As referências à Austrália foram apagadas de um relatório da UNESCO sobre o impacto das alterações climáticas em locais classificados como património mundial da humanidade depois de uma intervenção do governo. De acordo coma edição australiana do The Guardian, as autoridades locais invocaram o impacto negativo para o turismo da inclusão na lista da Grande Barreira de Corais, um dos principais focos de atração do país.

O relatório Património da Humanidade e Turismo num Clima em Mudança elenca 31 locais que estão vulneráveis a fenómenos como o aumento da temperatura, o degelo de glaciares, a subida do nível das águas do mar, a intensificação de eventos climatéricos extremos, o agravamento das secas e das épocas de incêndios. A lista inclui atrações turísticas tão procuradas como a Estátua da Liberdade em Nova Iorque e a laguna de Veneza, em Itália, mas também as Ilhas Galápagos, a Gronelândia, o parque natural de Yellowstone nos Estados Unidos ou o monumento pré-histórico Stonehenge, no Reino Unido.

O documento com cerca de 100 páginas não faz referência à Grande Barreira de Corais na Austrália, apesar de ser um facto do conhecimento público que o aquecimento da temperatura da água tem tido um efeito de devastador ao nível da descoloração dos corais que já prejudicou ou matou 95% das barreiras na região norte. Este efeito tem sido classificado pelos cientistas como a descoloração mais grave registada na história da grande barreira.

O problema do branqueamento dos recifes de corais é referido no relatório, no entanto, é apenas apontado um ecossistema específico, na ilha francesa da Nova Caledónia no Pacífico Ocidental. Segundo o Guardian Australia, o relatório incluía um capítulo central sobre a Grande Barreira de Corais, bem como referências a Kakadu e à floresta da Tasmânia.

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Estes conteúdos incluídos na versão preliminar terão sido removidos do documento final por pressão das autoridades australianas que invocaram o impacto negativo que estas informações teriam no turismo do país. A intervenção terá sido desenvolvida pelo departamento ambiental australiano. Um porta-voz desta entidade, citado pelo Guardian Australia, justifica: “A experiência recente na Austrália mostra que um comentário negativo sobre a situação dos locais classificados como património da humanidade tem impacto no turismo”.

Segundo o jornal, não foram eliminadas referências a outros países. A Oceânia é assim o único continente que não é mencionado no documento.

O relatório é uma iniciativa da UNESCO (a organização das Nações Unidas para educação, ciência e cultura), que é responsável pela atribuição da classificação de património da humanidade, do programa ambiental da ONU e da Union of Concerned Scientists.

Will Steffen, um dos cientistas que foi responsável pela revisão da secção censurada sobe a grande barreira compara a intervenção australiana à atuação da antiga União Soviética e deixa um apelo no site do Climate Council (Conselho do Clima), ao que já é conhecido como o reefgate.

“Como cientista estou zangado, como australiano estou dececionado, como responsável pelo Climate Councillor, estou a pedir a vossa ajuda”