Valores são abstratos mas comportamentos e ações não. Os valores são os princípios éticos e morais que orientam as pessoas nas suas escolhas de vida e isso inclui o local de trabalho — gosta de trabalhar num local com espírito de comunidade e de tomar o pequeno-almoço com os colegas, uma vez por semana? Ou prefere trabalhar num lugar onde não importa se já se conheceram pessoalmente ou mal se conhecem no geral, desde que a eficiência nas entregas dos projetos seja elogiada? Se consegue responder a estas perguntas, já tem, mesmo que inconscientemente, definidos alguns dos seus valores fundamentais.

Para começar, gostaria de partilhar a mesma definição que pode encontrar no deck do Spotify Culture, porque é simples, mas realista: “Cultura é a manifestação dos valores compartilhados da organização, representados pelas ações dos seus membros”. Porque é que isso é importante? A cultura desempenha um papel importante na definição de estratégias de marketing, decisões de branding e modus operandi de RH, e esses três estão profundamente conectados à visão e às ações consequentes que uma empresa tem como denominador comum, ao crescer e ao recrutar. Não se cria um ótimo produto simplesmente com uma cultura agradável, mas a cultura possibilita, definitivamente, esta criação, uma vez que haverá padrões de comportamento coletivos.

O que é que se pode fazer se estiver a começar e não souber o que define os valores da empresa? Uma visão só é real quando partilhada!

Como tornar estes valores públicos se está a começar e não pode realmente traduzi-los em palavras / não há orçamento para uma agência de marketing cara?

Pergunte à sua equipa! Saber as suposições e expectativas para a empresa, pelos olhos de cada colaborador, pode ser uma mais-valia. Tente conhecer a equipa e entender as suas preferências.

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Analise! Entenda o que está escondido debaixo do discurso coletivo. Agora, o próximo passo é analisar o conteúdo. Pessoalmente, gosto de reunir o conteúdo de todas as respostas para cada pergunta e analisá-lo como se fosse uma única resposta individual – facilita a localização dos padrões, mas também das irregularidades. (Spoiler: esta é a parte em que alguns estudos qualitativos e as competências de análise de fala adquiridas no curso de Psicologia podem ajudar!).

Partilhar é cuidar. Mostre o conteúdo analisado num ambiente agradável e descontraído, de preferência com pizza. Recompense a equipa por dedicarem tempo e esforço a serem entrevistadas e, em geral, por se preocuparem com o que a cultura deve ser!

Receba feedback. A recolha de feedback é realmente importante para alinhar expectativas e compreender divergências de opinião.

Transforme o feedback em ações específicas. Após o feedback, deve definir um plano concreto relacionado com as descobertas que fez, de preferência em conjunto com a equipa de RH e Marketing, ou mesmo com todos.

A partir das respostas analisadas, agora conhece, provavelmente, um pouco mais os membros da sua própria equipa.

A magia aqui é que todas estas perguntas servem, essencialmente, não apenas para uma compreensão mais ampla sobre os membros da equipa, individualmente, mas também como medida aproximada do senso comum e do propósito daquilo que você, como uma nova startup, começou a fazer.

Se levar este exercício a sério, provavelmente poderá traçar algumas linhas sobre tópicos realmente importantes, especialmente para iniciantes, como os tipos de benefícios que quer implementar; como os processos de recrutamento serão estruturados; e até como deve apresentar os valores e a visão ao mundo! O que se deseja é que a cultura da sua empresa seja atraente, desafiadora e, no entanto, tenha os valores mais éticos, sendo partilhados entre todos os colegas no local de trabalho. Mas acima de tudo, quer que seja reproduzido.

Tudo isto leva tempo… Mas vale a pena!

Este não é um conceito simples, levará tempo para crescer e desenvolver diretrizes claras sobre como gerir, e é tudo sobre processos e filosofia — ambos influenciando um ao outro, organicamente e bidirecionalmente, e se isso acontecer naturalmente, é realmente impossível saber qual nasceu primeiro.

A verdade é que não pode, realmente, criar uma cultura: ela já está lá, reunida como os valores partilhados que a sua equipa adota como seus, todos os dias. Mas pode cultivá-la, aprimorá-la e promovê-la, implementando políticas inteligentes, atividades de criação de equipas e elogiando as interações diárias que deseja preservar. Acima de tudo, cresce se você realmente agir de acordo com o que prega.

No final, a cultura que adota é o valor real que tem a oferecer e que, ao contrário da maioria das coisas nesta “business concrete jungle” é verdadeiramente única. Porquê? Porque nenhum dinheiro no mundo pode comprar um sorriso, numa manhã de segunda-feira.

Francisca Pereira é formada em Psicologia Clínica e Gestão de Pessoas. Trabalhou em Berlim no departamento de Recursos Humanos na SumUp, em Portugal passou por várias empresas (desde a área de consultoria a startups) e atualmente está de volta à Psicologia, a sua área de formação.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.