Nas duas últimas décadas, assistimos a um extraordinário desenvolvimento do ecossistema empreendedor português. O país dispõe atualmente de uma moderna rede de incubadoras, bons programas de aceleração, talento com mentalidade empreendedora, universidades com predisposição para a inovação e centros de I&D capazes de desenvolver novos produtos e tecnologias.

Não é, por isso, de estranhar que haja sete unicórnios de origem portuguesa, mais de 2.000 startups registadas e 165 incubadoras e aceleradoras a funcionar no país. Apesar de jovem, o nosso ecossistema representa 1,1% do PIB português e é responsável por cerca de 25.000 empregos, na sua maioria qualificados. Portugal está, de resto, 13% acima da média europeia em número de startups per capita, ocupa a 12.ª posição no top 100 dos ecossistemas emergentes e é o 12.º país mais inovador da UE (fonte: https://portugaldigital.gov.pt).

hubs de inovação de Lisboa ao Porto, passando por Aveiro, Braga, Coimbra, Fundão, Évora, Portalegre ou Loulé, entre outras cidades. Por outro lado, em Portugal realizam-se vários eventos de promoção do empreendedorismo, como a Web Summit ou a Feira do Empreendedor da ANJE, e existem múltiplos apoios à criação de negócios inovadores, como o Portugal Tech, o Tech Visa, o Startup Visa e o Startup Voucher, por exemplo.

Apesar do muito que foi feito nos últimos anos para criar um ambiente favorável ao empreendedorismo, há ainda questões a melhorar em várias áreas. Desde logo na burocracia, que continua a ser um dos principais entraves a quem pretende criar, comprar ou fundir empresas, expandir ou diversificar negócios, exportar e internacionalizar atividades, estabelecer relações com centros de conhecimento e materializar inovações em novos produtos e serviços.

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Há também margem para aprofundar a relação entre o sistema científico e tecnológico e o meio empresarial, nomeadamente eliminando obstáculos legais à participação de docentes e investigadores em projetos de inovação nas empresas, facilitando o estabelecimento de contratos-programa de I&D entre empresas e Academia e promovendo a inserção de empresas em plataformas tecnológicas e em redes de infraestruturas transnacionais de excelência.

Mas o maior desafio é, sem dúvida, o financiamento. Um dos principais problemas do nosso ecossistema empreendedor decorre, justamente, da falta de investidores com interesse nas startups e que compreendam a sua dinâmica própria. Por esse facto, as fontes de financiamento alternativas ao crédito bancário tradicional, como o capital de risco ou o smart money, não se encontram ainda suficientemente desenvolvidas em Portugal.

Uma via de financiamento de negócios em fase inicial são os prémios de empreendedorismo. Em Portugal, existem hoje diversos galardões desta natureza. É o caso do Prémio do Jovem Empreendedor da ANJE, que vai já na sua 23.ª edição. Trata-se do mais antigo prémio português nesta área e, para além de valorizar publicamente projetos empresariais com potencial, atribui um prize money de 10 mil euros, além de disponibilizar formação, mentoria, networking, incubação e aceleração no valor de 15 mil.

Há ainda muito trabalho a fazer para reduzir a taxa de mortalidade das startups, que é ainda elevada em Portugal. Muitas destas empresas desenvolvem produtos e soluções inovadores, mas falham ao entrar no mercado. Para além do financiamento nem sempre ser o desejável, muitos jovens empreendedores não têm competências de gestão nem experiência empresarial. Torna-se por isso crucial dar-lhes apoio na gestão das suas empresas e, sobretudo, em processos de escalabilidade.

Interessa que as startups, não só sobrevivam aos difíceis primeiros anos de atividade, como evoluam para estádios mais elevados de desenvolvimento. Ou seja, que se tornem competitivas e economicamente sustentáveis. Ora, os prémios podem ser uma porta de entrada em hubs de inovação e empreendedorismo, onde o crescimento das startups é potenciado por especialistas.

Com eleições à porta, era bom que o período de campanha servisse para debater o ecossistema empreendedor português e que surgissem propostas para tornar Portugal uma nação startup. Para isso, há que melhorar substancialmente o ambiente empresarial no nosso país. A taxa de mortalidade das startups pode ser diminuída com um quadro fiscal e custos de contexto menos pesados para os novos negócios, sendo ainda necessários instrumentos de financiamento mais adequados a projetos early stage.