Não é possível, claro que não é possível. Quatro anos de um presidente que, em debate, desrespeita os adversários e os manda calarem-se? Um presidente que não é capaz de condenar claramente a violência extremista? Um presidente acusado de assédio sexual e de colaboração política com racistas? Um presidente cuja família é suspeita de corrupção? Não, aos EUA não convêm um presidente desses — um indivíduo que, no fundo, não passa de um velho milionário de outras eras…

Ah, esperem. Talvez, antes de continuar, me convenha esclarecer uma coisa. Não estou a falar de Donald Trump, o presidente americano desde 2017. Estou a falar de Joe Biden, o candidato que o Partido Democrata propôs para substituir Trump em 2021, e que está à frente nas sondagens. Sim, durante o debate, Biden chamou “palhaço” ao seu adversário e mandou-o calar-se. Sim, Biden não foi capaz de repudiar sem ambiguidade a violência dos chamados Antifa, a quem deu a dignidade de serem apenas “uma ideia”. Sim, Biden é acusado de assédio sexual e durante anos, no congresso, colaborou com os representantes do Partido Democrático que, no sul dos EUA, era o partido da segregação racial. Sim, os negócios da família de Biden, que enriqueceu na política, são motivo de desconfiança.

Estarão já a pensar: mas para que serve lembrar estas coisas? Para nos dizer que Trump e Biden são a mesma coisa? Não, muito ao contrário. Vou dizer que são politicamente muito diferentes, e que faz todo o sentido, por isso mesmo, apoiar uma ou outra candidatura, independentemente da personalidade dos candidatos. Esse é o grande equívoco que o anti-trumpismo tem cultivado. A esquerda americana e mundial faz de conta que, neste momento, o problema dos EUA – e até do mundo — é a pessoa de Trump, supostamente mais malcriado, mais caótico, e mais escandaloso do que qualquer outro presidente. Como se a divisão e polarização política nos EUA ou a instabilidade e a mudança da relação de forças no mundo tivessem sido uma criação de Trump, e pudessem desaparecer com o fim da sua presidência. E sobretudo, como se os americanos que não subscrevem os pontos de vista da esquerda estivessem obrigados a sacrificar as suas preferências políticas para libertar a república do actual presidente. Nestas eleições, estaria apenas em causa retomar a “normalidade” interrompida por quatro anos de perturbação trumpista. Ora, isto é um embuste.

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