Fez um ano esta manhã que estava a trabalhar quando recebi um telefonema a dar conta de uma forte explosão no aeroporto de Bruxelas. Segundos depois as cinzas das explosões entraram no meu gabinete em forma de centenas de avisos noticiosos com relatos confusos e imagens de feridos e mortos. Faço o meu primeiro telefonema. Asseguro à minha esposa que estou bem e pergunto pelos meus filhos.

Nervoso e longe, tomei lugar numa reunião em que se discutiam os Balcãs. Minutos depois, a menos de 200 metros de onde estava, rebenta uma segunda bomba na estação de metro de Maalbeek junto ao Parlamento Europeu. Os olhares entre as mais de 200 pessoas que assistiam a esta reunião eram de puro terror. Estávamos sob uma estação subterrânea de comboio. “Será que a próxima bomba vai rebentar aqui?”. Esta era a pergunta que em silêncio ecoava alto na sala. Preparo-me para fazer o meu segundo telefonema. Nada. As comunicações estão cortadas. Uso a internet para mais uma vez assegurar à minha esposa que estou bem apesar da proximidade do segundo atentado. Volto a perguntar pelos meus filhos. “Estão em segurança”, diz-me ela.

O Parlamento Europeu foi selado de imediato – ninguém entra, ninguém sai. A cidade fica vazia em menos de uma hora após a segunda bomba. Uma cidade que ao mesmo tempo foi invadida por um estridente barulho de sirenes e helicópteros. Os telefones começaram a tocar sem parar. Preocupados, familiares, amigos e conhecidos procuram saber se estou/estamos bem.

No entanto, não me podia esquecer que desta vez não era somente uma pessoa preocupada a acompanhar as notícias na CNN. As funções e responsabilidade profissional levaram-me ao gabinete de Guy Verhofstadt, actual Presidente dos Liberais Europeus no Parlamento Europeu. Verhofstadt, antigo primeiro-ministro Belga escutava e enfrentava em silêncio e em choque a torrente de notícias que desaguavam no seu escritório. Pouco havia a fazer. Todos esperávamos por uma terceira bomba.

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Desci para comer e beber algo. Percorri os corredores do Parlamento Europeu. Dezenas de pessoas choravam, outras desesperavam e outras ainda estavam literalmente petrificadas. Os filhos eram a principal preocupação de muitos, assim como assegurar a familiares a sua segurança. Este foi também um dia em que se viu e sentiu o amor que sustenta a nossa humanidade.

Perto do final da tarde todos os edifícios do chamado quarteirão Europeu foram liberados e dezenas de milhares de pessoas correram para os seus e para suas casas. Esperei um pouco mais. Decidi juntar um grupo de colegas para espairecer diante do Parlamento, no largo do Luxemburgo. O cenário era de filme de guerra. Fomos autorizados a passar, mas sem poder fotografar. De carros de guerra a brigadas de polícia de intervenção, esta praça estava irreconhecível. Em silêncio bebemos uma cerveja e alguns fumaram um cigarro.

Entrei em casa perto das seis da tarde. Abracei a minha família e finalmente respirei.

Hoje passado um ano muito mudou. Não consigo passar o terminal do aeroporto de Bruxelas sem estar permanentemente em alerta para algo suspeito. Mas também algo mudou em mim, na minha missão. O meu empenho em ajudar a reformar e reforçar o Projecto Europeu, colocando a Europa mais do lado dos cidadãos, nunca foi tão forte.