Com a crescente consciência sobre questões como mudanças climáticas, desigualdade social e sustentabilidade, novos empreendedores estão cada vez mais motivados a criar soluções que não gerem apenas lucro, mas também causem um impacto positivo na sociedade e no ambiente. Essa tendência é impulsionada por consumidores que estão mais conscientes e exigentes
Há 20 anos, muito pouco ou quase nada se falava, em Portugal, sobre inovação social, impacto, sustentabilidade, e muitas outras terminologias que, hoje, são comuns e correntes, quer no jargão corporativo, quer no dia a dia do cidadão comum.
A razão pela qual esta evolução aconteceu, durante os últimos 20 anos, pode dizer-se que se deveu à conjugação perfeita de diversos fatores que aceleraram a criação de um ecossistema único – ou seja um sistema de agentes e eventos, interligados, que se organizaram numa mesma direção ou objetivo comum – propício ao desenvolvimento e proliferação de iniciativas de inovação e transformação social e ambiental, progressivamente mais eficazes, e com modelos económicos sustentáveis. Alguns desses fatores foram os seguintes:
O desenvolvimento de investigação científica relevante, e de ferramentas que sistematizaram a prática de muitos anos, possibilitando a normalização de conceitos e a disseminação de metodologias geradoras de impacto;
Uma crescente consciencialização, por parte de académicos, gestores, governantes e sociedade civil, da importância de introduzir um paradigma económico que tivesse em conta não apenas a maximização do lucro, mas que, de uma forma mais ampla, se preocupasse com a geração de valor, o que necessariamente implica ter em consideração os interesses de todas as partes envolvidas nas operações económicas;
Alguns eventos e iniciativas aceleradoras do imperativo urgente da sustentabilidade e do impacto, como as crises financeiras que o Ocidente atravessou, no início do Séc. XXI, ou a publicação, em 2015, pela ONU, da matriz dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que veio criar uma ferramenta unificadora dos esforços de todos os agentes da Economia.
Mas a verdade é que esta evolução não começou nos últimos 20 anos. O aumento da produção nos últimos séculos trouxe, como é sobejamente reconhecido, evidentes ganhos de segurança económica. Todavia, a utilização da produção como indicador fundamental do desenvolvimento passou a gerar efeitos não esperados como, por exemplo, a pressão sobre os recursos. A par do desenvolvimento e crescimento económicos, surgiu uma nova geração de talento preocupada com os grandes desafios dos nossos tempos (ambientais, sociais, culturais, etc.). A verdade é que hoje, e para a geração atual, a segurança económica já não é suficiente para a sua realização (pessoal e profissional) e já não influencia radicalmente as suas decisões de consumo. Os resultados sociais e ambientais negativos, como consequência do foco excessivo na produção, passaram a estar no centro das discussões corporativas como, por exemplo, sobre a retenção de talento, e das reflexões sobre políticas públicas.
Por estas razões, os vários agentes económicos são hoje forçados a olhar para as preocupações sociais e ambientais como uma verdadeira oportunidade económica. Para as empresas, torna-se evidente a necessidade de serem sustentáveis para serem competitivas. O talento decide afetar o seu tempo em função de um propósito claro, o capital é alocado cada vez mais em função de um escrutínio baseado em critérios Sociais, Ambientais e de Governança (ESG) e os consumidores procuram cada vez mais produtos e serviços social e ambientalmente sustentáveis. O setor público já não pode negligenciar a exigência social e ambiental de eleitores e contribuintes, cada vez mais informados e exigentes.
Se assim é, torna-se importante olhar para as principais tendências neste domínio, e perceber como aproveitá-las na construção de um futuro mais sustentável:
No futuro, é provável que a maioria das start-ups sejam orientadas por objetivos sociais e ambientais. Com a crescente consciência sobre questões como mudanças climáticas, desigualdade social e sustentabilidade, novos empreendedores estão cada vez mais motivados a criar soluções que não gerem apenas lucro, mas também causem um impacto positivo na sociedade e no ambiente. Essa tendência é impulsionada por consumidores que estão mais conscientes e exigentes.
Para as grandes empresas, investir em práticas e negócios de impacto representa uma grande oportunidade económica. Ao desenvolverem novos negócios e práticas, social e ambientalmente responsáveis, estas empresas diversificam o seu portefólio e posicionam-se como líderes pela sustentabilidade. Esta abordagem pode melhorar a reputação da marca, atrair novos clientes, mais talento e investidores que valorizem a sustentabilidade. A Inovação Social Corporativa pode ser a resposta a esta necessidade.
A monetização do impacto social e ambiental pode gerar inovações, e modelos de negócios, que beneficiem os diversos agentes económicos. Start-ups e organizações de impacto têm o potencial de criar produtos e serviços que atendam a necessidades não satisfeitas, promovendo o desenvolvimento sustentável através de modelos inovadores. Esse cenário incentiva a formação de parcerias público-privadas, onde o setor privado assume os riscos financeiros e operacionais, enquanto o setor público pode beneficiar dos resultados positivos sem grandes custos iniciais. Estas parcerias permitem a alavancagem de recursos e expertise de ambos os setores, resultando em soluções eficazes e escaláveis para problemas sociais e ambientais.
O Yunus Social Innovation Center da Católica Lisbon School of Business and Economics está focado em acelerar estas tendências:
Capacitando iniciativas de impacto, na construção de modelos de negócios sustentáveis e escaláveis;
Apoiando o setor corporativo no desenvolvimento de novos modelos e práticas, segundo os princípios da Inovação Social Corporativa;
E desenvolvendo modelos de apoio ao setor público, na construção de abordagens sistémicas aos principais problemas sociais e ambientais dos nossos tempos.
Acreditamos que estes são os pilares de um paradigma económico, que ainda agora começou a ser desenhado. No futuro, provavelmente iremos olhar para muitas das teorias e ferramentas que hoje estão a ser construídas e aplicadas, e dizer – mas como é que não pensámos nisso antes? Por agora, esta é talvez a época que nos traz a melhor oportunidade de sempre de tornar esta visão uma realidade – a tecnologia num ponto de evolução que permite tornar o trabalho de transformação ambiental e social muito mais eficiente e eficaz; agentes económicos cada vez mais conscientes da necessidade; e ecossistemas de inovação social, já com níveis de maturidade interessantes, como é o caso de Portugal. As empresas e os governos que investirem agora nesta linha de atuação, serão os pioneiros que lideram o caminho para um futuro que, assim o desejamos, chegará depressa.