Num palco onde sombras dançam e ideias se enfrentam, desenrola-se um duelo intenso e ardente no tecido do mundo Ocidental, como ecoado em Portugal. Ali, a divergência de pensamentos e os valores que cada extremo do espectro defende se entrelaçam, um lado abraçando o progresso e a liberalização, desatando as correntes que oprimem minorias de gênero e sexualidades diversas, enquanto o outro lado, enraizado nos preceitos da religião cristã, mantém a chama da conservação acesa. Porém, é necessário embarcar em uma jornada para compreender as fontes profundas que alimentam as raízes teóricas e filosóficas dessas convicções. No âmbito da justiça social contemporânea, entender esse intrincado “framework” torna-se não apenas um prelúdio, mas uma peregrinação poética, traçando os contornos etéreos que moldam o ethos de uma nação envolta no abraço de aspirações por uma maior igualdade.

As falhas teóricas do Marxismo ortodoxo de Marx e Engels deram espaço a uma nova corrente filosófica, buscando transcender as limitações do passado e ampliar a dicotomia dos historicamente oprimidos, do proletariado às minorias sexuais, femininas e étnico-raciais. Este avanço do Marxismo, emergindo da Teoria Crítica e do mundo pós-moderno e pós-materialista, deu origem à tese de uma “guerra cultural silenciosa”, como defendida por estudiosos como Ronald Inglehart já na década de 70, revelando a opressão enraizada na cultura e religião Ocidental, segundo estes círculos revolucionários da “New Left”.

Em Portugal, propostas de lei sobre a eutanásia, aborto, autonomia de género nas escolas e outras levaram a uma adesão de diversos espectros políticos a ideias conservadoras de outros partidos, como testemunhado em figuras como Nuno Simões de Melo e Mariana Mendes Silvestre, outrora na Iniciativa Liberal, que partiram em busca de abrigo longe do que consideravam uma “Cultura woke”, oriunda dos círculos intelectuais de esquerda com inclinação marxista e revolucionária. Neste cenário complexo, os debates do partido CHEGA sobre “justiça social” e as angústias pós-materialistas dos círculos marxistas desvelam uma dualidade de múltiplas faces. Emergem, inicialmente, raízes e justificativas imersas na religiosidade, onde a contestação à identidade de género, às transições sexuais, ao aborto e a outras questões remetem a uma esfera teológica. Neste prisma, Deus ergue-se como a máxima lei moral, orientando a sociedade pelos preceitos bíblicos. É também crido que a determinação do género humano reside em Deus, e a recusa dessa ordem, ao identificar-se com outra faceta, é percebida como uma negação de sua divindade e omnipotência. Entretanto, nas esferas conservadoras, argumenta-se que esta contenda não se restringe meramente a uma batalha cultural, mas desdobra-se igualmente como uma guerra religiosa, considerando a natureza ateísta característica da filosofia marxista. A disseminação destas ideologias é encarada, mesmo por vozes mais moderadas, como um dilema premente e de alta significância, atentando à história portuguesa entrelaçada com o Cristianismo. Destarte, as próximas eleições delineiam não apenas um confronto de ideias e perspetivas económicas diversas, mas também salientam o capítulo sociocultural como um protagonista central.

Para muitos, a adoção de políticas progressistas e radicais tem eclipsado os interesses nacionais e a própria identidade cultural, precipitando uma migração política de membros do PSD, CDS e Iniciativa Liberal para o partido CHEGA. Independentemente da validade destes argumentos, ergue-se uma verdade indubitável: a pertinência do capítulo da “guerra cultural” como um fenómeno de magnitude, sobretudo ao considerar a rica narrativa do Catolicismo em Portugal, desde os tempos da monarquia até os dias contemporâneos, onde o partido CHEGA pode colher frutos eleitorais com o apoio de indivíduos e grupos que abraçam uma visão conservadora e religiosa.

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