A qualidade de vida é, cada vez mais, um grande (senão o maior) objetivo de vida. Por isso, as pessoas procuram, para residir, trabalhar e criar a sua família, contextos onde impera uma boa oferta ao nível dos cuidados de saúde, das oportunidades de emprego, do parque escolar, do ar despoluído, da rede de transportes ou da segurança.

Neste sentido, os Municípios desempenham um papel central enquanto promotores das condições, das infraestruturas e das oportunidades que permitem aos cidadãos ir ao encontro dos seus objetivos e expetativas de vida. Aliás, não será a missão central dos Municípios satisfazer os seus munícipes e melhorar a sua qualidade de vida?

Atendendo a esta nobre missão, temos no panorama nacional muito bons exemplos de autarquias que procuram implementar políticas públicas em favor da melhoria das condições de vida. No entanto, por mais trabalhadas e bem-intencionadas que sejam, é preciso lembrar que as políticas públicas, per si, não perguntam às pessoas o que elas realmente valorizam. Uma aposta acertada na melhoria da qualidade de vida local requer uma avaliação rigorosa das reais condições e infraestruturas existentes, mas também da satisfação das pessoas com essa mesma realidade.

A título de exemplo: um município pode estar bem provido de hospitais e unidades de saúde, comparativamente a outros municípios com a mesma dimensão, mas as pessoas fazerem uma avaliação menos positiva da saúde no seu concelho. Ou, dando outro exemplo, no domínio do urbanismo e habitação, a qualidade habitacional de um dado município pode ser boa, comparativamente à média nacional (em termos de dimensão, qualidade, proximidade de jardins e serviços básicos), mas tal qualidade não ser reconhecida pelos munícipes.

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Estes dois exemplos traduzem uma desarticulação entre as condições oferecidas e as que efetivamente são percebidas e/ou usufruídas pelas pessoas. Tal pode estar associado a diversas razões: desde a falta de comunicação por parte das autarquias, a falta de conhecimentos e/ou informação dos próprios munícipes em relação à realidade de outros concelhos com as mesmas caraterísticas ou o facto de as infraestruturas físicas não irem ao encontro das reais necessidades dos cidadãos. Perante este cenário, é fundamental avaliar e identificar qual o foco de insatisfação, por forma a atuar, melhorando a qualidade de vida das pessoas.

Além disso, o investimento na melhoria da qualidade de vida local requer uma avaliação periódica, ao longo do tempo, o que se revela estratégico a dois níveis. Num primeiro plano, estes diagnósticos de qualidade de vida vão tornar possível direcionar as políticas públicas para a melhoria efetiva das condições geradoras de insatisfação. Num segundo plano, vai possibilitar avaliar o impacto dessas políticas públicas, promovendo assim uma governança mais rigorosa, eficaz e direcionada para realidade do Município e dos seus Munícipes.

Em síntese, a avaliação da qualidade de vida nos Municípios assume-se, assim, como uma ferramenta estratégica de governança, para a implementação de políticas públicas impactantes e para a melhoria efetiva da qualidade de vida das suas pessoas. Atrevemo-nos a hipotetizar que a nobre missão dos Municípios fica mais perto de ser cumprida.