Como os 25 minutos que mediaram o terceiro e o quarto golo do FC Porto provocaram um longo bocejo (estava tudo decidido e quarta-feira há jogo da Champions frente à Juventus), vamos já começar esta crónica pelo final. Mas não pense que se fica a rir: vai ter de puxar um pouco pela cabeça. Ora então vejamos: 3-1=2. Certo? E 1+2+1=4. Ok? Tudo certo. Vamos então descodificar: ainda antes do intervalo, com a expulsão de Osório, o Tondela teve de mexer e apareceu após o descanso com apenas duas unidades no meio-campo; o FC Porto, que marcara em cima do final da primeira parte, deu uma aceleradela no jogo em 20 minutos, apontou mais dois golos, fechou a loja e limitou-se apenas a reabrir a conta uns segundos antes do apito final para o fim da festa. Isto é matemática. A azul e branco.

Com Rúben Neves no lugar de Danilo (uma alteração arrojada, tendo em conta a importância do ‘6’ no esquema dos dragões) e Otávio de regresso à competição após longa paragem, o FC Porto quis ser como tem sido mas voltou, em alguns momentos, a ser o que era antes desta fase mais positiva: uma equipa titubeante, com dificuldades no último terço, à procura de um golo que baixasse os níveis de ansiedade. Soares, logo aos quatro minutos, obrigou Cláudio Ramos à primeira grande intervenção da partida. André Silva, aos 19′, também falhou. Mas a verdade é que o Tondela, mesmo com menos bola, dava boa réplica e saía com perigo em transições. De tal forma que, em menos de dez minutos, ficou com os dois centrais e o médio mais recuado amarelados por entradas duras.

Ficha de jogo

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Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: Luís Ferreira (Braga)

FC Porto: Casillas; Maxi Pereira, Felipe, Marcano, Alex Telles; Rúben Neves; André André, Corona, Otávio (Óliver Torres, 64’); Soares (Diogo Jota, 64’) e André Silva

Suplentes não utilizados: José Sá, Boly, Herrera e Brahimi

Treinador: Nuno Espírito Santo

Tondela: Cláudio Ramos; Jaílson, Osório, Kaká, Ruca; Hélder Tavares (Fernando Ferreira, 72’), Claude Gonçalves, Pedro Nuno (Rafael Amorim, 46’); Miguel Cardoso, John Murillo e Heliardo (Batista, 65’)

Suplentes não utilizados: Janota, Lystcov, Murilo Freitas e Amido Baldé

Treinador: Pepa

Golos: André Silva (43’, g.p.), Rúben Neves (54’), Soares (63’) e Diogo Jota (90+2’)

Acção disciplinar: cartão amarelo a Kaká (2’), Rúben Neves (23’), Marcano (25’), Felipe (31’), Osório (43’ e 45+2’). Cartão vermelho a Osório (45+2’)

Otávio, com aquele jogo de sombras de quem tão depressa faz magia como desaparece, ainda teve nos pés nova boa oportunidade negada pelo guarda-redes visitante, mas a superioridade do Tondela no meio-campo (3-2) funcionava bem para quem tinha o objetivo de voltar a pontuar (no único jogo da Primeira Liga no Dragão, até tinha ganho: 1-0). Até que, nos últimos cinco minutos, tudo mudou. Foi um instante. E com Osório como figura principal.

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Aos 42 minutos, o central venezuelano terá cometido grande penalidade sobre Soares, abrindo assim espaço para André Silva quebrar o divórcio com os golos (bola para um lado, guarda-redes para o outro e estava dado o nó com as redes). E escrevemos terá porque, nas várias repetições do lance, fica a ideia que Osório agarra o avançado portista mas sem se perceber aquela nobre e difícil tarefa do ser ou não suficiente para a queda. Ainda assim, razão total para o árbitro: Luís Ferreira estava perto, estava de frente e apitou de imediato. Deve mesmo ter sido falta.

Aos 45+2′, quase a acabar o período de compensações da primeira parte, segundo amarelo para o venezuelano. E aqui não houve dúvidas: foi forçado, muito forçado, porque Soares fez a corrida para cima de Osório (ainda lhe acertou com o braço na cara) e procurou claramente a falta e a admoestação. O árbitro foi na cantiga e o Tondela ficou a jogar com dez. Se havia uma má altura para tal acontecer, esta foi ainda pior. Um murro no estômago, um gancho de direita e os visitantes estavam praticamente arrumados (a não ser que houvesse um milagre).

Na reentrada para a segunda parte, a saída de Pedro Nuno para a entrada do central Rafael Amorim (igualando o número de unidades no centro do terreno) foi como a queda de uma pequena pedra no topo de uma montanha que acaba por criar uma gigante avalanche. Primeiro, de golos falhados: Soares, isolado em frente a Cláudio Ramos, atirou ao lado (46′); André Silva, isolado por Corona na área e quase com Cláudio Ramos fora da jogada, atirou ao lado (48′); Otávio, de baliza aberta depois de um cruzamento de Soares, atirou ao lado (55′). Pelo meio, o melhor golo do jogo. E que golo! Rúben Neves, bem fora da área, disparou sem hipóteses para o 2-0.

Se dois já é uma conta pesada, três ainda pior. Mas os primeiros 20 minutos da segunda parte do FC Porto foram completamente arrasadores: Soares marcou mais um golo, o terceiro, aos 63 minutos, antes de sair para poupar energias para a receção à Juventus. E os dragões ainda desperdiçaram mais uns lances de perigo antes da outra avalanche, desta vez de substituições, que “acabou” com o encontro a partir daí jogado a velocidade abaixo de zero. Valeu, para abrir a pestana, o 4-0 de Diogo Jota a poucos segundos do fim da partida.

5

Nos últimos 20 anos, apenas cinco jogadores conseguiram marcar nos três primeiros encontros pelo FC Porto: Jardel, Pena, Falcao, Janko e Soares, aquele avançado a quem chamam “novo Hulk” e que fez o quarto golo desde que se estreou pelos dragões no clássico frente ao Sporting.

Notas a retirar? Soares confirmou o início estrondoso pelo FC Porto, marcando o quarto golo consecutivo em três jogos com a camisola azul e branca; Maxi e Otávio foram poupados para serem armas preparadas para a Juventus; Óliver, Danilo e Brahimi pouco ou nada suaram e vão com a bateria toda para o jogo com os italianos; André Silva, após o jejum de golos, voltou a marcar; Diogo Jota, esse, continua a ser uma máquina como suplente utilizado. E com a confirmação de que é a melhor defesa dos principais campeonatos europeus (apenas 11 tentos sofridos), os dragões passam pelo menos duas noites na liderança provisória da Primeira Liga (o Benfica só joga domingo em Braga) e mostram-se preparados para o regresso da Champions, a prova onde nem tudo é matemática.