O ministro venezuelano do Comércio Exterior afirmou em entrevista à agência Lusa que o Governo admite a crise económica no país mas garante que houve progressos, que continuarão em 2017.

“Nós não negamos que há uma crise no país. Estamos a combatê-la. O Governo estabeleceu um decreto de emergência económica justamente para que, com medidas e estratégias de emergência, seja possível superar essa situação muito complexa”, declarou à Lusa, Jesus Faria, ministro do Comércio Exterior e Investimento Internacional da Venezuela.

O ministro venezuelano fez estas declarações após o seminário “Oportunidades de Negócio e Investimento na Venezuela”, que decorreu esta sexta-feira na sede da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), em Lisboa.

“É uma crise que é determinada por um modelo económico dependente que se instaurou no início do século passado, que está absolutamente esgotado. É um modelo que nos colocou numa situação terrível da dependência do petróleo”, disse.

De acordo com Jesus Faria, os preços do petróleo caíram no mercado internacional e a economia da Venezuela entrou em queda sem defesas. O país é altamente dependente das importações e foram afetados por uma guerra económica que tem a sua manifestação na especulação cambial, que deteriorou muito o valor da moeda venezuelana.

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“Nos meios de comunicação maciços, os que dominam o planeta, fala-se que há uma crise humanitária no nosso país e que existe uma situação de pré-guerra civil, falam de um governo autoritário que ataca propriedade privada e a iniciativa empresarial, mas são calúnias difundidas por todo o planeta para prejudicar a imagem do país”, avaliou.

“Há, em termos gerais, uma união da grande maioria dos meios de comunicação para desenvolver uma matriz de opinião que pretende minar a nossa estabilidade, já que são campanhas que se fundamentam em mentiras e meias verdades. Deformam, distorcem a realidade e a promovem por todo o planeta”, acrescentou.

Essas atitudes pretendem, segundo Jesus Faria, “impedir que o país possa articular-se em todos os centros que dinamizem o desenvolvimento económico mundial e impedir que o país possa sair da crise”.

“Estamos conscientes que a nossa revolução tem muitos inimigos”, referindo-se aos Estados Unidos, que é apologista de uma política de dependência dos latino-americanos, assim como a oligarquia local venezuelana, que sempre espoliou as riquezas da Venezuela.

Para Jesus Faria, o pior da crise económica já passou e os progressos nesta área terão continuidade no próximo ano.

O ministro venezuelano acredita que a oposição estaria disposta a “incendiar o país” se tivessem a certeza que derrubariam o Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acrescentando que há muitas tentativas de ingerência por parte dos Estados Unidos e da Organização dos Estados Americanos (OEA) nas questões internas da Venezuela.

“O referendo de revogação (do Presidente Nicólas Maduro) não foi adiado. O referendo revogatório é uma figura constitucional que se rege por leis. Há uma lei eleitoral em nosso país que estabelece alguns procedimentos”, também disse o ministro.

Segundo o político, os meios de comunicação internacionais, através de meias verdades, estão a contar mentiras e que o Governo venezuelano está a impedir o prosseguimento do processo para o referendo.

Esta semana, o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela referiu, em comunicado, que o referendo “pode acontecer a meio do primeiro trimestre de 2017”.

“A força opositora teve a oportunidade de ativar o processo do referendo revogatório a 10 de janeiro e não o fez, somente o fizeram no final de abril, quase quatro meses depois. Temos prazos longos, de recolhimento e autenticação de assinaturas e preparar eleições” e tudo isso leva muito tempo a ser organizado, disse.

Segundo o ministro, a oposição não estava realmente interessada no referendo revogatório, pois pensaram que o Governo não aguentaria e cairia, mas como isso não aconteceu, quiseram sim aproveitar-se deste mecanismo para dar uma “faixada democrática e desestabilizar o país”, através de manifestações que tornaram-se violentas.

“Não aproveitaram o momento certo e por isso não há referendo este ano”, disse, acrescentando que se a oposição ainda desejar a realização deste mecanismo, depois de todos os procedimentos legais concluídos, o referendo será realizado em 2017.