Portugal precisa de gerir melhor os recursos em saúde, disso todos estamos de acordo, desde a esquerda à direita, desde o cidadão que utiliza os serviços ao gestor de saúde nos seus diferentes níveis. Para essa gestão mais eficiente é preciso tomar decisões políticas e técnicas, sustentadas em evidência científica e capacidade analítica que nem sempre são bem vistas pela sociedade e por alguns grupos de interesse, por razões bem diferentes.

No que respeita à primeira, sempre gostou de ter todos os serviços e mais alguns ao pé de sua casa, não sendo sua preocupação consciente e primária a qualidade dos serviços que daí advêm. Afinal, também concordo que seria muito mais agradável e prático termos um hospital e um centro de saúde junto à nossa residência.

Os segundos, por interesses corporativistas e financeiros que respondam ao lobby do poder instalado, do status quo que pretendem manter, não se preocupando com o essencial: a qualidade dos cuidados prestados.

A Direção Executiva (DE) do Serviço Nacional de Saúde (SNS) decidiu, e bem, suspender em diversas unidades hospitalares do País a realização de cirurgias da mama que não tenham um mínimo anual de 100 intervenções. É fácil compreender que não é fim último da DE do SNS obrigar as pessoas a deslocar-se mais quilómetros para realizar uma cirurgia programada, nem afastar profissionais de saúde desses hospitais periféricos para o litoral. Essa visão só a tem quem não estuda as razões que sustentaram esta decisão ou prefere viver na idade média do pensamento inquisitório. Essa é a explicação de quem só vê os seus interesses à frente do que nos diz a ciência. A verdade, essa sim, é que quando temos profissionais que regularmente realizam este tipo de cirurgia, de forma reiterada, diária, temos todos garantias que o seu sucesso e a qualidade do seu exercício serão muito mais prevalentes em comparação com a aqueles que apenas realizam o mesmo procedimento algumas vezes por mês. Estes locais são chamados de centros de excelência!

Algum cidadão deste País, tendo acesso a estatísticas de êxito cirúrgico, prefere ir a um hospital à porta de casa, mas que a taxa de sucesso é menor, em vez que fazer alguns bons quilómetros, mas sabendo que será tratado por uma equipa mais bem preparada e com um êxito cirúrgico garantidamente maior? Penso que esta pergunta deve ficar mesmo pela retórica, pois os portugueses não são masoquistas! Mais, estes centros de excelência têm suporte científico quanto aos seus resultados e mais-valias para a sociedade.

A título de exemplo, o estudo “Dartmouth Atlas of Health Care” concluiu que hospitais com estes centros de excelência permitiram, entre outros, diminuir as taxas de readmissão hospitalar, melhorar resultados clínicos, como menor incidência de complicações pós-operatórias, menor taxa de infeções hospitalares e menor mortalidade, em comparação com hospitais comuns, assim como os pacientes atendidos em centros de excelência relatam maior satisfação com os cuidados recebidos. Aliás, voltando ao início, se Portugal quer caminhar de mãos dadas com os melhores prestadores de cuidados de saúde do mundo, tem de alargar estes centros de excelência a outras áreas, não esquecendo de fazer parcerias internacionais, de integrar unidades de investigação nesta área e certificar esses mesmos centros através de unidades independentes. Provavelmente o que falta aqui é esclarecer a sociedade, os cidadãos, das vantagens de fazer alguns quilómetros a mais…um cidadão esclarecido é um cidadão comprometido!

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