Ninguém faz tantos golos quanto o Benfica cá no burgo — sobretudo na Liga, onde a contagem vai em 54 remates com a direção que se quer, contra os 43 do Sporting e 40 do FC Porto. Que o diga o Moreirense, que em cinco dias encaixou dez deles, todos em casa, primeiro na terça-feira (6-1) para a Taça da Liga e este domingo para o campeonato, onde o Benfica se recolocou no 2.º lugar, a somente dois pontos do Sporting e com três e avanço para o FC Porto, o terceiro. E ninguém faz tantos golos quanto Jonas, também. O pistolas bisou hoje e chegou ao 21.º golo em vinte jogos. E, novamente, o Moreirense que o diga: é que Jonas, em cinco jogos com o Moreirense, fez não cinco, não seis, mas sete remates que o guarda-redes (hoje foi Stefanovic, mas outros lhe seguiram a viagem) teve que ir buscar onde menos gosta, ao fundo das redes.

Mas o jogo de hoje, apesar da goleada dos encarnados, foi mais consentido (pelo Moreirense, entenda-se) do que conseguido. Isto ao contrário do que se viu na terça-feira, onde o Moreirense mal soube se a bola era redondinha ou quadrada; nem lhe tocou. Hoje começou por ser assim, também, com o Benfica a circula-lá, sobretudo por Renato Sanches (Gaitán regressou à titularidade na Liga, quatro jogos depois, mas apesar da classe que tem dos pés à cabeça, está à procura da melhor forma), sem que o Moreirense a recuperasse.

Mas foi-a recuperando — mesmo que a perder cedo, depois de uma cabeçada de Jonas na área para o 1-0 –, sobretudo por Palhinha, um verdadeiro morde-canelas (à imagem de William Carvalho, até no arcabouço), que rapidamente devolvia o produto do “roubo” a Iuri Medeiros, outro que é made in Alcochete. E Iuri fez o que pôde — foi ele o autor do golo de honra dos das camisolas esquisitas no jogo da Taça da Liga. Mas Júlio César, nos dois remates que o extremo açoriano fez, de canhota à solta no relvado, ziguezagueante, defendeu os dois. A custo, mas defendeu.

O Benfica, mesmo com o ritmo a baixar aos poucos, talvez demasiado para encher o olho dos milhares de benfiquistas que esgotaram o estádio comendador Joaquim de Almeida Freitas, chegou ao 2-0 mesmo em cima do intervalo, numa “bomboca” de Mitrolgou, de primeira e no meio da área, depois de assistido por Eliseu.

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O Benfica desceu às cabines. O Moreirense também. Mas, pelo menos até aos 67′, só de lá retornaram os da casa. É que ao Benfica, apesar de circular de cá para lá e de lá para cá a redondinha — quem tem Gaitán, Sanches ou Pizzi em forma, não conseguir fazê-lo é que seria obra –, não se lhe viu um só remate. Aliás, se se contabilizar o único do recomeço, por quem mais se não por Iuri, o Moreirense até tinha tantos quanto o Benfica. Mas aos 67′ surgiu outro dos imprescindíveis de Brecht: Jonas. Foi tudo ao primeiro toque: Eliseu entregou a bola a Pizzi no meio, Pizzi abriu as pernas e deixou-a passar para Jonas, Jonas devolveu-lha, Pizzi retribuiu a gentileza, e o pistolas, sozinho na área, driblou Stefanovic e encostou para o 3-0.

O Moreirense, até ali, acreditou que perdido por cem, perdido por mil, e fez de tudo para não só não ser goleado, como para fazer dos rostos cabisbaixos de terça-feira, rostos de cara erguida hoje. Ao terceiro golo, a ampulheta voltou-se para outra banda que não essa: o importante era fechar a baliza. Antes perdido por três do que por seis. Mas o Moreirense sofreria mesmo o 4.º golo. É que quando se recua demais, a tendência é a de baralhar as marcações e ninguém sabe quem há-de marcar quem. E quando há Jonas e Gaitán, até os concentrados se baralham, quanto mais os já de si baralhados, O pistolas desmarcou Gaitán (a primeira assistência foi de Jiménez) de primeira na área e o argentino “só” desviou de Stefanovic. Mas o “só” em Gaitán é classe a transbordar da canhota. Contavam-se 75′.

Esperar-se-ia que o Benfica chegasse à mão-cheia e depois à meia-dúzia, como cinco dias antes. Mas não. O que fez foi gerir. Geriu com bola o cansaço, que é como ele deve ser gerido, e não mais se lhes viu um remate. O que se viu foi o de Iuri, mesmo a terminar, aos 92′, um remate de raiva, na área, o seu quarto remate no jogo e o quarto do Moreirense. Se ao menos ele tivesse sido tão eficaz quanto o Benfica (que marcou quatro golos em cinco tentativas com o destino das redes), a história seria outra. Mas não foi. É que ele é só um e o Benfica tem pelo menos (ou teve, hoje) quatro Iuris: Júlio César a defender tudo, Renato Sanches a pautar o quanto se corre e quando se corre, Gaitán de batuta na mão (ou no pé) e Jonas de mira (as usual) afinadíssima.