Quer agendar uma ida às Finanças mas mandam-no para uma cidade distante? Escreva à mãe das gémeas luso-brasileiras tratadas no Hospital de Santa Maria que por sua vez escreverá à Autoridade Tributária que logo no cumprimento da lei o atenderá.

Precisa de ir a uma urgência pediátrica no SNS mas esta está fechada? Telefone à mãe das gémeas, sejam elas luso-brasileiras (ou brasileiro-lusas  que nisto da composição de palavras também deve haver lugar para a reciprocidade!) e, no cumprimento dos regulamentos , verá não só a urgência abrir como funcionar com o número de profissionais previstos na lei.

Telefonou para a esquadra e disseram-lhe que não podem sair da esquadra porque ou não têm agentes ou as viaturas estão avariadas ou ambas as coisas? Mande um mail às gémeas que de tão faladas em Portugal já devem estar ao corrente do que se passa nesta pátria e elas podem gravar uma mensagem destinada ao director da PSP (ao ministro da Administração Interna por agora é melhor não dizer nada que ele mesmo já anda gémeo de si: uns dias é ministro noutros candidato à liderança do PS)…

Na verdade sofri uma espécie de epifania ao ler as explicações de Marta Temido  sobre o tratamento das gémeas luso-brasileiras no Hospital de Santa Maria: “Se há uma nota de que há duas crianças que precisam de um tratamento, se as crianças têm documentos nacionais do nosso país, o normal era as crianças serem tratadas no nosso país e, portanto, bastava o encaminhamento normal, que era aquilo que se fazia no Ministério da Saúde para a instituição. Não percebo o mal-estar dos médicos no Santa Maria, a lei é clara”  Claro que tudo correu no estrito cumprimento da lei, dos procedimentos e dos regulamentos!  O que Marta Temido, e também Marcelo Rebelo de Sousa, não percebem é que de cada vez que dizem que tudo correu como devia ter acontecido, os portugueses lembram-se das várias vezes em que quotidianamente se confrontam com um estado em que do acesso à justiça ou à saúde nada corre como devia acontecer.  Em que as leis claríssimas não são cumpridas pelo menos no imediato. Em que os regulamentos são invariavelmente sacrificados à insuficiência de meios e em que os procedimentos se tornaram mais instáveis que o vento. Que se diga que a lei foi cumprida aparece na sua excepcionalidade como o privilégio de alguns e não como um direito de todos.

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Logo, sigamos as gémeas. As gémeas vão à urgência. As gémeas vão à escola. As gémeas vão ao IMT. As gémeas vão ao quartel… No país onde as gémeas foram atendidas as leis são claras e cumprem-se, os regulamentos regulam e os procedimentos seguem-se. Nós também queremos esse país.

É um símbolo novo e distinto, representativo do Governo da República Portuguesa, que responde de forma mais eficaz aos novos contextos, determinados pela sofisticação da comunicação digital dinâmica e por uma consciência ecológica reforçada”, explica o Governo sobre a alteração. Outro objetivo da mudança foi o de tornar a imagem mais “inclusiva, plural e laica”.”

A justificação para a alteração da bandeira na imagem governamental é um chorrilho de banalidades em que se alinham os lugares mais comuns. Temos logo a referência à “consciência ecológica reforçada” coisa que em si mesma não quer dizer nada: não se gasta nem mais nem menos papel ou tinta por se ter mudado o símbolo, antes pelo contrário, quantos cartões, formulários , painéis… vão ser inutilizados para passar a usar a nova simbologia? Será interessante fazer as contas.

Resolvida esta primeira e óbvia tolice passemos para a questão da imagem mais “inclusiva, plural e laica”. Quem lhes disse que aquele círculo ladeado por dois rectângulos são mais inclusivos, plurais e laicos que a esfera e os castelos? Eu não vejo nada inclusivo, plural e laico nesta nova imagem. Antes pelo contrário, naqueles dois blocos retangulares com um círculo amarelo no meio vejo sim o culto pagão do sol ladeado por dois símbolos fálicos. Portanto digam adeus à laicidade, à inclusão e à pluralidade. Também me ocorreu que se pode tratar duma homenagem patriótica ao bitoque na versão vegetariana colocando uns pickles de pimentos verdes e vermelhos ladeando um ovo estrelado.

Dir-me-ão que se trata de interpretações literais e por isso eivadas de ignorância. Também acho. Mas tão literais e ignorantes quanto a leitura que o ainda  governo faz da bandeira portuguesa. Perdoa-se-lhes porque a quem nada de obra tem para mostrar só restam estes rompantes para procurar deixar marca.