Muito se fala sobre um futuro mais sustentável. Mas qual o contributo que podemos dar para alcançar as metas europeias de descarbonização definidas? Torna-se urgente alterar o atual ritmo de emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera, para que o processo da descarbonização seja uma realidade nos próximos anos.
Nos últimos anos tem vindo a ser desenvolvido um conjunto de políticas globais que foi sendo materializado em diversos documentos, assumindo particular relevância no caso português, o Roteiro para a Neutralidade Carbónica, que define a neutralidade em termos de emissões de gases em 2050 e o Plano Nacional de Energia e Clima 2030, aprovado pelo Governo, em maio de 2020. Recentemente, a Comissão Europeia decidiu rever em alta o objetivo de redução dos gases de efeito de estufa de 40% para 55% até 2030, em relação a 1990.
Nesta matéria importa referir que Portugal foi o primeiro país a comprometer-se com as metas de neutralidade carbónica e estão a ser dados passos importantes para que as metas definidas possam ser alcançadas, assumindo particular relevância o processo de transição para a mobilidade elétrica. A título de exemplo, as políticas de incentivos à compra de veículos elétricos permitem a promoção e expansão da utilização deste tipo de veículos menos poluentes. Mas, também os fabricantes de automóveis, fruto da Lei Europeia do Clima 2030, estão a aumentar a produção e as opções de veículos elétricos disponíveis no mercado – mais autónomos, eficientes, versáteis e tecnológicos – permitem estimular a procura. O certo é que as soluções colocadas ao dispor da população em termos de mobilidade – coletiva, individual, partilhada ou suave – assentam cada vez mais na motorização elétrica.
E com o aumento do parque automóvel de viaturas elétricas em todo o território nacional, também a rede de carregamento disponibilizada aos utilizadores cresceu. E muito. A rede de carregamento de veículos elétricos mais do que duplicou neste último ano e atualmente cobre já 95% de todo o país, devendo chegar a todos os municípios nacionais muito brevemente. A entrada na fase plena de mercado ocorrida em 1 de julho de 2020, veio potenciar este desenvolvimento da infraestrutura de carregamento de acesso público, não só em quantidade como também em potência, o que permite oferecer aos utilizadores uma gama mais fiável de opções de carregamento de acordo com as suas necessidades do momento: normais, semirrápidos, rápidos e ultrarrápidos.
Portugal é provavelmente o único país que dispõe de um modelo que foi pensado exclusivamente para o desenvolvimento da mobilidade elétrica na sua plenitude. Esta diferenciação tem a ver com a universalidade e a interoperabilidade do modelo nacional que facilita a utilização, a gestão dos consumos efetuados por cada utilizador, quer utilizem a rede pública, privada de um condomínio ou das empresas, quer o desenvolvimento de novas soluções.
Assim, quando a Europa começa a despertar para a necessidade de criar a interoperabilidade das diferentes redes, Portugal já dispõe de um sistema de roaming que é aplicado em todo o país, permite pagamentos de carregamentos ad hoc, a integração da rede de acesso público com postos de carregamento de acesso privado, dando uma grande liberdade, flexibilidade e despreocupação ao utilizador, ao contrário do que acontece na generalidade dos outros países.
O modelo português, visto ser um sistema totalmente integrado no setor energético e interoperável entre as redes dos diversos operadores, é um modelo único que serve de exemplo para outros países que estão a olhar para o nosso modelo como o exemplo a seguir e replicar. Por exemplo, enquanto em Portugal basta termos um único meio de acesso para utilizarmos livremente todos os postos da rede Mobi.E (mais de 3.750 pontos de carregamento de acesso público), ao atravessarmos a fronteira teremos de contratualizar com cinco comercializadores diferentes só para garantirmos que chegamos sem problemas a Madrid (isto, depois de se ter de fazer um estudo pormenorizado).
Ora, com todas as melhorias que têm vindo a ser realizadas, o impacto da mobilidade elétrica na sociedade ganha uma maior consciencialização com desafios e escolhas pela frente no que diz respeito à adoção de comportamentos sustentáveis que garantam um equilíbrio entre o bem-estar social, o meio ambiente e o crescimento económico. É também notório que os cidadãos estão mais alerta para as questões ambientais e realizam hoje escolhas e hábitos que vão nesse sentido, para que os efeitos a médio prazo se traduzam numa sociedade mais sustentável, menos poluente e mais descarbonizada.
A transição elétrica é um contributo importante para a massificação da utilização de veículos elétricos que permite dar resposta às metas traçadas para atingir as ambições climáticas definidas. A disponibilidade de infraestruturas e condições para a mobilidade não só é uma alternativa sustentável, mas é também um veículo para atrair um maior número de pessoas para um estilo de vida mais sustentável, mais confortável e economicamente mais dinâmico e empreendedor.
Acredito que à medida que o mercado da mobilidade elétrica ganhe maturidade e maior autonomia numa plataforma única, aberta e universal que permite ligar todo o país e no futuro a Europa com uma rede de postos de carregamento de veículos elétricos de acesso universal, interoperável e centrada no utilizador, a massificação é inevitável. Importa também referir que desde abril passado, as utilizações e consumos na rede Mobi.E têm vindo sucessivamente a bater recordes todos os meses, o que me permite afirmar que o futuro da mobilidade elétrica se torna cada vez mais próximo e real, é já hoje! É, pois, importante continuar a evoluir no que à mobilidade elétrica diz respeito e continuar a inovar, desenvolvendo mais soluções que sejam colocadas ao dispor dos cidadãos, respeitando sempre as virtualidades do modelo, como a universalidade e a interoperabilidade, até porque tudo aponta, a Europa parece querer seguir os nossos passos.