Portugal, nas últimas semanas, baixou drasticamente o número de infetados e de mortes, passando de um dos países “piores” para um dos “melhores” da Europa em termos de números. É de louvar, sem dúvida. Contudo, agora levanta-se mais uma vez a discussão do desconfinamento. Total, parcial, como, quando e quem primeiro? E depois, se os casos voltarem a aumentar, voltamos à confusão dos concelhos de baixo, médio e alto risco? Se viver, digamos, em Santiago do Cacém, posso ir ao supermercado no sábado da parte da tarde, mas se viver em Grândola já não? O barbeiro do meu marido, que desde o início teve todos os cuidados possíveis e deixava entrar apenas uma pessoa de cada vez na barbearia, não pode abrir – e possivelmente vai ter de encerrar um estabelecimento que existe há quase quarenta anos – mas um barbeiro num concelho de baixo risco já pode abrir? E as livrarias continuam encerradas, mas os vinte condutores da Uber Eats que se juntam em frente ao McDonalds podem estar aí sentados, todos juntinhos, à vontade?

Eu sou grande adepta de simplicidade e coerência. E recuso-me a inventar a roda quando alguém já a inventou. Obviamente é fácil falar. E obviamente é difícil descobrir quem já inventou a roda numa situação de pandemia, onde o desconhecido e a incerteza reinam. Mas faz um ano que foi registado o primeiro caso em Portugal. E é relativamente certo que esta não vai ser nem a última, nem a penúltima vaga. Aliás, a Organização Mundial da Saúde já fez um apelo aos governos para começarem a preparar-se para o surgimento de futuras pandemias.

Por isso, por favor não compliquem e não inventem a roda onde não é necessário inventar. Trabalhem em equipa e com um objetivo só, que é encontrar a solução mais segura, mas também mais lógica do ponto de vista socioeconómico e educacional. Olhem para países como a Nova Zelândia e a Finlândia. Já estou a ouvir as vozes que dizem que não é possível comparar, porque são países com uma população mais pequena e com mais recursos. Mas não é isso. Na minha modesta opinião, o que esses países têm em comum é uma capacidade de antecipação, preparação e organização diferente. E, acima de tudo, um estilo de liderança coerente e transparente, que transmite confiança às pessoas.

E, por favor, nem vou entrar na discussão se é porque são mulheres, os dirigentes que os lideram. Claro, não sou de todo imparcial. Desde há muito, que defendo que devia haver mais mulheres em posições de liderança. Contudo, não com o objetivo de preencher quotas, mas sim para diversificar e porque muitas mulheres, quando lhes é dada a possibilidade, efetivamente têm um jeito excecional para liderar. E sim, também é verdade que desde há muito tenho um fascínio pela primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, por representar aquilo que, na minha opinião, faz o género de líder que o mundo vai precisar em abundância para superar situações destas e de outra natureza no futuro. Mas não é justo generalizar e dizer que esses países souberam gerir melhor a crise porque os seus líderes são mulheres. Souberam gerir melhor porque, como referi antes, se organizaram e prepararam e, acima de tudo, porque os seus líderes transmitem, de forma constante e coerente, confiança à população.

Por isso, por favor peguem no telefone, trabalhem em equipa e tentem não complicar e inventar onde não é necessário. Estamos a correr contra o relógio e cada minuto conta.

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