E se os portugueses acharem, realmente, que bacalhau do mais barato basta? Então, não devem ambicionar outra coisa senão as políticas socialistas da geringonça. Elas estão muito bem e garantem a vida simples que Salazar nos recomendava.

Enriquecer?! Deus me livre!

Há o Petróleo. É possível que haja petróleo na plataforma exclusiva de Portugal, e o Estado português chegou a assinar contratos para prospecção. Mas Portugal não vai ter petróleo, porque Portugal não quer. O petróleo é mau. Cito, em abono disso mesmo, as mesmas pessoas a que os nossos media consultam para ouvirem proclamar verdades imorredoiras do alto dos seus 8% de votos (no entanto indispensáveis ao PS): Joana Mortágua decidiu em Agosto passado que o petróleo pode ser «um crime ambiental e um arrependimento de gerações», e Catarina Martins já determinara em Janeiro de 2017 que «as populações levantaram-se» contra ele.

Os contratos, assinados pelo anterior governo – o que, segundo a doutrina actual, os torna maus por definição – tinham, segundo nos dizem, o mesmo defeito do petróleo: não eram transparentes.

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E eis como, por felicidade, não incorreremos no triste destino da Noruega, que, além de nos vender bacalhau, é produtora de petróleo (nós, não!), 7.º país mais rico, próspero e feliz do Mundo (nós, não!), tem um PIB per capita de mais de 62.000 euros (nós, 29.000), e é a 16.ª nação mais competitiva do Mundo (nós, 34.ª).

Não queremos ser como a Noruega. Não há nada como as nossas renováveis e a nossa «transição energética», que sempre permitem mais um imposto, mais um emolumento, mais uma taxa – para custo actual e felicidade futura, como no credo socialista.

Petróleo?! Pfff.

Há o Turismo. Segundo dados do Banco nacional, Portugal ultrapassou os 15 mil milhões de euros em receitas de turismo em 2017, um recorde absoluto na rubrica correspondente da balança de pagamentos. O Turismo contribuiu significativamente para a revitalização de várias zonas de Lisboa e Porto, para a renovação de imóveis e ruas inteiras. Apesar do que, e afinal, o turismo é, segundo nos dizem, mau, a começar pelos próprios turistas, a passar pelo alojamento local, e a acabar na «gentrificação» e na «descaracterização» das cidades. Mariana Mortágua postula que é «uma actividade volátil» e de curto prazo, que não acautela o futuro. E Catarina Martins, proprietária de um alojamento local, assegura-nos que o alojamento local, por mais prédios que recupere, é «uma forma de hotelaria de alta densidade que está a expulsar moradores».

Temos, pois, que lançar taxas e estabelecer quotas. Temos, pois, que combater o turismo. Uma geração que vive do Turismo não é uma geração.

O Turismo?! Pffff.

Há o papel e a pasta de papel. A indústria privada do papel e da pasta de papel contribui anualmente com mais de 2,5 mil milhões de euros para a economia portuguesa, e é responsável de 3100 postos de trabalho directos. Há, no entanto, um problema: a principal matéria-prima das celuloses é o eucalipto. E, embora não existam provas de que o eucalipto seja prejudicial ou responsável pelos grandes fogos florestais – havendo mesmo provas científicas do contrário –, sobreleva que Catarina Martins já estabeleceu, durante um passeio pela Covilhã, em Julho, que «o eucalipto é a espécie que faz mais vítimas», e que Carlos Matias, do mesmo reverenciado Bloco, disse ao Parlamento que «arrancar os eucaliptos é uma medida de urgência que se impõe». Pensa o mesmo o senhor Presidente da República, que logo partiu a demonstrar o seu vigor físico arrancando eucaliptos entre câmaras de televisão e selfies.

As celuloses cheiram mal da boca, o eucalipto é uma vergonha, 2,5 mil milhões não valem nada, e 3100 empregos são um horror.

Morra o eucalipto (e o dinheiro e os empregos)! Pim!

O Dr. Salazar costumava dizer que «os homens mudam pouco e então os portugueses quase nada». A acreditar em Salazar e nas meninas do Bloco – que os media reverenciam e de cujos votos Costa tanto precisa – os portugueses ficariam mais felizes na situação que Salazar recomendava em discurso de 1938: «A miséria parece uma secreção do progresso e da civilização. Não é nos campos, onde a vida é simples e sem ambições, que a miséria se torna aflitiva, dramática. A sua tragédia desenvolve-se antes nas cidades (…) tanto mais insensíveis e duras quanto mais civilizadas».

Os portugueses que tenham o mesmo nojo ao negrume do progresso devem votar socialista, devem votar bloquista, devem votar comunista. O PS, o PC, o BE é que lhes garantirão o conforto e a modéstia da pobreza, como o Dr. Salazar.

Pobres e a empobrecer relativamente

Sempre que ouvirem o dr. António Costa dizer que Portugal vive um milagre económico, descontem a fantasia. O dr. António Costa tem, parafraseando o que o outro disse do outro, uma relação habilidosa com a verdade.

Em 1999, Portugal tinha 84% do rendimento per capita europeu; divergiu e tem hoje apenas 78%. A economia desacelerou para o ritmo mais lento desde a primeira metade de 2016, e tem a quinta taxa de crescimento mais baixa da Zona Euro. A previsão de crescimento por parte da Comissão Europeia para 2019 é de 1,8%, o que corresponde à 21.ª posição entre 28 países e ficará abaixo da média europeia de 1,9%. Em 2018, ultrapassar-nos-ão em riqueza a República Checa, a Eslovénia, a Eslováquia, a Lituânia e a Estónia. E, continuando as coisas como estão, a próxima década promete-nos que seremos também mais pobres que Croácia, Hungria e Polónia.

O «milagre económico» é como o «fim da austeridade» e a «redução da carga fiscal» – não existe. Portugal é pobre e está em vias de empobrecimento relativo.

O milagre económico de Costa resume-se, afinal, às habilidades de controle do défice por parte do senhor ministro das Finanças – o tal Centeno que todos os ministros são – e a um factor estranho ao governo.

O factor estranho é o tímido crescimento da economia, ou seja, das exportações (que, no entanto, abrandaram). Ao contrário do mito da esquerda, os empresários portugueses não só não são medíocres, como merecem uma ovação em pé por conseguirem resultados positivos num ambiente ideológico, político e fiscal tão claramente anti-empresarial. As actividades privadas são tidas por andanças do demónio; o lucro, considerado um pecado capital; a liberdade económica e os mercados, apelidados de casino; a concorrência, olhada como uma aleivosia; e a flexibilidade laboral das sociedades modernas, é o inferno. A demonização de tudo o que não é público ou estatal (por mais que escolas e hospitais privados ou de gestão privada demonstrem ser mais baratos e melhores) já se traduziu no abandono da reforma do IRC de Lobo Xavier, que nos tornaria competitivos na atracção de investimento estrangeiro; passa pela burocracia e a incerteza fiscal; e remata nos persistentes e fatídicos empurrões ao salário mínimo.

As habilidades próprias do ministro Centeno no controlo das contas públicas são, fundamentalmente, duas: as cativações e a redução do investimento público. Ou seja, isso mesmo que faz do transporte ferroviário uma anedota confrangedora; do Serviço Nacional de Saúde uma ilusão perigosa; das Polícias e da segurança pública uma incerteza trágica; da Justiça um traiçoeiro alçapão (como, mais literalmente, no vídeo de protesto da Associação Sindical dos Juízes, em que um incauto cai pelo poço de um elevador). É o que faz dos «manuais escolares gratuitos» um calote a editoras ou livreiros; da baixa das propinas universitárias a impossibilidade imediata de mais residências universitárias e a asfixia a prazo do Ensino Superior; e dos passes sociais mais baratos uma dívida por pagar às empresas transportadoras. São as proverbiais «políticas para as pessoas» pagas com o dinheiro dos outros.

Naturalmente, a dívida pública sobe aos 249,3 mil milhões de euros, aproximando-se do recorde de Maio de mais de 250 mil milhões, enquanto a economia europeia começa a arrefecer. Quando o arrefecimento geral chegar – ou, caso prefiram o outro extremo climatérico para dizer o mesmo, quando o diabo chegar – encontrar-nos-á como é costume: vulneráveis e impreparados.

As corporações, a mole e os inconformados

No Portugal socialista existem «os nossos», o voto amigo, e a mole. Os inconformados emigraram ou vegetam sem representação.

«Os nossos» estão distribuídos pelos vários Ministérios, Secretarias, Assessorias, Direcções-Gerais, Autoridades, Institutos, Comissões, Observatórios, Fundações, Orgãos Consultivos, Empresas Públicas Estatais e Municipais, Associações, Administrações, Agências, etc. Nestes, o êxito mede-se pelo bem-estar das hierarquias e respectivo pessoal, não, evidentemente, pelo grau de satisfação de utentes, consumidores ou público em geral. Em última análise, seria concebível, por exemplo, que a CP não tivesse sequer comboios, desde que dirigentes e maquinistas se sentissem contentados.

O voto amigo concentra-se nos dependentes do Estado, funcionários públicos e reformados, sobretudo. Esses são os alvos prioritários de regalias (sobretudo aquelas cujos custos juradamente inexistentes afinal chegam a prazo, como a diminuição do horário de trabalho para as 35 horas semanais), de todos os aumentos (mesmo que simbólicos, de 1 ou 2 euros nas pensões), e de toda a propaganda e ilusões (como verificaram os professores).

A mole abúlica vai vivendo em vez de viver. Não ambiciona muito. Não ambiciona mais. Talvez vote, conformada; ou talvez não vote, já não porque «a sua política é o trabalho», mas porque «os políticos são todos iguais». Vive com quase 600 euros, que era o salário mínimo, e se vai tornando o salário médio nacional. Em 2015, o número de trabalhadores a auferir o salário mínimo era de 511.900; em 2016, ultrapassou os 600 mil; em Março de 2018 estava em mais de 760 mil. (Eram 276 mil em 2012).

A mole julga que não paga impostos, e, por isso, não repara na carga fiscal, em máximos de 34,7%, nem no esforço fiscal, 37% acima do dos alemães. Não se lembra dos 23% de IVA. Não repara que na factura de 25 euros de água, a água, propriamente, custa 11; não se incomoda que a factura de electricidade e gás suba a 70 euros devido aos 20 euros de taxas, impostos e contribuições; e tolera que do 1,5 euros que paga por cada litro de combustível que mete no carro a crédito, 90 cêntimos sejam para o Estado.

A mole vive mal e a prestações. Só em Maio deste ano, contraiu 667 milhões de euros em crédito ao consumo, mais 16% do que no ano anterior, um recorde absoluto. O governo diz-lhe que «é a vida», e os media de reverência dizem-lhe que há distensão, que há vitórias todos os dias, e que a austeridade acabou. E que, se alguma coisa corre mal, é culpa dos neoliberais, ou do Trump, ou dos americanos, ou do capitalismo, ou dos privados, ou dos especuladores, ou dos ingleses, ou dos alemães.

Há uma parcela inconformada da população? Talvez, mas não se sabe quantos são. Parte dela não tem voz nem representação política, boa parte dela estará na abstenção. Só é contabilizável a parte restante que emigrou. São os portugueses que mudaram – logo, mudaram-se. O Dr. António Costa sonha que não tivessem emigrado, sonha tanto que até afirma que a emigração parou e que há um regresso jubiloso e em massa. Mas é mentira. Em 2016, emigraram 54.750 pessoas; em 2017, 57.315.

As televisões, no entanto, deixaram de reportar tragédias pessoais, fracturas familiares, choros convulsivos de despedida nos aeroportos e nas gares. Agora, de vez em quando, vão a Londres entrevistar algum emigrado português. Quando lhe perguntam se tenciona voltar, a resposta é invariavelmente que não. Prudentemente, as televisões nunca perguntam porquê.

A vida simples, realmente…

Já dizia, em 2016, o senhor ministro das Finanças, dr. Mário Centeno, que qualquer português que tenha um rendimento bruto de 2000 euros mensais é «altamente privilegiado». Ou seja, é altamente privilegiado quem, descontados os impostos directos e indirectos, dispõe de cerca de 1200 euros por mês. Dando de barato que o senhor ministro não está, afinal, a salivar acerca de um acréscimo do saque fiscal sobre tão «altos privilégios», a sua afirmação traduz cristalinamente o projecto socialista: qualquer coisa como 1200 euros para os altamente privilegiados; o privilégio simples por volta dos 1000 euros mensais; 600 euros mensais para o povo em geral.

Tão cedo ficou claro que o desconto na factura de electricidade não passava de propaganda e miragem, o senhor ministro do Ambiente, dr. João Pedro Matos Fernandes, teve uma ideia: que as famílias reduzissem a potência contratada para os 3,5 kVA, e assim vivessem feliz e poupadamente. Não dá para máquinas de lavar roupa e louça, frigorífico e arca, e ainda aquecimento, mas há virtude na modéstia.

As bem-aventuranças socialistas de Costa, Centeno e Fernandes, são tal qual as que Salazar recomendava perante Christine Garnier: «Julgo mais simples atingir a felicidade pela renúncia do que pela procura e satisfação de necessidades sempre mais numerosas e intensas.»