Segundo o Registo Oncológico Nacional, o cancro do pulmão afecta cerca de 5.200 cidadãos por ano. Destes e infelizmente, aproximadamente dois terços apresentam-se em estadio avançado ou metastático, o que condiciona muito o prognóstico da doença, aumenta os custos do tratamento, o número de hospitalizações e a utilização de recursos em saúde. Também por este motivo, esta doença provoca mais de 4.400 mortes por ano.

Para reduzirmos estes números teremos de apostar na educação dos jovens relativamente à opção que devem fazer para o resto das suas vidas acerca dos hábitos de vida saudável e, no caso em questão, em não iniciarem o consumo de tabaco. Deveremos aumentar a sensibilização dos fumadores para os benefícios para a saúde que resultarão da cessação deste vício e facultar-lhes a possibilidade de serem acompanhados em consultas de cessação tabágica. Mas, para todos os que, apesar de tudo, não irão deixar o tabaco, teremos de implementar um programa de rastreio de base populacional e facilitar o diagnóstico precoce.

A nível mundial realizaram-se 9 grandes ensaios investigacionais sobre o rastreio do cancro do pulmão, que envolveram cerca de 88.500 cidadãos, com idades entre os 50 e os 75 anos, fumadores de 1 maço de cigarros por dia por mais de 15 anos ou ex-fumadores há menos de 15 anos. Realizavam uma TAC de baixa dose por ano e valorizaram para diagnóstico clínico todos os nódulos com dimensões superiores a 5 mm de diâmetro. Estes estudos permitiram concluir que, com a sua implementação, conseguia-se um aumento no diagnóstico precoce em mais 16 participantes em cada 1.000, uma maior taxa de ressecabilidade do tumor e uma diminuição da mortalidade relacionada com esta doença em cerca de 20%.

Mas o rastreio do cancro do pulmão de base populacional tem os seus problemas. O mais preocupante é o sobrediagnóstico, os casos de nódulos pulmonares que não são doença maligna, mas que obrigam a um estudo clínico e que causam sofrimento psicológico e físico, que se cifra em quase 38%. Outro são os custos directos do próprio rastreio, que incluem a necessidade de TACs que possam estar perto da população a rastrear, de técnicos de saúde e de radiologistas, e da necessidade de se implementar em conjunto uma consulta de cessação tabágica.

Mas os problemas mais importantes em termos logísticos prendem-se com a identificação da população a rastrear, que terá de passar forçosamente pelos médicos dos centros de saúde, e com o número de cidadãos a quem se vai descobrir nódulos e outras doenças pulmonares e que vão ter de ser orientados para os serviços hospitalares e que terão de ter os seus diagnósticos e tratamentos atempadamente. Para melhorar a identificação da população que beneficie do rastreio poderemos utilizar modelos matemáticos de risco individualizado, que poderá permitir a diminuição do número de rastreios necessários e aumentar a detecção precoce. Para o fluxo de indivíduos com alterações pulmonares detectadas, o serviço nacional de saúde terá de se adaptar e criar vias verdes para uma resposta que se ajuste às expectativas criadas.

Porque o rastreio de base populacional do cancro do pulmão salva-vidas e poupa dinheiro ao erário público, é urgente estabelecer um projecto piloto nacional.

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