A Ordem dos Médicos concluiu que não houve responsabilidade médica no caso da morte de David Duarte no Hospital de São José e acusou a anterior tutela de conhecer “há muito” os problemas de escalas no hospital e nunca os ter resolvido.

O bastonário da Ordem dos Médicos afirmou que aquela situação concreta poderia ter sido resolvida, mas que a falta de decisão por parte da tutela não permitiu que houvesse capacidade para assegurar uma intervenção rápida no jovem de 29 anos que deu entrada, há um ano, em São José com um aneurisma.

A polémica surgiu porque na altura havia problemas com as escalas de urgência e não havia uma equipa capaz de operar o jovem, obrigando-o a esperar todo o fim-de-semana pela chegada de uma equipa especializada na segunda-feira. Mas, antes disso, o aneurisma rompeu provocando-lhe a morte.

O Expresso noticia este sábado que os três relatórios de peritagens pedidos pelo Ministério Público e pelo Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC) à morte de David Duarte, há quase um ano, garantem que não houve negligência na assistência prestada ao jovem.

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As conclusões entregues às autoridades são provenientes do Instituto de Medicina Legal e Ciências Forenses, do Hospital de Santa Maria e da Ordem dos Médicos.

Em declarações à Lusa, o bastonário da Ordem dos Médicos explicou que não houve responsabilidade médica porque não foi violada a ‘legis artis‘, mas que “não havia condições logísticas para no CHLC poderem intervencionar o doente mais cedo e a sua situação clínica não permitia a sua transferência para outro hospital”.

“Houve problemas de logística, porque havia problemas com as escalas por parte dos enfermeiros, e muito legitimamente porque não eram justamente remunerados, a tutela conhecida a situação há muito tempo e não se preocupou em resolve-la portanto a responsabilidade foi da anterior tutela da ARSLVT (Administração Regional de Lisboa e Vale do Tejo] e da anterior tutela do Ministério da Saúde”, acusou.

José Manuel Silva considerou que “todas as responsabilidades devem ser apuradas”, até porque “aquela circunstância específica, que já tinha sido objeto de propostas por parte dos profissionais, poderia ter sido resolvida através da sinergia de meios entre os vários hospitais com recursos de neurorradiologia e neurocirurgia vascular da grande Lisboa”.

“Podia e devia ter sido resolvido assim. Quem de direito que faça essa avaliação, isso já não é competência da Ordem dos Médicos”, afirmou, admitindo, contudo, saber já de antemão qual será a justificação apontada pela anterior tutela.

“A justificação serão as restrições financeiras que se fizeram sentir a múltiplos outros níveis no Serviço Nacional de Saúde e que tem consequências inevitáveis. Ninguém se pode admirar se o financiamento é insuficiente o sistema falha a múltiplos níveis. É inevitável”, afirmou.

Na altura do incidente, em dezembro de 2015, a Ordem dos Médicos denunciou que quatro equipas de neurorradiologia de intervenção tinham apresentando em maio uma proposta para garantir essa assistência especializada em Lisboa ao fim de semana, mas que o anterior ministro nunca lhe deu resposta, perpetuando o problema.

Na mesma altura, o CHLC explicou que o problema com estas escalas se arrastava já há mais de dois anos, uma vez que a prevenção aos fins-de–semana da Neurocirurgia-Vascular estava suspensa desde abril de 2014 e da Neurorradiologia de Intervenção desde 2013.

José Manuel Silva explicou, na mesma altura, que a escala de urgência de neurocirurgia vascular foi suspensa porque os enfermeiros se recusaram a estar de prevenção, com os novos valores propostos pela tutela para lhes pagar as horas de prevenção.

Questionada pela Lusa sobre alguma decisão já tomada relativa a este processo ou sobre alguma queixa-crime que tenha sido apresentada pela família da vítima contra a anterior tutela (ex-ministro da Saúde Paulo Macedo), a ARS e o CHLC, a Procuradoria-Geral da República limitou-se a afirmar que o inquérito se encontra em investigação, estando junto o relatório de autópsia, e que não há arguidos constituídos.