Não obstante todas as declarações em sentido contrário, é evidente que o Presidente russo tudo faz para acabar com a União Europeia ou para paralisar a sua já ineficaz política interna e externa. A ingerência da Catalunha é disso mais uma prova.

Nas palavras, a diplomacia russa defende a integridade da Espanha e a solução do estatuto da Catalunha através do diálogo, mas Vladimir Putin não recorre a “paninhos quentes” e exerce ingerência de forma ostensiva nos destinos da Península Ibérica.

Uno de los políticos afines a Vladímir Putin, fundamental en la estrategia rusa de anexionarse territorios de antiguas repúblicas soviéticas, ha visitado Barcelona esta semana con la intención de establecer lazos entre la órbita del Kremlin y una posible Cataluña independiente, según fuentes de la inteligencia española. Dimitri Medóev, funcionario osetio afín a Moscú y ministro de facto de Exteriores de la república irredenta de Osetia del Sur estuvo de visita oficial en Cataluña lunes y martes y abrió una oficina para establecer relaciones bilaterales”, escreve o diário El País.

Embora se considere um Estado independente, a Ossétia do Sul, território georgiano ocupado pelas tropas russas em 2008, depende completamente do Kremlin e Medóev jamais tomaria uma iniciativa dessas sem ordens de Vladimir Putin. A política externa da Rússia e dos seus vassalos é prerrogativa exclusiva do dirigente russo.

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Além disso, é sabido que os independentistas catalães participaram, no ano passado, num encontro de povos sem país, realizado em Moscovo.

Como já bem sendo hábito, o autocrata russo vai à história recente buscar justificações, mas utiliza meias-verdades. Vladimir Putin, numa intervenção pública recente, acusa a União Europeia de ser a principal responsável do separatismo depois de criar o antecedente do Kosovo. Porém, o líder russo ignorou ou esqueceu-se de recordar que o Governo de Madrid não reconhece a separação dessa antiga região da Jugoslávia.

O El Pais chama também a atenção para a propaganda agressiva do regime de Putin com vista a fomentar as divisões no mundo ocidental, não olhando a meios:

En años recientes, Rusia ha invertido una gran cantidad de recursos en medios propagandísticos como RT y Sputnik y en una verdadera guerra digital en redes sociales con la que ha fomentado divisiones en las elecciones de Estados Unidos el año pasado y Francia y Alemania en este. Según publicó EL PAÍS, perfiles prorrusos con gran seguimiento en las redes sociales han compartido informaciones a favor de la independencia de Cataluña en semanas pasadas, en algunos casos haciéndose eco de noticias falsas o manipuladas”.

A necessidade da criação de meios de informação concentrados no desmascaramento de notícias falsas vindas do Kremlin é urgente, devendo a União Europeia agir nesse sentido.

Ouço alguns analistas elogiarem as grandes capacidades diplomáticas de Serguei Lavrov à frente do Ministério dos Negócios Estrangeiros, mas, na realidade, não passa de uma correia de transmissão de Putin, que realiza uma política externa cada vez mais agressiva e musculada.

Tendo em conta as dimensões da Federação da Rússia, a sua diversidade étnica e os problemas internos provocados pela estagnação da economia, corrupção, etc., a política externa de Putin é verdadeiramente suicida para o seu país. Mas o dirigente russo começa a ficar com os tiques comuns a todos os ditadores, julgando-se eterno e senhor do mundo.

A Espanha é a nossa vizinha e a forma como irá ser resolvido o problema da Catalunha terá grande importância para o futuro de Portugal. Por isso, é necessário estarmos atentos aos jogos sujos de Vladimir Putin no espaço europeu.

E deixo aqui um recado aos separatistas catalães e seus apoiantes: se levarem a vossa causa avante, não se esqueçam que não ficarão sozinhos, pois a Catalunha poderá aderir à organização económica eurasiática que reúne a Rússia, a Bielorrússia e o Cazaquestão, e à qual a Ossétia do Sul também quer juntar-se.