Não é novidade que a nossa vida pública está repleta de idiotas, e quem achar isto polémico é provavelmente um deles. O idiota distingue-se sobretudo pela coerência em expelir idiotices, que possui em quantidades abundantes e em princípio inesgotáveis. Mas não só: além do que diz, que é idiota, o modo como o diz também é idiota. Em casos frequentes, Deus os perdoe, até a cara com que o diz é idiota – quando diz e quando está calada. Será injusto pensar que o idiota prospera principalmente nos ramos da política e do desporto (e no comentário político e desportivo): sucede que as actividades em questão beneficiam de mais notoriedade que outras, as quais certamente terão inúmeros espécimes de apreciáveis, embora obscuros, idiotas. A história da Covid, por exemplo, trouxe à ribalta resmas de “especialistas” cuja idiotia passava antes despercebida em gabinetes sombrios.

É evidente que o idiota não nasceu ontem. Ou anteontem. Embora possa haver um aperfeiçoamento gradual das suas capacidades, não restam dúvidas de que o rematado idiota de hoje já mostraria sinais promissores na infância e na juventude. Um Marques Mendes ou um Fernando Medina não atingiram aquele grau de perfeição do dia para a noite. Uma Catarina Martins e um, ou dois, Eduardo Cabrita não caem do céu. Os “politólogos” que dissertam nas televisões têm decerto décadas de empenho em cima. E aqueles “especialistas” em virologia que há ano e meio alertam para o carácter decisivo “das próximas duas ou três semanas” treinaram as “valências” (e as sevilhas) durante toda a carreira, por sorte sem que alguém os ouvisse. A verdade é que nem sempre é possível apanhar o idiota nas fascinantes fases em que se forma e desabrocha. Porque em geral as televisões não exibem o processo, o cidadão comum não testemunha a transição da larva toscamente idiota para a borboleta orgulhosa e radiante de idiotia. É por isso que Miguel Costa Matos, deputado do PS e chefe da Juventude Socialista, é uma excepção que se saúda, e apetece regar com melaço quente.

Miguel Costa Matos é um meteoro a rasgar o vasto firmamento de idiotas caseiros. Aos 26 aninhos, está para a idiotia como Pelé aos 17 e T.S. Eliot aos 23 estavam para as respectivas profissões. À semelhança do que acontecia com estes, Miguel Costa Matos leva-nos a questionar se existem limites à evolução, para cúmulo numa carreira política, com margem de progressão bem superior ao futebol e à poesia. Se, no que toca a idiotas, o PS é uma formidável escola de formação, um prodígio imediata e fatalmente destaca-se.

Conheci – salvo seja – Miguel Costa Matos há uns meses. Um jornal perguntou-lhe se preferia Trump ou Xi Jinping, o prodígio preferia o déspota chinês ao presidente americano. Percebi logo: tínhamos idiota. E dos bons, abençoado pelo talento inato, por um percurso profissional alheio ao trabalho,  por uma fácies aparentada com a de Jorge Lacão e pelo ar de acólito que distingue alguns dos maiores idiotas nacionais. Notava-se que o rapaz ia longe.

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E tem ido. Desde então, Miguel Costa Matos vem realizando o tipo de exibições de luxo que caracterizam os idiotas eleitos (e nomeados). Nunca falha: ele é contra a “desinformação” (leia-se é a favor da censura), ele é contra os “difusores do ódio” (e odeia gente assim), ele é contra o “racismo” (se as cores em causa forem as “correctas”), ele é contra o “machismo” (o que, corajosamente, o levou a pintar os lábios de vermelho para uma fotografia: nos idiotas refinados, às vezes os 26 anos equivalem a uma cabecinha de 5), ele é contra a carência de regras para as prostitutas (que escreve “prostitutx”, provando que as regras do português não o interessam tanto). E estes são os momentos banais de Miguel Costa Matos. Os momentos restantes são puro deslumbre.

Os aficionados da idiotia não se esquecem da recusa do idiota em aprovar o voto de pesar pela morte de Marcelino da Mata, optando por experimentar arrepios eróticos  com a barbicha do “Che”. Nem da crítica à Hungria por proibir cartilhas LGBT, enquanto o idiota exalta os palestinianos que enfiam homossexuais na cadeia. Nem da aflição do idiota com ameaças gravíssimas aos “direitos humanos” (a venda desregulada de haxixe, juro) e, em simultâneo, a devoção beata à quadrilha que enterrou a Constituição e aboliu as liberdades básicas. Nem da acusação ao governo de Pedro Passos Coelho, que o idiota acha responsável pelo empobrecimento de um país que o PS arruinara antes e volta a arruinar agora. Nem das declarações canalhas do idiota a propósito dos 4 anos dos incêndios de Pedrógão Grande: “Não esqueceremos. Que não deixemos que se repita” (até a gramática é idiota). Nem da reunião por “Zoom” em que o idiota participou com máscara., decerto por recear os vírus informáticos. Aqui há lata. Aqui há atraso de vida. Aqui há cegueira. Aqui há obediência. Aqui há ignorância. Aqui há pulhice. Aqui há boçalidade. Aqui há, enfim, os ingredientes essenciais ao idiota. Miguel Costa Matos não se limita a prometer: faz questão de cumprir. A obsessão do idiota com a cannabis não é inconsequente.

Esta semana, disseram-me que Miguel Costa Matos realizou na TVI uma das prestações mais ridículas desde qualquer declaração pública de Meryl Streep. Mandaram-me um vídeo com o resumo. Fiquei fascinado. Mesmo numa terra de muitos idiotas, e num partido com muitíssimos idiotas, o moço é um caso à parte. Em poucos minutos, sem um lampejo do que antigamente se chamava raciocínio, espirrou dezenas de patranhas tão delirantes, evangélicas e subservientes que envergonhariam um servente de Maduro. Não liguem às más-línguas que desvalorizam Miguel Costa Matos por apenas parecer idiota: ele é idiota, um idiota perfeito e um perfeito idiota, uma esponja de reverência e clichés com um futuro radioso num país que, por estas e por outras, não tem futuro nenhum.