Putin anunciou o cancelamento do “South Stream”, o pipeline que iria transportar gás russo para o centro da Europa, passando a sul da Ucrânia. Além de isolar Kiev, Moscovo pretendia reforçar a dependência europeia em relação ao gás russo e a posição da Gazprom no mercado europeu. Os planos falharam, o que constitui uma derrota para Putin.

E falharam por duas razões. Em primeiro lugar, o Presidente russo percebeu que a política de concorrência da União Europeia é mais forte e eficaz do que ele algum dia julgou. Bruxelas foi muito clara. A Gazprom não podia ter o monopólio do pipeline. Poderia construi-lo, mas deveria partilhá-lo com outras companhias de gás. Moscovo prefere retirar-se do que partilhar. Em segundo lugar, as sanções ocidentais começam a doer, sobretudo a impossibilidade de financiamento nos mercados internacionais. Acrescentando ainda a queda do preço do petróleo, a Rússia começa a enfrentar dificuldades financeiras sérias. A queda das receitas externas e o fim do acesso a financiamento impedem grandes investimentos em infraestruturas.

Simultaneamente, a Europa continua a diversificar as suas fontes de abastecimento de gás. Há dez anos, a Rússia era de longe o maior fornecedor de gás. Hoje, já é a Noruega, seguida pela Rússia. Em terceiro lugar e em quarto lugar, estão, respectivamente, a Argélia e a Nigéria. A partir de 2018 – segundo os actuais planos – o Azerbeijão juntar-se-á aos principais fornecedores de gás para a Europa. Dentro de mais ou menos quatro anos, o chamado “corredor do Sul” irá trazer gás azeri para a Europa, com a possibilidade de mais tarde permitir igualmente a importação de gás do Curdistão iraquiano e mesmo da Ásia Central.

Além da multiplicação de pipelines, o gás natural liquefeito (conhecido normalmente pela sigla inglesa LNG) constitui outra alternativa para a Europa. E aqui a Nigéria constitui uma novidade em termos de exportação de gás para a Europa. Mas é também um exemplo do que poderá ser Angola no futuro. As descobertas no pré-sal da costa angolana revelaram reservas de gás enormes. A sua exploração e venda demorará tempo, mas o que se passa com a Nigéria, como fornecedor de gás para a Europa, pode repetir-se com Angola. Talvez valesse a pena Lisboa e Luanda discutirem o que poderia ser um objectivo estratégico comum. A exportação de gás angolano para Portugal e daqui seria distribuído para o resto da Europa.

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