Durante grande parte da história humana, o progresso, nas suas múltiplas vertentes, contribuiu para um crescimento global continuado. Tudo indicava uma tendência estável de evolução, que nem mesmo as crises, nomeadamente a crise financeira de 2008, conseguiram abalar significativamente. O futuro era genericamente previsível e o valor da educação executiva era claro.

Mas a revolução digital transformou por completo esta visão, envolvendo o futuro numa nuvem de imprevisibilidade, volatilidade e disrupção. A conjugação deste fenómeno com a globalização, as novas formas de trabalho e a atual estrutura populacional, caracterizada pela baixa natalidade e maior longevidade, abriu muitas oportunidades e trouxe também desafios. A questão que deve então colocar-se é: qual o valor das Escolas de Negócio?

Refletindo sobre o caso concreto da escola em que sirvo, acredito que a sua missão permanece valiosa e relevante. Continua a ser fundamental promover valores, investigar, preparar líderes, apoiar as empresas e restantes instituições e atender às necessidades da sociedade em geral. Porém, este tem sido o tempo de repensar a Escola, sendo que os ajustamentos se centram na preparação de profissionais e líderes, na conceção de uma oferta de aprendizagem ao longo da vida e em investigação orientada para a resolução de problemas atuais, sejam eles a nível da organização, do negócio ou do mundo.

A complexidade exige abrangência de disciplinas e interdisciplinaridade no sentido de analisar as situações e as decisões de diferentes perspetivas, e tal requer das Business Schools continuar a investigar e desbravar ideias, sendo um espaço onde acontece o debate e se ilumina o futuro. Muita desta investigação deve, inclusivamente, ser realizada no âmbito de parcerias estratégicas entre as escolas, as empresas e outras instituições. Esta complementaridade de conhecimentos e olhares enriquece a aprendizagem e é fundamental para criar soluções sustentáveis, seja a nível organizacional seja ante problemáticas globais, sejam eles as alterações climáticas, a pandemia, a guerra, a geopolítica, a inteligência artificial, etc.

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Hoje, um bom conjunto de Business Schools está bem posicionado para criar soluções de educação executiva online que sejam competitivas e acrescentem flexibilidade. Assim como não há dúvida de que a modalidade presencial e os programas longos, transformadores e estruturantes continuam a ser um requisito importante na formação dos líderes, pela maior riqueza do diálogo com os professores e pares, o networking e a profundidade da aprendizagem, pela atenção e tempo dedicado. Mas além destas, é possível desenhar um mundo de soluções combinadas que vão de encontro à customização e personalização das trajetórias de formação de acordo com os objetivos e disponibilidade de cada executivo e da empresa onde cada um trabalha.

Por último, não é novidade que os líderes devem investir tempo a pensar o futuro, parar e ganhar perspetiva sobre a sua ação, imergir em ambientes inovadores e intelectualmente desafiantes, e munir-se das competências adequadas ao seu tempo. Contudo, hoje não é suficiente fazê-lo uma vez na vida. Há que recorrentemente voltar à escola com a abertura e humildade de quem não sabe tudo e sabe que pode aprender com outros. Daí a relevância das Business Schools acompanharem a aprendizagem ao longo de toda a vida. Os líderes de futuro requerem atualização em múltiplas literacias – financeira, analítica, tecnológica, estratégica, entre outras – mas, incontornavelmente, necessitam de ser peritos em humanidade, por forma a melhor entender o mundo, a razão de ser das situações e fragilidades sociais e a equacionar as consequências humanas de cada decisão.

Cabe a cada escola de formação de executivos refletir sobre si mesma e atualizar-se para se manter relevante e impactante. Os líderes de hoje e de amanhã merecem-nos isso mesmo, a sociedade merece-nos isso mesmo, o futuro merece-nos isso mesmo.