O cenário, curiosa e inteligentemente projectado ultimamente por Rui Ramos de uma geringonça à direita, arrimada a uma conjugação de esforços do Chega de André Ventura e do actual dessangrado PSD de Rui Rio, que parece improvável, não deveria passar disso mesmo, i.e, de uma simples suposição ou hipótese de especulação, sem nenhum fundamento real, apesar de interessante.

Algo que só devia ser virtual. Por falta de uma fundamentação político-ideológica e social verdadeira, clara, partilhada, salutar. Democrática. Infelizmente, contudo, o cenário pode ser bem real. Apesar de não se tratar senão de mais um rastejante e anémico mecanismo de construção laboratorial. Um puro ensejo de casta de mini/mini caudilhos, cuja visão estropiada da política não é de serviço (um Governo bom e competente para todos), mas instrumental: poder, só poder. No fim do dia, para uma redistribuição de réditos alegadamente de direita alternativa à actual redistribuição dos mesmos réditos alegadamente de esquerda.

O discurso e a prática de fundo desta geringonça à direita serão sempre típicos de uma objectiva gestão monopolística dos interesses mesquinhos de uma certa oligarquia de iluminados e endinheirados, sobreposta ao maior proveito de todos. Neste sentido essencial, a incumbente geringonça governativa de direita agora projectada, será sempre igualzinha à geringonça alegadamente de esquerda que hoje dirige o país com rédeas.

Num e noutro caso, expedientes politicamente verticais, nascidos artificialmente, de cima para baixo, com um único objectivo (não escondido): a gestão da coisa pública ao jeito de um clube de amigos. Um só alicerce disputado: a partilha do mesmo sindicato de votos de base, essencialmente formado pela clique dos funcionários e colocados públicos e as suas aposentadorias mais os beneficiários líquidos da contratação pública e para-pública. Que tem contado com a impotente complacência de um enorme eleitorado desapontado e abstencionista e, ultimamente, de um Presidente da República conivente. Um jogo viciado e viciante, bem ao jeito de um país envelhecido e decadente, cheio de dependências, muito endividado, sem poupança, de cerrada carga fiscal, historicamente muito descerebrado e de escassas elites, cheio de voluntaristas ocos. O exacto oposto da justiça, da liberdade e da democracia.

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É urgente um ar novo na política portuguesa. Algo de vital por oposição a esta morte lenta. Um projecto político simples, claro, eficiente e objectivamente reformista. Ao serviço de todos os que querem ser livres. Livres do Estado ineficiente, tentacular e dador de prebendas. Livres da corrupção. Livres de uma justiça lenta e demasiado comprometida com as enormes injustiças do sistema. Livres de um municipalismo burocratizado e ineficiente. Livres de uma abominável e injusta carga fiscal. Livres para trabalhar e investir em Portugal como querem, criar riqueza e progredir socialmente com o seu trabalho. Livres para estudar sem cartilhas ideológicas impostas. Livres para crer e viver a sua religião. Livres para se orgulhar da História pátria.

Um PSD renovado e desagrilhoado e o actual CDS podem e devem liderar esta mudança. Que é lenta, porque não lança petardos e não quer viver de slogans, mas de boas ideias compartilhadas. Para todos os que querem ser livres e viver num Portugal sem mordaças politicamente correctas.

O projecto de uma geração. Onde cabem, por exemplo, Pedro Passos Coelho e Francisco Rodrigues dos Santos.