Vivemos tempos de grandes mudanças a nível do diagnóstico e tratamento das demências, especificamente na Doença de Alzheimer. Por razões desconhecidas, mas em possível associação com o envelhecimento das populações, prevê-se que o número de pessoas diagnosticadas com demência aumente de forma muito substancial nos próximos anos. Em 2050, 16 milhões de pessoas na Europa e cerca de 350 mil em Portugal terão demência. Urge, portanto, que o público esteja bem informado em relação à doença, e que os serviços de saúde providenciem os melhores cuidados possíveis numa área tão crítica como as doenças do cérebro.

Apesar de continuar a ser uma doença com uma causa que permanece incompletamente compreendida, sabemos que existem fatores de risco modificáveis que podem contribuir até 40% do risco de desenvolvimento de demência. Portanto, diagnosticar e corrigir atempadamente a hipertensão arterial, a diabetes mellitus, a inatividade física, o tabagismo, as alterações do sono, e a surdez poderá ter um impacto positivo muito significativo na saúde cerebral.

A Doença de Alzheimer pode ser muito difícil de diagnosticar, em especial em idades mais precoces. Apesar dos importantes avanços científicos dos últimos anos, em especial no que diz respeito ao diagnóstico por análise de sangue ou do líquido cefalorraquidiano, a avaliação médica permanece central em todo o processo de diagnóstico e tratamento. É frequente existirem dúvidas, por exemplo, se uma pessoa poderá estar com uma síndrome depressiva ou num estadio inicial de um quadro demencial. As pessoas com depressão podem esquecer-se de algumas coisas e as pessoas com demência podem apresentar-se deprimidas. Nesta circunstância, é fundamental uma abordagem integrada de várias especialidades, especificamente um neurologista, um psiquiatra e um psicólogo, todos com experiência em Doença de Alzheimer e articulados entre si.

Nas fases iniciais da doença, em que a pessoa pode achar que é normal a ocorrência de alguns lapsos, importa sobretudo um diagnóstico correto e atempado. É possível que a médio prazo, a impressão clínica inicial possa ser robustecida por análises específicas ao sangue. Nalguns estudos de investigação, a medição de determinadas proteínas no sangue correlacionava-se com a presença de alterações no tecido cerebral associadas à Doença de Alzheimer. É ainda precoce dizer como estas análises mudarão o estado da arte, mas é razoável assumir-se que o seu emprego e a sua aplicação na prática clínica vão passar, indubitavelmente, por centros clínicos altamente especializados. Isto será ainda mais relevante quando se encontrarem disponíveis em Portugal tratamentos inovadores que mudem, efetivamente, a história natural da doença.

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Uma das razões pelas quais é difícil diagnosticar a Doença de Alzheimer é a ausência de alterações que sejam muito específicas nos exames de imagem cerebral na maioria das pessoas. Por exemplo, sabemos que as alterações decorrentes da doença podem ser observáveis em TAC ou numa ressonância magnética apenas muito tardiamente, e algumas destas alterações podem ocorrer por outros fatores, como por exemplo a idade avançada. Afinal, cada pessoa é única, e o seu cérebro também. Por outro lado, existem alterações discretas nos exames que poderão apenas ser valorizadas caso o contexto clínico seja o correto. Decorre daí que essas alterações, tanto no plano clínico como no imagiológico, têm que ser apropriadamente integradas por médicos com experiência nestas patologias.

As necessidades da pessoa com demência mudam ao longo da sua vida. Se nas fases iniciais, como vimos, é sobretudo importante boas qualidades diagnósticas, noutras mais avançadas poderá ser necessário garantir a nutrição adequada à pessoa com demência, procurar que se mantenha capaz de comunicar com os familiares, garantir estímulo físico e mental apropriados, realizar programas de reabilitação física e cognitiva, entre outros.

As demências são situações crónicas geradoras de incapacidade e absentismo laboral, para o próprio e para os cuidadores, que poderão eles próprios, em determinado momento, precisar de apoio.

É importante garantir uma rede de cuidados diferenciados, acessíveis, articulados e integrados, com o objetivo central de providenciar os melhores cuidados de saúde para uma determinada pessoa, em cada momento do seu percurso único e pessoal.