Pronto, ainda agora começou Setembro e já me estragaram o mês. Então uma pessoa anda desde Fevereiro a contar os dias para a estreia do espaço de comentário de Pedro Nuno Santo na SIC Notícias e agora, afinal, só estreia em Outubro?! Quer dizer, é mais um mês de espera pelo privilégio de nos deleitarmos com o supino pensamento político do anunciador precoce de aeroportos. Não sei quanto a vós, mas para mim esta espera consegue ser ainda mais dolorosa do que a espera por uma consulta de cardiologia no Hospital Beatriz Ângelo. E igualmente capaz de me dar cabo do coração.

Mas enfim, enquanto Pedro Nuno Santos não fala, entretemo-nos com António Costa calado. Que foi a forma como o primeiro-ministro optou por participar na reunião do Conselho de Estado. Na segunda parte da reunião do Conselho de Estado, melhor dizendo. Lembram-se da primeira parte? Foi aquela a que Costa chegou atrasado e abandonou mais cedo para ir ver a bola à Nova Zelândia. Desta vez, o Presidente da República teve o cuidado de consultar tudo o que era calendário de competições, para garantir que, à hora de reunião, não se disputava, sequer, uma partida dos distritais da Guiné Equatorial. De maneira que o primeiro-ministro lá fez o favor de estar presente.

O favor é como quem diz. António Costa fez foi o frete de pontificar no encontro. Tanto é que, das três oportunidade que tinha para intervir, ficou calado em duas. Recorreu, portanto, àquela forma clássica de birra a que costuma chamar-se tratamento do silêncio. Tratamento do silêncio em que, diga-se, Costa e o seu governo são dos maiores especialistas mundiais. Basta ver como este executivo socialista opta por jamais responder aos problemas dos portugueses. Ali, caladinho que nem um habitué do Largo do Rato.

Se bem que pode haver uma boa explicação para este silêncio do primeiro-ministro. É possível que Costa não tenha conseguido falar por estar a escrever mais uma carta à Comissão Europeia, exigindo a Ursula von der Leyen que assuma as responsabilidades para as quais foi eleita pelos portugueses, e resolva os problemas do país. Como aconteceu há dias quando António Costa intimou, e bem!, a Comissão Europeia a responder aos problemas da fuga de talentos, da recuperação de territórios ardidos, e da habitação.

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Relativamente ao nosso problema com a habitação, em particular, faz todo o sentido o primeiro-ministro exigir a intervenção da Comissão Europeia. Afinal, Portugal está, há muito, transformado numa espécie de protectorado da Europa. No fundo, nós somos inquilinos de Portugal por favor. Porque quem paga as contas do condomínio são os contribuintes do norte da Europa. Se há, por exemplo, uma fuga de talento, ou arde qualquer coisa, lá estamos nós de mão estendida a mendigar à Comissão Europeia que accione o seguro multi-riscos.

Aliás, esta intensa troca de correspondência denuncia que não temos propriamente um primeiro-ministro. Temos, quanto muito, um primeiro-ministro por correspondência. Como aquele amigo por correspondência que tínhamos nos anos 80. Não se pode dizer que fosse propriamente uma amizade. Era um arremedo de amizade, vá. Bem ao jeito do simulacro de governo que elegemos – salvo seja – no ano passado.

Confesso é ter curiosidade acerca de como estas cartas de António Costa são recebidas na Comissão Europeia. Tendo em conta a rapidez com que o governo do PS está a levar o país ao fundo, imagino que as missivas sejam recebidas como se fossem aquelas cartas dentro de uma garrafa que, tipicamente, as vítimas de naufrágios lançam ao mar. Sendo que depois de retirada a carta da garrafa, e terminada a sua leitura, toda a gente em Bruxelas deva concluir que o nosso primeiro-ministro escreveu o texto após emborcar o conteúdo da vasilha.