A Galp está a fazer prospeção petrolífera a 40km da costa portuguesa. Aparentemente, há possibilidades razoáveis de se descobrir petróleo. É o suficiente para aparecerem os ataques do costume à sua exploração. Um dos argumentos mais usados, contra a iniciativa da Galp, é o risco de um derrame. Estamos perante um caso de desonestidade intelectual e de populismo político extraordinários. Ainda não se descobriu petróleo, e já se fala no risco de derrames. Verdadeiramente espantoso. Um cronista do jornal Público chegou mesmo ao extremo de fazer uma comparação com o que se passou no Golfo do México em 2010. Há quem não tenha qualquer escrúpulo nem respeito pelos seus próprios argumentos.

No mundo produzem-se milhões de barris de petróleo todos os dias, das Américas à Ásia e à Austrália, passando pela Europa e por África, e o exemplo de um derrame continua a ser o que aconteceu no Golfo do México em 2010. Apesar do mediatismo do caso, manda a sensatez concluir que foi um desastre único. É necessária uma grande dose de populismo e de demagogia para transformar um acidente na regra. Constitui ainda um caso de falta de atenção propositada em relação aos avanços tecnológicos. Há sempre riscos de derrames, mas em 2018 os riscos são bem menores do que eram em 2010. Os avanços tecnológicos também servem para tornar a exploração do petróleo mais segura e amiga do ambiente.

Este argumento é ainda mais estranho vindo de pessoas de esquerda, sempre rápidas a apoiar o antigo Presidente brasileiro Lula. Sob as presidências de Lula da Silva, a Petrobrás iniciou mais explorações de petróleo do que em qualquer outro período da sua história. Nunca se havia produzido tanto petróleo no Brasil. E, segundo consta, ninguém deixou de passar férias nas maravilhosas praias a sul do Rio de Janeiro e a norte de São Paulo, onde se encontram muitas dessas explorações, incluindo um campo petrolífero chamado Lula. Defender o legado social dos governos do PT e atacar a exploração do petróleo resulta ou de uma profunda ignorância sobre a história recente do Brasil ou de uma enorme desonestidade intelectual.

Regressando à Europa, estudem a relação entre os lucros da exploração do petróleo e as políticas sociais em países como a Noruega, a Dinamarca ou a Holanda. Se houver petróleo ao largo de Portugal, espero que o debate seja sobre o modo mais correcto de usar os rendimentos que resultem da sua exploração. Quando Portugal enfrenta desafios muito difíceis para o futuro das suas políticas sociais, seria um erro profundo abdicar do aproveitamento de recursos naturais. Como mostra a Noruega, a oportunidade está no aumento de recursos financeiros para políticas sociais.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Há ainda um segundo argumento contra a exploração do petróleo. Numa era de alterações climáticas, deve investir-se nas energias renováveis e esquecer os combustíveis fósseis. Concordo em absoluto com a necessidade e as vantagens de se produzir mais energia renovável. Portugal é alias um bom exemplo nesse aspecto, como mostra de resto o sucesso da EDP. O erro reside na oposição entre energias renováveis e fósseis. Não é necessário escolher. Deve investir-se nos dois tipos de energias, como mostram de novo os países escandinavos e o Reino Unido. Nesses países, os rendimentos da exploração do petróleo são usados para outros objectivos, neste caso para aumentar os investimentos nas energias renováveis. Um dos aspectos mais ignorados nestes debates é o modo como multinacionais como a Shell, a BP, a Statoil, a Total, a Eni ou a Maersk contribuem com milhões de euros para a investigação na área das energias renováveis. A Galp teria mais recursos para o fazer se explorasse e produzisse petróleo em águas portuguesas.

Tendo em conta a natureza crescentemente política dos debates sobre as empresas de energia em Portugal, vale a pena levantar a seguinte questão: por que razão, entre as esquerdas, o argumento das energias renováveis é usado para criticar a Galp mas nunca é usado para defender a EDP? Qualquer análise das políticas de energia na Europa mostra que a EDP foi uma das empresas europeias que mais investiu nas energias renováveis durante a última década. A resposta é simples: o tema das energias renováveis é secundário; o objectivo principal é o ataque a empresas de sucesso. Quer a Galp como a EDP são empresas de sucesso. Criam dezenas de milhares de postos de trabalho, exportam (e poderão exportar ainda mais quando houver ligações energéticas entre Portugal e o resto da União Europeia), e trazem investimento externo. Em suma, são benéficas para a economia portuguesa.

Lamentavelmente, as esquerdas radicais dominam o debate público sobre a Galp e a EDP. Mais uma vez, o centro direita partidário abdica de participar activamente num debate fundamental para a economia portuguesa e para o futuro do país. O que está aqui em causa é muito mais o que o petróleo, a Galp ou a EDP. São as empresas e a iniciativa privada. Não consigo entender aqueles, mais à direita, que atacam o peso do Estado na economia mas depois não são capazes de defender as empresas privadas.