“Vida, sim! Morte, não!” – gritavam os milhares de jovens e famílias de Portugal que caminharam no sábado, 26 de outubro, em Lisboa, Porto, Braga, Aveiro e Viseu, para dizer não à eutanásia e ao aborto, na manifestação mais jovem do nosso país. Para dizer sim ao apoio às grávidas e aos cuidados paliativos.

Falando da eutanásia, já que os deputados do BE a puseram outra vez em cima da mesa, erradamente dizem que só há duas opções: a eutanásia ou o sofrimento. Quando os cuidados paliativos existem por alguma razão. Quando existem enfermeiros especializados em cuidar dos doentes em situação crónica e terminal. Não em matar. No caso de se ter de efetuar tratamentos dolorosos para um doente não morrer, ele tem o direito de os recusar e de seguir o percurso natural da morte. O médico deve respeitar essa decisão e isso não é eutanásia. Agora, quando a dor vem da doença é que aparece a tal pergunta: é melhor o doente ficar a sofrer? Atrevo-me a dizer que sim, se isso significa ter mais tempo para perceber o que é o amor ou a bondade da família. Se isso significa ter mais tempo para dizer as últimas palavras aos que estão mais próximos. Se isso significa receber conforto dos médicos, enfermeiros, assistentes operacionais, dietistas, farmacêuticos, psicólogos, fisioterapeutas, voluntários, assistentes sociais e assistentes espirituais dos cuidados paliativos. E se não tem família? Aí está um dos grandes objetivos dos cuidados paliativos: “garantir-lhes a melhor qualidade de vida possível, integrando os aspetos psicológicos, sociais e espirituais” (Art. 2° dos Estatutos da Associação Portuguesa dos Cuidados Paliativos). Assim, é um grande desafio para a equipa de cuidados paliativos assegurar que o doente consegue ter não só o melhor estado físico, dentro do possível, como também o apoio emocional necessário.

Quando se é amado, a vida vale a pena.

O problema é que muitas vezes a pessoa não se sente amada e não quer ser um fardo para a família ou a família não quer que a pessoa seja um fardo para ela. Como bem disse Madre Teresa de Calcutá, “a falta de amor é a maior de todas as pobrezas”. É a falta de amor, não o sofrimento. Sabemos que o ser humano é capaz de passar pelos maiores sofrimentos se tiver uma forte motivação para tal. Basta pensar nos mártires cristãos, nas grávidas, … não devemos contornar o problema da tristeza das pessoas dizendo-lhes que podem morrer, se quiserem, mas sim enfrentando o problema de frente. Fazê-las sentir-se amadas, fazê-las perceber que a sua vida tem um sentido, fazer com que elas percebam que vale sempre a pena viver se amamos e somos amados.

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Os cuidados paliativos trazem uma ajuda preciosa para que seja aliviada a dor dos doentes crónicos e terminais. Enquanto que “a morte não acaba com o sofrimento, acaba com a vida da pessoa”. E cada vez mais de uma pessoa mais jovem ou sem voz. Na Bélgica já é permitida a eutanásia infantil. Na Holanda há uma eutanásia a cada 1h20min de pessoas que não pediram para morrer. É este o futuro que queremos para os cidadãos do nosso país? Quando se aprova a primeira, é uma porta aberta para as seguintes calamidades. A eutanásia é em si mesma já algo inconcebível, mas basta vermos os “bons exemplos” da Bélgica e da Holanda para percebermos que foi empurrada de um penhasco uma bola de neve que vai ficando cada vez maior e que não para. Nesses países, quando foi aprovada a eutanásia, falava-se de misericórdia e compaixão. Mas qual é a compaixão de alguém que mata uma pessoa que não lhe pede para morrer? Como assim matar crianças que ainda nem têm consciência do que é a morte? Onde está agora essa tal compaixão? E o amor?

E os casos em que há eutanásia para pessoas que não têm doenças terminais? Vamos falar de Aurelia Browers. Uma holandesa doente do foro psiquiátrico. Com a razão de que “nunca conheceu o que é a felicidade”, tomou veneno fornecido por um médico e morreu. Que sociedade é esta que nós construímos, em que a ajuda que uma pessoa infeliz pede é para morrer e não para encontrar a felicidade? Que sociedade é esta que não dá soluções para a tristeza, aceitando que a única “solução” é a morte? Sob o falso pretexto de liberdade e amparo, estamos a caminhar para uma sociedade “perfeita” em que quem é vulnerável se mata. Em que quem é doente se elimina. Isto é eugenia. É o nazismo dos dias de hoje.

Que se invista mais na evolução e melhoria dos cuidados paliativos; não na eutanásia. A verdadeira misericórdia não é atender ao pedido (ou ao não pedido) de uma pessoa que, no desespero, quer (ou não) acabar com a vida, mas sim ajudá-la a enfrentar estes momentos. Porque toda a vida tem dignidade. Porque é no desespero que se compreende o que é amar e ser amado, que se compreende e se é compreendido, que se pode amadurecer muito. Pode ser ponto de partida para a procura da paz e para compreender o sentido da vida e da morte.

Estamos num país em que ainda é possível melhorar muito os cuidados para com os doentes terminais. Quando se aprova a morte a pedido, a sociedade caminha para os assassínios sem pedido. Não caiamos no engano da eutanásia. Milhares de jovens, e também não jovens, vieram dizê-lo à rua.