A dívida das empresas portuguesas vai continuar acima dos 70% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). No relatório de estabilidade financeira, divulgado nesta quarta-feira, Portugal é um dos quatro países do euro (os outros são França, Itália e Espanha) onde o nível de endividamento empresarial se manterá a um nível considerado excessivo, perante as atuais perspetivas de crescimento económico modesto e sobretudo de inflação baixa.

Portugal é também um dos países onde a dívida das empresas atinge hoje um nível mais elevado do que o registado na pré-crise. Em termos brutos, a dívida das empresas nacionais é mesmo a que pesa mais no PIB nos 13 países analisados, situando-se nos 108,5% em 2014.

Portugal volta a ser referido, no parágrafo seguinte, mas agora ao lado do Reino Unido, e a propósito da dívida das famílias que, segundo as projeções do FMI, vai permanecer a um nível alto nestes dois países, quando comparado com a generalidade das economias desenvolvidas. A dívida bruta das famílias portuguesas baixou em relação a 2007, mas no ano passado ainda representava 82,6% do PIB, uma percentagem que só é ultrapassada pelo Reino Unido.

Este quadro, diz o Fundo, exige respostas para atacar o legado da crise e libertar o potencial de crescimento económico. Um dos caminhos seguidos com resultados em outras economias foi uma política monetária expansionista que permitiu valorizar os ativos, reduzindo ao mesmo tempo a alavancagem. No entanto, este mecanismo ainda não beneficiou os países mais endividados do euro, Portugal incluído, um cenário que deverá mudar com a recente iniciativa do Banco Central Europeu.

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Mas para o Fundo, a política de injeção de liquidez na economia (quantitative easing) do BCE não chega para responder ao problema. A iniciativa deve ser complementada com medidas específicas para sanear os balanços do setor privado, reforçando a solidez das instituições não financeiras. Uma das matérias mais prioritárias é aliviar o fardo do crédito malparado que atinge já 900 mil milhões de euros.

Dados conhecidos esta semana do Banco de Portugal, mostram que o crédito malparado continua a subir nas famílias e nas empresas atingindo em fevereiro os valores mais altos desde que são divulgadas estas estatísticas. Os bancos nacionais estão no grupo de seis países onde os ativos em risco representam 10% ou mais da sua exposição total. Esta situação, trava a concessão de novo crédito por parte do sistema, limitando o investimento e atrasando a retoma.

Os bancos devem ser encorajados a desenvolver capacidade interna e externa para resolver os empréstimos em incumprimento, propondo ainda o FMI que devem ser tomadas mais medidas ao nível da legislação de insolvências de empresas e pessoas. Em matéria de financiamento, o FMI defende ainda uma diversificação acrescida das fontes que dê prioridade ao mercado de capitais, em detrimento do crédito bancário.