“Na Via Láctea”

Kosta (Emir Kusturica) é um leiteiro que faz entregas durante o conflito dos Balcãs nos anos 90. E chama “via láctea” ao caminho que percorre todos os dias, por ter visto certa vez uma cobra a beber leite derramado no chão. O leiteiro apaixona-se perdidamente por uma refugiada servo-italiana (Monica Bellucci), conhecida como a Noiva, que é procurada por gente nada recomendável e conseguiu abrigar-se num campo de refugiados. A mão dela foi prometida ao irmão da mulher que está por sua vez apaixonada por Kosta, uma antiga campeã de ginástica. Tirando a novidade de Kusturica desempenhar o principal papel masculino, “Na Via Láctea” é mais um filme completamente aconchegado ao universo do realizador. Isto traduz-se em caos, surrealismo, destruição bélica, humor e tragédia, amores assolapados, tropas da ONU, senhores da guerra, tiroteio e copos, bicharada diversa (incluindo um rebanho de ovelhas massacrado num campo de minas, gansos a banharem-se em sangue de porco e um urso que vem comer gomos de laranja à boca de Kosta) e ainda música balcânica fura-tímpanos, esta a cargo de Stribor Kusturica, filho do realizador. “Na Via Láctea” esteve a concurso no Festival de Veneza, onde Kusturica disse que o filme tinha sido recusado em Cannes por ele ser apoiante do presidente Vladimir Putin, o que o terá tornado “persona non grata” na Croisette.

https://youtu.be/LcSGNDIB1pY

“A Luz Entre Oceanos”

Michael Fassbender e Alicia Vikander são os intérpretes deste melodrama fungadíssimo, realizado por Derek Cianfrance, baseado num romance da australiana ML Steadman. O filme é passado na Austrália, pouco depois da I Guerra Mundial. Tom Sherbourne (Fassbender), um ex-militar, arranja emprego como faroleiro numa ilha. Leva com ele a mulher, Isabel (Vikander), que conheceu no continente. O casal tenta ter filhos mas não consegue, e Isabel perde duas crianças de seguida. Um dia, dá à praia um barco a remos onde Tom e Isabel encontram uma bebé viva e um homem morto – aparentemente, o pai da criança. Tom sepulta o morto e vai avisar as autoridades sobre a menina, mas Isabel convence-o a que a criem os dois e a façam passar por filha deles. Tom cede à mulher, e a bebé, a quem chamam Lucy, fica com eles. Tudo parece correr bem até ao dia em que levam Lucy ao continente, para ser baptizada. Enquanto esperam pelo padre, Tom vai dar uma volta e descobre, no cemitério, aquela que identifica como sendo a mãe da criança (Rachel Weisz), ajoelhada junto à sepultura simbólica da filha e do marido. Depois do choque do encontro, a consciência começa a atormenta-lo. O que fazer? Devolver Lucy à mãe legítima e mergulhar Isabel num desgosto sem fundo, ou não dizer nada e ter que viver todos os dias com a imagem da dor daquela? “A Luz Entre Oceanos” foi escolhido pelo Observador como filme da semana, e pode ler a crítica aqui.

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