Como era de temer, a última eleição para a presidência do PSD – o antigo Partido Popular Democrático fundado logo após o 25 de Abril no seguimento da «Ala Liberal» criada por Francisco Sá Carneiro antes de este se demitir de deputado do parlamento marcelista – não augura nada de novo na cena partidária portuguesa e menos ainda em qualquer mudança político-económica significativa em Portugal. Tendo em conta a forma como o novo líder foi agora eleito, não era de esperar nada de diferente nem que nos convencesse.

Além de não ter tido experiência governativa, como aliás é também o caso de Rui Rio, a quem nunca se ouviu defender o notável esforço do governo Passos Coelho para estancar a hemorragia financeira e a vaga de corrupção provocadas por Sócrates, Luís Montenegro é outro exemplo de agente político local sem visão nacional nem europeia e muito menos internacional. Inversamente, Jorge Moreira da Silva participou no governo Passos Coelho ao lado de governantes inovadores como Poiares Maduro e após isso fez uma longa experiência internacional, o que poderia ter atraído os membros do PSD… mas não foi o caso.

Pelo contrário, os resultados da votação de sábado passado revelaram-se na hora da verdade demasiado escassos para lançar um futuro «leader» nas presentes condições em que o país se encontra, no seguimento de uma pandemia que está longe de ter desaparecido, em plena crise bélica, económica e inflacionária: em suma, a eleição do enésimo presidente do PSD resumiu-se a um limitado exercício destinado a manter nos seus lugares os agentes locais do partido sem a mínima incidência no cenário mundial e muito pouco a nível nacional.

Se não vejamos: perante a eleição para o segundo agente político mais relevante do país, inscreveram-se – isto é, pagaram a quota – 44.600 militantes mas só votaram cerca de 27.000 em todo o país, ou seja, 0,003% dos eleitores, praticamente metade dos que haviam participado no ano anterior em votação semelhante. Destes escassíssimos representantes do eleitorado nacional, Montenegro obteve quase três quartos dos votos (cerca de 20 mil) e Moreira da Silva pouco mais de 6 mil. Situações eleitorais como estas até desvalorizam a representatividade dos eleitos perante o grande público… Valham-nos os «media»!

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Este comentário pode parecer um pouco anedótico mas a comunicação social crê, possivelmente com alguma razão, que o nome do novo leader do PSD acabará por chegar aos ouvidos dos espectadores, o que em contrapartida pouco mais fará do que multiplicar o nome do eleito sem muito se conhecer das suas actividades e das suas ideias, tanto mais que, em princípio, Montenegro irá ficar fora do parlamento até 2024, onde chegou a ter um lugar saliente no tempo do governo Passos Coelho.

Em compensação, o novo líder do PSD irá encontrar-se em breve com Paulo Mota Pinto, que em princípio se manterá como «porta-voz» parlamentar do partido fundado a seguir ao 25 de Abril, entre outros por seu pai, o falecido ministro Carlos Mota Pinto… Na altura em que o BES abriu falência, o actual porta-voz do PSD chegou a ser falado sem conclusão para participar na administração do banco. Voltas que os políticos dão: a acumulação e/ou a troca de lugares entre o sector público e o sector privado, muito praticadas pelos partidos de governo, são é dos piores vícios do nosso sistema partidário: esperemos que Montenegro contribua para que isso cesse de vez.

Segundo o resumo jornalístico do discurso de vitória do novo líder do PSD, Montenegro optou por um estilo simultaneamente generalista mas enfático no qual repetiu banalidades que poderiam vir do actual primeiro-ministro, proclamando a terminar que «não vamos ser apenas a voz da oposição, vamos ser a voz da esperança, a voz do futuro»… Entre as respostas aos jornalistas, Montenegro foi obrigado a confirma o acordo de Rui Rio com o Chega para formar o actual governo açoriano…

Em vez disso, que poderá afastar os apoiantes de Moreira da Silva e da sua «fracção» Poiares Maduro, Montenegro deveria começar a abrir-se, tanto no domínio económico como cívico, às propostas que tem vindo a fazer com algum êxito um partido em vias de crescimento como a Iniciativa Liberal, junto de quem já sabe o que gasta o PS nestas matérias, incluindo o chamado badalado mas opaco «Plano de Reforma e Resiliência entre outras operações financeiras.

Resumindo, o legado deixado pela renúncia pessoal de Passos Coelho foi manifestamente incompreendido pelos seus sucessores, habituados pela «geringonça» à política de facilidades, remendos e propaganda, incluindo o financiamento da comunicação social. O problema do país é que o governo Passos Coelho também não foi compreendido por Rui Rio, o qual nunca chegou a perceber onde António Costa queria chegar… e chegou! Vão ser quatro anos péssimos e o pior será a propaganda mistificadora do PS.