1 É pública a minha posição em relação à despenalização da eutanásia. Quando a questão foi objeto de votação na Assembleia da República, na anterior legislatura, votei favoravelmente um dos projetos em discussão. O meu sentido de voto esteve e estaria sempre dependente, depois de uma análise ponderada e cuidadosa de cada uma das soluções apresentadas, dos limites e das garantias dadas para o tema em apreço. Para mim, deveria ser praticada ou ajudada por profissionais de saúde, obedecendo esta decisão a um procedimento clínico e legal, de forma a que decorresse de uma vontade do próprio atual, séria, livre e esclarecida. Mantenho, naturalmente, e dois anos depois, a mesma posição.

Aquando desta votação, na declaração de voto que apresentei, deixei claro que esta é uma matéria passível de ser referendada. Não apenas do ponto de vista legal, e nos termos da lei orgânica do regime do referendo uma vez que se trata de matéria de relevante interesse nacional, mas também do ponto de vista político. Não foi, por isso, com surpresa que acompanhei a discussão e aprovação de uma moção apresentada no último Congresso Nacional do PSD, para que o partido desenvolvesse todas as diligências políticas, institucionais e legislativas com vista à realização de uma consulta popular. A aprovação desta moção não pode deixar de ser considerada no sentido de voto dos deputados do Grupo Parlamentar do PSD.

3 Foi recebida na Assembleia da República uma iniciativa popular em junho de 2020 com vista à convocação de um referendo sobre a (des)penalização da morte a pedido. Para o efeito, mais de 60 mil pessoas gozaram do seu poder de iniciativa, solicitando ao Parlamento que coloque esta matéria à consideração do povo português. Não deixaria de ser insólito, quando os estudos e a crescente abstenção demonstram um afastamento dos cidadãos em relação à classe e à atividade política, que esta respondesse recusando o envolvimento das pessoas numa decisão desta natureza.

4 O PSD é um partido que vive, desde a sua fundação, na circunstância de ter, entre os seus militantes, pessoas mais ou menos liberais, mais ou menos conservadoras, diversidade essa que é, quanto a mim, uma das suas maiores forças. E é, precisamente, a defesa do instituto do referendo que mais compatibiliza estas diferentes e diversas sensibilidades no PSD. Aliás, esse mesmo instituto é o que mais bem equilibra os mecanismos representativos com os de participação direta, que é um dos valores do PSD.

5 A concreta formulação da pergunta, utilizada na iniciativa popular, merece sérios reparos e suscita perplexidades. Tenho, aliás, sérias dúvidas de que a mesma preenchesse os requisitos estabelecidos em lei para que pudesse ser objeto de consulta popular. Com efeito, a lei obriga a que a pergunta seja formulada com objetividade e sem sugerir, direta ou indiretamente, o sentido das respostas. Infelizmente, não foi essa a formulação encontrada na iniciativa em debate. Em todo o caso, e apesar destas reservas, é sobre a iniciativa do referendo que sou chamada a pronunciar-me. E, pelas razões já expressas, não poderia deixar de ser a favor da realização de um referendo sobre a Despenalização da Eutanásia. Nesse referendo, como disse, votaria a favor da despenalização, preenchidas as condições que acima descrevi.

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