O número de vítimas de violência doméstica tem vindo a aumentar anos após ano em Portugal e tornou-se um desafio constante a busca por respostas e soluções imediatas e eficazes. Representa, ainda hoje, um grave problema social e de saúde pública em todo o mundo, que afeta a sociedade em que vivemos. É uma problemática que não é recente, que se tem perpetuado ao longo de várias gerações, desde os tempos ancestrais, tornando-se objeto de estudo, bem como de medidas de política social. Revela-se um fenómeno complexo e multidimensional que exige modelos de avaliação e intervenção ao mesmo nível, considerando os diferentes atores (vítimas, pessoas agressoras) e dinâmicas envolvidas (individuais, diádicas, socioculturais) que sustentam as interações violentas.

No contexto português, felizmente a consciência sobre a gravidade e dimensão do problema assume um lugar de destaque no discurso científico, político e judiciário. Resultado de uma consciência gradual da sua ampla disseminação e dos elevados custos que estão associados a esta problemática (familiares, sociais, económicos), desenvolvem-se atualmente vários debates e investigações sobre o assunto. No plano conceptual, os olhares sobre este objeto de estudo têm vindo a diversificar-se de forma expressiva. No plano prático, o interesse e investimento tem sido, sobretudo, visível no desenvolvimento de instrumentos de avaliação de risco.

Assim, nas últimas décadas, a comunidade científica internacional e nacional têm tentado desenvolver instrumentos de avaliação de risco de violência, com um foco na identificação de fatores que contribuem para a sua reincidência. A avaliação de risco é um método que permite a identificação, em tempo útil, de diversos fatores de risco e proteção, tendo como objetivo central a segurança das vítimas, a prevenção e o desenvolvimento de estratégias de gestão para minimizar o risco, auxiliando o Sistema de Justiça na atribuição de medidas mais adequadas no combate à violência.

As universidades têm vindo também a assumir um papel fundamental no combate a este flagelo social através da avaliação, prevenção e intervenção, auxiliando os profissionais e as instituições que diariamente enfrentam desafios na avaliação de risco de violência doméstica, mas sobretudo na proteção e segurança das vítimas de violência doméstica.

Por forma a combater este problema social, é crucial um papel conjunto das universidades — no desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e apoio — e da justiça, no investimento em políticas públicas e campanhas de sensibilização, potenciando assim a promoção de uma sociedade mais justa e segura para todos.

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