No âmbito da Física, ramo da astronomia e da mecânica celeste, já desde os tempos de Sir Isaac Newton, foi identificada uma problemática, que deu origem a uma Teoria denominada “Problema dos 3 corpos”. Segundo esta Teoria, a atração gravitacional de três corpos celestes (por oposição à estabilidade de um sistema de apenas dois corpos), causaria um problema “insolúvel” no cálculo ou previsão dos diversos movimentos dos referidos corpos, causando processos caóticos difíceis, ou mesmo impossíveis, de prever a médio e longo prazo. O errático movimento dos corpos, poderia mesmo originar, além do inevitável caos, a aniquilação. Esta Teoria conheceu recente notoriedade com a popular, apesar de recém-estreada, série da Netflix com o mesmo nome.

Salvaguardadas as devidas diferenças, de adaptação e consequências, o nosso universo político atual parece refletir a base da Teoria em causa. A existência de três “corpos” de “massas similares”, trouxe o caos errático, determinado pela imprevisibilidade dos seus movimentos e consequentes (necessárias), associações entre os mesmos. As três maiores forças políticas, decorrentes do resultado das eleições, com pequenas margens entre si, refletidos os resultados no espetro da Assembleia da República e na distribuição de mandatos, trouxeram indiscutivelmente novos (e difíceis) entendimentos, que ficaram bem patentes na dificuldade de nomeação do Presidente da Assembleia da República. Entre o compromisso pré-eleitoral assumido junto dos eleitores de que um “não, é não” de Luís Montenegro e da AD; à declaração entusiasta e célere, pós eleitoral de um PS desejoso de se ver livre da “batata quente” que uma vitória nestes termos significaria, afirmando perentoriamente de que assumiria a liderança de oposição e que, como tal não contassem com o PS para viabilizar o Governo da AD; até à postura tática e vitimizada de um Chega, que mau grado o que apregoa, se caracteriza manifestamente mais pelo interesse político, do que pela preocupação pelos interesses dos Cidadãos; os movimentos erráticos adivinham-se e fazem prever um problema “insolúvel” na governabilidade de um país, com o prejuízo de todos nós.

É verdade que uma maioria absoluta, apesar da estabilidade que gera, determina efeitos nefastos, que acarretam riscos significativos para democracia e para o funcionamento transparente das instituições.  Existe uma máxima política que se define pela certeza de que todo o poder tem como primeiro objetivo criar os mecanismos que lhe permitam manter-se no poder, pelo que uma maioria facilmente origina uma maioria absoluta e esta, por sua vez, cria com maior facilidade os mecanismos de “establishment” que lhe permitem manter-se, ou até mesmo eternizar-se, no poder. Assistimos a estas situações com frequência, sendo um claro exemplo disso a “reeleição” de Putin, aos comandos da Rússia. No entanto, o seu contrário, também tem efeitos particularmente difíceis, tornando na prática impossível que um programa de Governo possa ser executado, através do “boicote” sistemático de outros partidos.

Em particular, durante as últimas décadas, em Portugal assistiu-se, no panorama político e de governo do país, a soluções em que imperou a “alternância democrática” entre o PS e PSD, nas suas diversas nuances de engenharia criativa, com as associações e coligações respetivas, mais ou menos assumidas, embora com claro ascendente, em termos temporais, a favor do PS.  Este sistema, enfrenta agora um desafio bastante mais exigente, com o mais que esperado ascendente do “Chega”, cuja agenda, tal como o seu financiamento, nem sempre é clara e transparente, e cujas declarações são frequentemente, diferentes das ações, quando não mesmo contraditórias.

Neste “Problema dos 3 corpos”, e na sua imprevisibilidade, reside sobretudo um país à espera de respostas aos seus problemas reais. Um país que espera dos líderes políticos a sensatez e maturidade, inerentes às suas necessidades e a bem da democracia, que percebam sobretudo que a política e os políticos existem para servir a população e não para servirem interesses próprios ou agendas partidárias. Espera-se assim que a solução matematicamente “impossível”, seja afinal politicamente viável e humanamente credível, em benefício de todos. E que, contrariamente às palavras se atribuem a um general Romano de regresso junto do seu Imperador, dando conta dos avanços na conquista da Península Ibérica, não seja uma triste realidade, a de e que os povos em causa “não se governam, nem se deixam governar”.

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