“Já é tarde para tomar medidas que corrijam o défice deste ano.” As palavras são de Subir Lall, chefe de missão do FMI em Portugal, que numa entrevista ao jornal Público defende que o foco do Governo deve estar agora em 2017. Questionado sobre a possibilidade de o défice chegar, pelo menos, aos 2,5%, Subir Lall afirma que em junho deste ano já tinham avisado “que se estava a chegar a uma altura tardia do ano para que se tomassem medidas adicionais”, pelo que já não consegue conceber “as medidas que possam nos últimos três meses do ano compensar o diferencial existente”.

Na edição impressa do jornal Público desta sexta-feira, o homem forte dos relatórios de análise a Portugal feitos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) defende que a principal preocupação passa pela necessidade de “medidas realistas” que consigam garantir um ajustamento do défice em 2017 e nos anos seguintes.

Referindo-se ao OE 2017, Lall desvaloriza o aumento dos impostos indiretos proposto pelo Governo de António Costa, assegurando que o crescimento económico passa pelo setor privado, mas também pela reforma no lado da despesa, nomeadamente no que se refere aos salários da função pública e às pensões:

Os impostos, incluindo os impostos indirectos, são já bastante elevados em Portugal. A taxa de IVA é em geral bastante alta. É por isso que achamos que a reforma da despesa seria uma forma preferível de atingir as metas orçamentais. A reforma dos salários da função pública e das pensões e uma melhor definição dos alvos dos benefícios sociais, em vez de depender demasiado dos impostos, sejam eles directos ou indirectos, são opções mais favoráveis.

Considerando as propostas apresentadas pelo Governo, nomeadamente o Plano Nacional de Reformas, Subir Lall garante que as propostas em cima da mesa estão a ser bem acolhidas, mas salienta que o FMI está mais centrado em temas como a política salarial, as pensões, a reforma da administração pública, o sistema financeiro e ainda a energia, áreas que diz serem “de estrangulamento do crescimento económico”.

E por falar em crescimento, ou falta dele, Lall assegura que o atual abrandamento da economia portuguesa não se deve necessariamente à interrupção da produção da Galp, tida como parte de “efeitos temporários de pequena dimensão”, ou ao impacto do Brexit, que foi muito reduzido (o FMI estima que tenha tido um impacto máximo de apenas 0,1% do PIB).

Quanto ao aumento do salário mínimo nacional, o entrevistado reforça a ideia de aumentar, em simultâneo, o emprego e os rendimentos, sendo para isso necessário aumentar a procura da força de trabalho — “só os empregadores privados é que podem aumentar essa procura para a economia”. E acrescenta: “não somos favoráveis a um aumento do salário mínimo. Isso não cria empregos”.

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