Os filhos de mães com baixa escolaridade correm um maior risco de sofrerem de excesso de peso e obesidade do que os filhos de mães com escolaridade elevada, concluiu um estudo internacional cuja equipa integra os investigadores portugueses Henrique Barros e Sofia Correia, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP).

Para o estudo “Impacto da Baixa Escolaridade Materna no Excesso de Peso e Obesidade na Primeira Infância na Europa”, publicado na revista científica Paediatric and Perinatal Epidemiology, foram usados dados recolhidos de 11 estudos europeus de coorte (projetos em que os participantes foram avaliados ao longo do tempo).

Ao todo, foram reunidos dados relativos a 45.413 crianças, entre os 4 e os 7 anos, de modo a avaliar a prevalência de peso e de obesidade de acordo com os critérios da International Obesity Task Force, da Associação Internacional para o Estudo da Obesidade. Para avaliar a situação portuguesa foi utilizada informação reunida no âmbito do projeto Geração XXI, uma coorte que segue mais de 8.500 crianças nascidas a partir de 2005.

Em Portugal, o estudo registou uma percentagem de 20,8% de crianças com excesso de peso, um número semelhante ao observado em Espanha (19,6%) e Reino Unido (20,7%). A percentagem mais baixa foi registada na Ucrânia (7,6%) e a mais alta na Grécia e em Itália (24%). No que diz respeito à obesidade, Portugal registou a percentagem mais alta dos 11 países analisados (6,5%) e França a mais baixa (1%).

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A par de “percentagens elevadas de excesso de peso e de obesidade”, no caso de Portugal foi ainda registada “uma percentagem elevada de mães pouco escolarizadas”, afirmou a investigadora Sofia Correia. “As desigualdades foram semelhantes às observadas em outros países europeus, embora a diferença absoluta na proporção de excesso de peso entre os extremos de escolaridade tenha sido particularmente elevada nas raparigas.” Portugal é, a seguir à Grécia, o país onde existe uma maior percentagem de mães de crianças com excesso de peso com qualificações baixas.

“Independentemente de outras características, o risco de excesso de peso em crianças pouco escolarizadas foi cerca de 1,6% superior ao daquelas no topo da hierarquia”, explicou a investigadora da ISPUP. “Quando avaliado o risco de obesidade, a desigualdade foi ainda maior, com um risco 2,6 vezes superior. Em termos absolutos, verifica-se uma diferença média entre os extremos de escolaridade na proporção de excesso de peso e de obesidade de quase 8% e 4%, respetivamente.”

De um modo geral, “observaram-se diferenças sociais na composição corporal das crianças em diferentes países europeus, o que poderá contribuir para perpetuar a desvantagem social na saúde nos próximos anos”, concluem os autores do estudo. “Estes resultados reforçam a urgência de uma intervenção precoce, mesmo antes do nascimento, no sentido de alcançar equidade na saúde.”