1 Nove dias de férias. Seis declarações. Da carreira dos professores ao pacote Habitação, questões constitucionais e baixa de impostos, tudo comentou o homem vestido preferencialmente em tons de azul a caminho da praia ou a sair dela.

O mar é azul. O céu é azul. Azuis são os olhos do homem. Um pouco mais de azul e talvez fosse possível esquecer que o homem se chama Marcelo Rebelo de Sousa e é presidente da República. Mas não só tal não é possível como, pelo contrário, a informalidade da paisagem, do vestuário e do discurso tornam ainda mais óbvia e espessa a solidão familiar e política que emana do presidente da República.

Dos outros presidentes no Verão avistávamos os amigos, a família, os íntimos. De Marcelo avistamos a sua solidão. Marcelo no areal procura os microfones e as câmaras pela mesma razão que as crianças batem os pés ao entrar num espaço desconhecido: para que não se perceba que estão sozinhos.

É óbvio que, sobrestimando-se como é seu hábito, Marcelo imagina que com este declaratório diário dita a agenda e pressiona o Governo, que é como quem diz António Costa. Para 5 de Setembro marcou a parte II daquele Conselho de Estado de que a 21 de Julho António Costa saiu antecipadamente para ir ao futebol. Aos mais distraídos recordo que a 5 de Setembro vai ter lugar uma etapa da Volta à Espanha e decorre o Open de Ténis dos EUA, tudo motivos mais que plausíveis para o primeiro-ministro chegar mais tarde, sair mais cedo ou nem aparecer no dito Conselho de Estado. Também pode simplesmente inovar e em vez de privilegiar a agenda desportiva, como aconteceu na parte I deste Conselho de Estado, alegar que precisa de ver o pôr do sol que para esse dia 5 de Setembro está previsto para as 19h 01m. Sim, tudo e o seu contrário podem acontecer porque António Costa pode fazer o que lhe apetecer.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O seu governo desfaz-se, nasceu sem rasgo e enfraqueceu-se ainda mais numa sucessão nunca vista de casos e escândalos mas o primeiro-ministro, esse está mais forte. António Costa beneficiou ao longo da sua carreira política de um estatuto-modo de estar que se caracteriza por mandar em tudo mas nunca ser responsável por nada. Sintomaticamente os seus ministros só se tornam protagonistas quando entram na categoria de remodeláveis. Foi assim com Constança Urbano de Sousa, Eduardo Cabrita, Azeredo Lopes, Marta Temido. Vamos ver se assim continuará a ser com João Gomes Cravinho. João Galamba não conta para esta história pois o seu papel não é ser ministro mas sim continuar ministro para que Marcelo perceba quem manda.

Não tinha de ter sido assim. Mas só por ingenuidade se suporia que com Marcelo seria diferente.

2 Paulo Batista é o novo director do SEF. É o sétimo desde que António Costa chegou a São Bento. Entre Janeiro de 2016, quando Constança Urbano de Sousa, ministra da Administração Interna do recém-nomeado governo de António Costa  escolheu Luísa Maia Gonçalves para dirigir o SEF, até à nomeação em Agosto de 2023 de Paulo Batista, o SEF conheceu um inédito corropio de dirigentes: Luísa Maia Gonçalves não chegou a estar dois anos no cargo, pois logo em Outubro de 2017 foi substituída por Carlos Alberto Matos Moreira. Um ano e dois meses depois, a 16 de Janeiro de 2019, Carlos Alberto Matos Moreira alega cansaço e deixa a direcção do SEF. É então substituído por Cristina Gatões que também não fica no cargo por muito mais tempo: em Março de 2020, com o SEF mergulhado no caso da morte de um cidadão ucraniano, José Luís do Rosário Barão substitui interinamente Cristina Gatões. Antes do fim do ano, em Dezembro de 2020, o tenente-general Luís Francisco Botelho Miguel torna-se o novo director do SEF. Um ano e escassos três meses depois, em Março de 2022, o tenente-general Luís Francisco Botelho Miguel solicitava o fim da “comissão de serviço” como diretor nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Em Abril de 2022 Fernando Pinheiro da Silva torna-se o novo diretor do SEF para em Agosto de 2023 dar lugar a Paulo Batista. Pelo caminho o SEF esteve para ser extinto, com a extinção suspensa, adiada e anunciada. O seu fim está agora agendado para Outubro deste ano. Em sete anos o SEF teve sete directores. Viu serem condenados por homicídio três dos seus inspectores.  Trabalhou de forma tão deficiente que floresceu no país um esquema de venda de senhas para atendimento no SEF. Os imigrantes desesperam pela regularização dos seus documentos… Azar deles o governo ser de esquerda e dizer-se todos os dias a favor das migrações e da inclusão.