As saudades que eu já tinha de rentrées políticas. Ui, eram tantas. E com mega-produções envolvendo primeiros-ministros a bordo de lanchas a “comandar” operações de salvamento, então nem se fala. Logo quando eu estava certo do PSD, depois de trocar do anterior líder para o actual, tão cedo não nos brindar com embaraços em torno de um rio, eis que Montenegro se apresenta nestes preparos em pleno Douro.

É difícil discernir o que terá levado Luís Montenegro a protagonizar tal número. A não ser que o líder do PSD seja uma pessoa muito mais espiritual do que eu pensava. Se calhar, recordando o desastre político que foi a visita de Marcelo Rebelo de Sousa a Pedrogão Grande, no meio do fogo, Montenegro concluiu que vê-lo na água no local de outra tragédia, podia, por oposição dos elementos naturais, imagino eu, ser um bálsamo para a sua popularidade.

Sentia falta de rentrées políticas e de rentrées em que políticas desportivas bem esgalhadas redundam num despedimento de treinador ao fim de quatro gloriosas jornadas da Liga. Um exacto dia após o governo alemão ter deportado indivíduos para o Afeganistão, o Benfica deportou um indivíduo alemão, Roger Schmidt. Por instantes, estamos no topo da pirâmide no que a correr com malta diz respeito. Prestígio. Não saiu barato, é verdade, mas o que são 15 milhões de euros quando podemos encher o peito e dizer que pusemos as perninhas de um alemão, não exactamente a tremer, mas ainda assim a mexer?

Já que perguntei, 15 milhões de euros são uma maquia que dava para o Schmidt adquirir para aí 10% dos não sei quantos por cento que a Lufthansa quer comprar da TAP. Neste caso, sim, creio que, inadvertidamente, podemos colocar canivetes germânicos a tremelicar. Eu pelo menos fico com as perninhas a tremer só de pensar na ideia de, caso possuísse tal verba, adquirir parte da TAP tornando-me sócio do Estado português.

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Feitas as contas, tudo isto deverá redundar naquilo que a frase, repetida em todo o sítio e que começa com o futebol serem 11 para cada lado, revela: no fim ganham sempre os alemães. Repetida em todo o sítio menos o X no Brasil. Ou melhor, se calhar os brasileiros ainda podem tentar dizê-la no X, ex-Twitter, mas depois da decisão do governo de Lula da Silva de banir a rede social, só mesmo estando com muita sede e se o chope mais próximo for na lanchonete da penitenciária.

Mas pronto, o Brasil está cada vez mais ordeiro e progressista. A ordem há de ser enfim alcançada logo que o governo de Lula consiga manter toda a gente bem caladinha. E o progresso fica evidente no facto de o Brasil, ao proibir o X, se juntar a outros faróis do progresso como o Irão, a Coreia do Norte, ou a Venezuela. Para Lula, o X marca o ponto onde o Brasil encontra várias ditaduras. Ditaduras que começam por proibir o X do Elon Musk, e rapidamente estão a proibir o x nos boletins de voto. No quinto ou sexto país do mundo em termos de número de utilizadores de internet, censurar o X segue o ABC de tudo quanto é ditador.

E esta vaga de progresso promete não ficar por aqui. Nem pensar. Os Estados Unidos da América, por exemplo, poderão ter, caso o Senhor se esteja mesmo a borrifar para todos nós, uma presidente que também já ameaçou fechar o X. E promessas semelhantes escutam-se na Austrália e na própria União Europeia. O que diz tudo sobre o caminho que o ocidente está a trilhar, por mais que vos queiram vender que diz tudo sobre o X e o Elon Musk.

Felizmente, nada disto me apoquenta. É o que dá ter as prioridades bem definidas. Enquanto não houver novidades – e à hora que escrevo elas inexistem -, a minha única preocupação é se vamos buscar Leonardo Jardim, Bruno Laje, ou Sérgio Conceição. E o meu prognóstico é X. Quer dizer, não faço ideia se Laje será o próximo treinador do Benfica. Espero é que o X do Elon Musk ganhe estas batalhas pela liberdade de expressão.