenómeno que vai passar em breve. Sim, a guerra na Ucrânia vai obrigar-nos a fazer sacrifícios e a viver pior. Sim, esse é o preço a pagar para mantermos o apoio à Ucrânia e, assim, aos nossos valores democráticos e à liberdade que tanto prezamos. Resumindo, não há almoços grátis e o apoio a Zelenski vai mesmo custar-nos caro. É a vida.

A consciência da situação atual e dos riscos que ela comporta é fundamental para que, quando as dificuldades se acentuarem, as opiniões públicas ocidentais possam manter-se firmes no apoio à Ucrânia e na certeza de que esse é o lado certo desta guerra. O pior que pode acontecer é matarmos as nossas democracias por causa do egoísmo das nossas sociedades, indisponíveis para fazer sacrifícios.

2 Dá notícia e parece irreverente, mas é só estúpido. A nova moda de andar a atirar produtos alimentares a obras de arte por esse mundo fora, em nome da salvação do planeta, é um péssimo serviço à causa ambiental.

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Atirar sopa de tomate aos Girassóis de Van Gogh ou puré de batata a Monet são ações que provocam irritação com os ativistas e com a causa. Transformar a defesa do ambiente numa oposição entre o património cultural e o património ambiental é de uma ignorância que brada aos céus e que acaba por radicalizar uma preocupação que devia ser de todos.

O mais triste é que por trás destas ações não há pensamento nem estratégia. O tiro à obra-prima é um triste sinal da infantilização em que as nossas sociedades ocidentais estão transformadas. O que estes ativistas não percebem é que, em nome da visibilidade, estão a destruir a mensagem.

3 Na sequência da divulgação do estudo da Pordata sobre a pobreza em Portugal, publicado na semana passada, Gonçalo Matias, Presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, deu uma entrevista que não nos devia passar ao lado.

Gonçalo Matias diz-nos que os números divulgados pelo estudo deviam fazer tocar as campainhas de alarme no país. Quatro milhões e meio de pobres num país de dez milhões é um retrato do país que nos devia levar a fazer uma reflexão profunda. As transferências de dinheiro público para subsidiar os mais pobres atenuam o problema, mas não atacam as causas da pobreza.

Entre as muitas causas para este flagelo, Gonçalo Matias identifica uma: “O défice demográfico é de tal forma grave e estrutural para o país, que era indispensável um acordo entre partidos. Um acordo sobre demografia, natalidade, imigração, era muito importante”.

Uma sociedade envelhecida não tem energia criativa. Sem atacar o problema demográfico não conseguiremos renovar o nosso tecido económico, atrair talentos e produzir riqueza. Se queremos mesmo mudar o país, não é possível fazê-lo só a olhar para os resultados da eleição seguinte. O inverno demográfico que se agrava há décadas em Portugal é um problema que os nossos políticos se recusam a encarar e assim vamos alegremente caminhando para a falência do país.