Podia ser a palavra de ordem de uma marcha de protesto organizada por jovens, que há muito estão calados, em casa, atrás dos telemóveis, pois afinal de contas são os malditos millenials que vieram virar o mundo ao contrário, mas é só uma chamada de atenção ao nosso Presidente bem como aos membros do Governo.

Desde há muito que para os membros do governo e para o seu Presidente, os jovens parecem não existir, excepto quando às vezes os mesmos insistem em criar um bode expiatório para algo que não corra assim tão bem. Desta vez o país está a mergulhar em centenas de novos casos de infeções de Covid por dia, e como tal, mais uma vez, a culpa tinha de ser destes marginais que são os jovens. Parece-me estranho que aqueles que em diversos estudos estão a ser visados por estarem a viver cada vez mais atrás de computadores e telemóveis, desta vez sejam os culpados por estar a espalhar o vírus, vá se lá adivinhar, por precisamente conviverem em demasia.

Não é minha intenção desculpabilizar alguns tipos de comportamentos que de certa forma deveriam ser evitados, mas Sr. Presidente, há muito que o país e o Governo se esqueceu dos jovens, e tal situação facilmente se percebe na composição dos deputados na Assembleia. Já me perguntei várias vezes o porquê de termos um partido apoiante dos animais, outro da geração de Abril e alguns novos partidos como a Iniciativa Liberal, Livre ou Chega, e não existir qualquer partido que sustente a sua representação em defesa dos jovens deste país.

Se analisarmos os dados populacionais de 2018, por exemplo, constatamos que acima dos 15 anos e com menos de 30, existe mais de 1,5 milhões de pessoas, quase tantos como o número de votantes que foram necessários para António Costa liderar a primeira geringonça.

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Por outro lado, e tendo em conta que este raciocínio pode ser falacioso pelo facto dos partidos que estão na Assembleia poderem ter na sua composição jovens, a verdade é que isso não acontece. À data de hoje, em 230 deputados, são menos de 10 deputados aqueles que têm menos de 30 anos. A pergunta que deixo é: serão os jovens incompetentes para o desempenho de atividade política, ou é necessária experiência de anos e anos para poder chegar ao parlamento? Poderá ser necessária essa experiência, mas a verdade é que quando ela se consagrar, esses jovens já não são jovens, e novamente, não vão existir representantes com capacidade para perceber e representar este lado da sociedade.

Mas deixe-me que lhe diga Sr. Presidente, os jovens estão fartos de mentiras e um certo nível de hipocrisia no nosso sistema político. Tão saturados do que mencionei, que se analisarmos a abstenção desta parte da sociedade, talvez perceba que os jovens simplesmente já não acreditam em Democracia.

E porque o país não é só Lisboa, tenho tido a oportunidade de estar atento a outras zonas do país, nomeadamente centro e norte. Sabe o que observei nestes meses Sr. Presidente?

Observei que à porta dos cafés distribuídos pelas várias aldeias do país, são os adultos que se juntam em grupos de 10 e 20 pessoas, para beber uma cervejinha igual à que o Sr. bebeu, junto de pessoas sem qualquer proteção e num período em que não o podia fazer. Depois de verem todas as suas festas académicas canceladas, sabe há quanto tempo esses jovens não bebiam essa cervejinha, para mais tarde ver o Sr. a fazê-lo, dando um mau exemplo ao país?

Não sei se sabe Sr. Presidente, mas não foram jovens que vi a correr para os cabeleireiros quando estes abriram, não eram jovens que andavam na minha urbanização, supostamente a passear os seus cãezinhos, mas em grupos de 10 e 20 pessoas. Não foram jovens que vi nas celebrações do 1º de Maio, a encher a Alameda como se no país estivesse tudo bem.

Enquanto muitos estavam em casa, sabe o que os jovens viram na televisão Sr. Presidente?

Desde grupos de 10 e 20 membros do Governo a peregrinarem pelo país para ver hospitais e centros de tratamento Covid. Membros do Governo e forças policiais que tiravam a máscara para falar com as televisões, colocando em perigo os próprios jornalistas. Ministros e Diretora Geral da Saúde a não recomendar o uso de máscara, que viemos a perceber agora que não passou de um compasso de espera para alguns membros próximos ao governo, terem tempo de criarem as suas empresas para eles próprios a comercializarem.

Sabe Sr. Presidente e Governo, os jovens a quem anulou todos os festivais de verão e festas académicas souberam pelos jornais que afinal se essa festa for o Avante já não há problema.

Aos que já trabalham, sabe que foram os primeiros a serem despedidos das suas empresas, por serem precisamente aqueles que tinham trabalhos mais precários e com menos antiguidade. Nas empresas também foram e estão a ser um alvo a abater, e precisamente porque é mais barato e fácil despedir um jovem. Os dados disponíveis são claros!

Não sei se é do conhecimento de todos vós, mas as aulas para os jovens ainda não acabaram e já que estamos nesse tema gostava que o Sr. Presidente soubesse o que se está a passar. Tenho conversado com alguns estudantes universitários e observo com alguma admiração que todos me dizem que o que estão a fazer é aprender sozinhos. Os professores estão a substituir aulas via Skype por conversas de 15 minutos a solicitar a realização de trabalhos. Os alunos estão a fazer trabalhos sem nunca ter ouvido a matéria, aprendendo-a através do google, e isso Sr. Presidente, isso não é ensinar. As propinas pelo que fui informado, continuam a ser pagas integralmente! Muitas das rendas dos quartos onde esses jovens habitam, longe das suas famílias, continuam a ser pagas.

Não sei que informação lhe chegou Sr. Presidente, mas se de facto viu alguns grupos de jovens em ajuntamentos, pense um pouco sobre o que lhe escrevo, e se os mesmos não estarão fartos da forma como esta situação está a ser gerida.