A lama chega à dobra das calças. A notícia a respeito da detenção do presidente do Benfica constitui mais uma onda do lamaçal que continua a submergir a ilegitimidade inicial do governo PS. Não é excessivo identificar o actual primeiro-ministro como autor do golpe parlamentar de 2015 sob o qual ainda hoje vivemos politicamente. Seria ingénuo, com efeito, imaginar que foram os eleitores do PS (32%) quem magicou a golpada de 4 de Outubro de 2015.

Infelizmente, como então escrevi, nem o PR Cavaco Silva nem o PM Passos Coelho tiveram imaginação e coragem para enfrentar o golpe do PS. Com efeito, teria sido legal e legítimo confirmar o governo da coligação PSD+CDS com o mesmo orçamento votado no ano anterior até à eleição de um novo Presidente da República, o qual dissolveria o parlamento quando tivesse liberdade constitucional para isso. Nessa altura, o eleitorado já conheceria as intenções do PS e votaria, com certeza, contra elas, evitando entregar o poder a um futura «geringonça»!

Em contrapartida, é seguro que o líder do PS já tivesse, na altura das eleições de 2015, equacionado separadamente com o PCP e com o BE a possibilidade de se juntarem dois ou três deles, como veio a acontecer por necessidade numérica perante os 115 deputados da coligação PSD+CDS que franqueara com o êxito possível a falência do governo Sócrates. Seja como for, sem o voto dos dois partidos de «extrema-esquerda», o PS nunca chegaria ao número de deputados necessário para fazer cair a aliança PPD+CDS. A isto acresce o facto acidental de o golpe do líder do PS só ter sucesso dado o facto de o Presidente da República, Cavaco Silva, já ter entrado no período final do seu segundo mandato e não poder dissolver o novo parlamento eleito!

A desmedida ambição pessoal de António Costa coincidiu, pois, com um calendário de regras constitucionais que abriu o caminho à nefasta «geringonça», a qual não só nunca fora anunciada ao eleitorado como, posteriormente, nunca fez nada que não fosse alimentar o custo exorbitante do gigantesco governo do PS. O mesmo aconteceu relativamente às políticas erráticas, contraditórias e frequentemente erradas do dito governo. Seguiu-se o escândalo do clientelismo, assim como a manipulação generalizada dos empregos e subsídios de todo o género ao eleitorado, a começar pelo emprego público e pelas empresas estatais.

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Finalmente, o governo revelou a sua manifesta incapacidade para gerir eficazmente a pandemia e o sistema de saúde, o qual não recuperará jamais do golpe que sofreu devido à falta de financiamento e de organização. Quanto à «geringonça» ou, alternativamente, a ineficaz oposição incarnada pelo PSD, permitiram a manipulação da justiça perante as nomeações judiciais europeias, assim como o fechar de olhos sistemático ante «casos» com anos de dilação como o de Sócrates e Salgado, logo seguidos pelo «pião de xadrez» Joe Berardo e, há pouco, pelo presidente do Benfica, aquele que fora publicamente apoiado pelo primeiro ministro e pelo presidente da câmara de Lisboa em véspera de eleições clubísticas das quais deviam ter vergonha de se aproximar!

Uma coisa a grande maioria dos eleitores já percebeu: é que daqui não iremos a lado nenhum nem sairá coisa boa. A acumulação ininterrupta de «casos» sem perdão aparente fez cair a popularidade garantida ao governo pela comunicação social e pela multiplicação de subsídios sem fundo. Por seu turno, as perdas humanas e sócio-económicas devidas à incompetência do ministério da Saúde e à incapacidade do governo para gerir a pandemia são, proporcionalmente, dos maiores da UE. Valha-nos a segunda equipa de vacinação exigida contra a vontade do governo!

A infeliz frase do primeiro ministro quando pediu licença à presidente da Comissão Europeia para ir levantar o cheque da «bazuca» denuncia não só o que está cabeça dele como esconde as partes mais importantes do plano de recuperação. Entretanto, as condições em que o dinheiro é avançado e, sobretudo, a falta de competência para aplicar o dinheiro da melhor maneira dentro dos prazos previstos deixam as maiores dúvidas quanto ao efectivo reformismo do PRR.

Simultaneamente, nada leva a crer na mudança das clientelas que vivem de projectos inúteis e da corrupção com que os dinheiros públicos têm sido desbaratados desde o tempo de Sócrates. Passou tempo de mais e a obra por cumprir atirou o país cada vez mais para trás na cauda da UE. O atraso do país não tem, manifestamente, desculpa! É a contrapartida das políticas estatistas, corporativas e sem controle financeiro prosseguidas pelo PS desde o tempo de Guterres até hoje!

Última hora: ainda mal tínhamos deparado com a prisão do presidente do Benfica e já se suspeita que o presidente do novo «Banco de «Fomento» — como chegou a existir um no termo do salazarismo à remota imagem da planificação desenvolvimentista – andaria «feito» com Luís Filipe Vieira…